A declamação desse poema da poetisa Regina Bostulim foi plaudido em pé na Festa Literária de Paraty
Ao ser declamado no Sarau Casa de Iaiá, na 16a Festa Literária Internacional de Paraty/Flip, que homenageava era a escritora Hilda Hilst, o poema foi ovacionado em pé pelas escritoras e musicistas presentes.
Nas redes sociais, o poema "bombou", "viralizou", ao ser publicado nas páginas do coletivo feminista "Mulherio das Letras".
Negra, pobre, homossexual - O que diferencia este poema a Marielle, de tantos outros, até mesmo escritos por mulheres? O texto parece ter o dom de emocionar as pessoas, homens e mulheres. Mas são as mulheres que o tornaram famoso. São as escritoras, em especial as que também escreveram e publicaram poemas a Marielle, que mais o elogiam. Como por exemplo as escritoras da antologia "Um girassol nos teus cabelos", que reúne poemas a Marielle. O livro teve lançamento na 16ª Flip de Peraty e na XVI Feira do Livro Editora Ufpr/37ª Semana Literária Sesc, em Curitiba.
Marielle jamais será esquecida.
A saga duma negra, pobre, que se comove com o sofrimento de outras negras, pobres, modificou o mundo. Nada mais justo que Marielle não seja esquecida, como símbolo de luta das mulheres.
Como Malala, Madre Teresa, Lady Di, e tantas outras mulheres que deram suas vidas pelas mais variadas causas. Malala lutou pela educação das mulheres, Madre Teresa lutou para dar direito às mulheres de morrer numa cama e com um copo de água do lado, ao invés de morrer na sarjeta lamacenta e com sede. Lady Di atravessou campos minados, para que mulheres e meninas não tivessem as pernas decepadas ao serem usadas para limpar campos minados.
Marielle lutou por estupradas, e todo tipo de mulheres violadas, como gestantes a morrer em portas de hospitais. Marielle jamais será esquecida, e se um dia sua memória for apagada, ressurgirão milhões de outras Marielles, a lutar pela dignidade humana.
[b]"pobre, negra, homossexual"
(para marielle, a que levou tiros na cabeça)
quando uma mulher se mexe incomoda
quando uma mulher se vira incomoda
imagine uma mulher a se importar
com crianças desvalidas
com vítimas de balas perdidas
com gestantes parindo na porta de hospitais
deve ter incomodado muito mesmo
incomodado os poderes
sejam eles quais forem
institucionalizados
é fácil dizer que ela foi vítima das circunstâncias
e que não haveria outro fim para ela
senão o do martírio
que ela mesma escolheu este caminho
mas sabe
sendo mulher
teria tido o mesmo destino
sendo mãe
também o mesmo destino
- não há segurança -
mas escolher lutar pelos mais fracos
ali ela selou seu destino
incomoda muito tentar fazer o certo
muito mais fácil não fazer nada
se omitir
ela tentou bravamente
mas ainda
falar de abusos policiais é proibido
proibido o amor lésbico
proibida a educação de carenciados
proibidos partos mais humanos a carenciados
quem sabe com mais marielles
ceifam uma surgem outras
a semeadura é aleatória
a colheita implacável
ceifaram uma
virão outras
disto sim tenho a certeza
esta a esperança que me move
(regina bostulim)
#Flip2018 #MulherioNaFlip