Falando de Literatura

O Natal - poema de Jaime Vieira

10 dez 2019 às 07:29

O NATAL

Amparados em meras fantasias
longe do sentido verdadeiro
os adultos sem querer
vão tomando o Natal das crianças...


Lojas infestadas de luzes
ordenam: comprem! comprem!
Crianças de olhos compridos
dilatam seus olhares carentes e cumprem
o que determinam
o seus sonhos inocentes.


Uma nuvem escura que
restou do final da tarde
abotoa uma lua clara
no casaco azul escuro
do firmamento.


Estrelas menores
se agrupam e anunciam
a véspera do natal
e sorridentes esperam
o dia 25 chegar.


E o Menino Salvador do mundo
que está para nascer
se mexe no útero
da terra mãe
desde o amanhecer.
E a humanidade parece que de repente sente
as dores do parto,
sem querer.


Nos cabelos brancos
do velho papai Noel
equilibra-se a certeza
de mais um ano vivido
de mais um plano falido
de mais um dever,
agora cumprido.


No entanto no brilho
dos olhos do Papai Noel
permanece escondida a
profundidade dos grandes enganos:
O Natal já não é o mesmo,
o Natal já não é mais das crianças...


Enfim é Natal,
as pessoas apressadas
que viviam agitadas
se acalmam – se unem
e se perdoam, por nada.


Agora confiantes esperam uma vida melhor
sem diferenças,
sem indiferenças,
sem mágoas,
nem lágrimas...


Quando o manto da noite
cravejado de estrelas cobre a terra,
a criança debruçada na janela, olha para rua
e no alto vê a lua,
imagina e sente
nessa noite envolvente
uma doce esperança
que lhe convida docemente a colocar
os seus sapatos vazios
nas janelas das suas ilusões e novamente
esperar como presente
um Natal diferente
um Natal no seu verdadeiro sentido...


Se possível urgentemente
no coração da criança que ainda sou
e no coração
de toda a gente!

Jaime Vieira
AVIPAF - Cadeira 27


Continue lendo