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O Menino Tímido - Crônica de Isabel Furini

22 dez 2016 às 06:54

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Escultura de Crista Ames -Galeria de Kirkland. - Fotografia de Isabel Furini
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O pai chama o filho e grita:

– Olhe o chão, nada de me encarar. Hoje você vai apanhar!
– Pai, pai, aconteceu que...

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O pai dá um tapa na cara do menino. Zequinha recua. Agora está entre a parede e a mão pesada do pai.

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– Você quebrou essa xícara que a sua mãe havia ganhado no casamento. Essa xícara era cara. Não fazem mais xícaras como essas. Recolha os pedaços do chão, seu sapeca.

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O menino se agacha para recolher os pedaços da xícara e o pai aproveita para dar alguns chutes no traseiro da criança.


– Isso é para aprender! Seja mais cuidadoso!

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No domingo vão a um churrasco. As crianças correm, brincam, fazem artes. Zequinha fica sentado, sabe que se errar, se quebrar alguma coisa, se tiver a má sorte de pisar uma planta, receberá tapas e chutes. Seu pai se aproxima.


– O que foi com você, seu burro?
– Ele é tímido – diz a tia Rosa.
– Pois eu vou tirar a timidez dele, vou dar tantos tapas que não vai ficar nada de timidez nessa cara! Tímido e burro!

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Encara o filho e grita:
– Não sabe brincar com as outras crianças, seu burro?
*


Gostaria de dizer que é uma história inventada, que foi criação de minha imaginação, mas não, gente - lamentavelmente, essa história é real.

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Se os pais não permitem que a criança esclareça, fale e se defenda, como ela vai aprender a se defender na vida? Como aprenderá a argumentar?


E o mais importante, a palavra timidez deriva do latim e quer dizer: aquele que tem medo, receoso.
O Zequinha tem medo. O pior é que a família do Zequinha está acostumada a ver o pai bater no menino. Ninguém reage. Transformam-se em coniventes.

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Isso é problema que pai e filho devem resolver, fala uma mulher com muita autoridade, como quem fala com sabedoria. Mas, como uma criança pode "resolver" problemas com um pai violento. Os adultos fecham os olhos, enquanto o menino apanha. E vamos lembrar-nos de algo importante: timidez não se cura com bordoada.


Os pais "corajosos", esses que batem nos filhos pequenos, geralmente são covardes diante de outras pessoas, diante da sociedade. É preciso denunciá-los. Vamos proteger quem realmente merece e necessita de proteção: a criança!!!

Isabel Furini
***


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