Os pés do menino pousam suavemente
no asfalto ainda abrasado pelo calor do dia.
No lusco fusco, ouve piadas maldosas a respeito
de suas sandálias rústicas, suas roupas estranhas.
Vê velhos, jovens e também crianças nas sarjetas,
cheiros diversos, miséria financeira e moral.
Afasta-se até uma construção grande, periféricamente
Iluminada, nas escadas é barrado:
- Fora fedorento se entrar te arrebento.
Um casal sorridente, perfumado desvia Dele com ar de nojo, sem perceber que
Ele cheira a incenso, Seus pés tem um finíssimo halo
de ouro e em toda
Sua figura um rastro de ungüento - saúde eterna
Acariciando a cabeça de um cachorro de rua, único que
O reconhece e prostrado Lhe lambe as mãos
Observa aquele fragmento da humanidade que célere a pé ou
motorizado, passa em todas as direções, suspira _2016 anos não
foram suficientes para eles.
Sem que ninguém perceba, Ele e o cachorro desaparecem.
Feeeliz natal!
Sonia Cardoso - é poetisa e romancista.