Araceli Otamendi é escritora e jornalista argentina, dirige há vinte e dois anos ininterruptamente as revistas culturais digitais Archivos del Sur e Barco de papel. Publicou os romances policiais Pájaros Sob a Pele e a Cerveja – Prêmio Fundação El Libro para novos escritores (1994) e Estranhos na Noite de Iemanjá (2013). Em 2000, sua antologia de escritores latino-americanos Imagens de Nova York foi apresentada no Centro Rey Juan Carlos I da NYU, Nova York.
Fu Man Chu - o mágico - Conto
Quando eu era criança fui ver Fu Man Chú, levei minha irmã, viajamos de trem de Quilmes para Buenos Aires.
Depois pegamos o metrô em Constitución em direção ao centro.
Pela primeira vez vi um mágico em ação.
O mágico fez mais truques, alguns com cartas: mostrava os naipes entre os dedos, misturvá-los, adivinhava sempre a carta escolhida por alguém.
Também teve lenços, muitos lenços coloridos.
Mas o número mágico que mais me impactou foi aquele da mulher em quem o homem atirava facas.
Ela estava quieta, imóvel em uma superfície reta enquanto o homem lançava facas na sua direção, sem machucá-la.
Como essa mulher permaneceu intacta depois disso? Eu me perguntava.
Eu não sabia que as palavras podem causar mais dano que as facas.
Uma mulher entrou em uma caixa e ele a cortou pela metade. Pouco depois a mulher saiu da caixa intacta.
Isso era magia? Quantas machucados e mutilações uma mulher poderia sofrer e sair intacta?
As mutilações foram apenas físicas?
Eu continuo me perguntando.
Araceli Otamendi
Poeta e escritora argentina.
Conto traduzido do espanhol.