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Agora somos reais! - por Flavia Quintanilha

30 jul 2020 às 08:36

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Agora somos reais!

Passamos dia após dia tentando moldar o amanhã. É uma energia imensurável dispensada a se ter algo que pensamos ser o que queremos. Esperamos resultados de tudo o que nem mesmo nos empenhamos. Isso em todas as relações – familiares, de trabalho, afetivas – estamos todo o tempo antecipando algo impossível de se saber, o que nos gera muito sofrimento.

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Todo dia há sempre algo que buscamos, como se aquele dia fosse o momento a se resolver toda a existência. Esperamos reconhecimento sem olhar para o momento, o presente. Desejamos estabilidade sem nos concentrarmos no agora. Antecipamos um término sem mesmo ter oferecido nosso melhor no amor. Assim nos transformamos em eternos insatisfeitos.

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Esquecemos de viver. Jostein Gaarder diz em seu livro O pássaro raro que somos os primeiros e os últimos, não havendo enigma entre nós, pois o todo é um emaranhado de encontros casuais. Tudo já estava aqui quando chegamos, e permanecerá após partirmos. O eterno, o tempo. Tudo corre da maneira que tem que correr e nunca teremos o poder de dominar o que acontecerá, tampouco forjaremos a resposta futura. Temos apenas a expectativa de esperar aquilo que achamos ser o conveniente.

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Essa ânsia de dominar o futuro, de direcionar os acontecimentos, de tentar saber o que vai ou não acontecer nos tornamos prisioneiros. E por não ser o resultado como delimitamos, vivemos a decepção diária de nunca termos o que esperamos.


Viver o agora não se limita em saber onde estamos ou o que queremos. É atravessar o dia em seu avesso, o mais profundo possível. Como as "nuvens atravessam o céu. Como os insetos zunem no ar”. É entregar-se para e na realidade

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Agora o mundo é aqui.


Flavia Quintanilha


Flavia Quintanilha é poeta, filósofa e terapeuta pelo Instituto Bach da Inglaterra. Membro colaborador no Instituto de Estudos Filosóficos na Universidade de Coimbra, editora associada na revista Philosophy International Journal.


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