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Saúde da mulher

Tempo para início de tratamento de câncer de mama é 3 vezes maior que o previsto em legislação

Luana Lisboa - Folhapress
09 abr 2024 às 13:15

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O tempo médio para o início do tratamento de câncer de mama no SUS (Sistema Único de Saúde) é quase o triplo do período previsto pela Lei dos 60 Dias (Lei nº 12.732/2012), aponta estudo realizado pelo Instituto Avon.

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A pesquisa identificou uma média de 179 dias entre o diagnóstico e o início do tratamento entre 2015 e 2021. A legislação garante que pacientes tenham direito ao tratamento em, no máximo, 60 dias após terem o diagnóstico confirmado por biópsia.

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Os dados foram levantados pelo Panorama do Câncer de Mama com base em informações do DataSUS. Além do Instituto Avon, participaram da pesquisa especialistas do Observatório de Oncologia.


Pelo menos 62% das pacientes diagnosticadas ultrapassaram o período dos 60 dias. O ano com o maior tempo médio para início dos cuidados foi 2021, correspondente a 218 dias. O período de 60 dias é um prazo que dá segurança para que o tratamento possa ser iniciado de maneira adequada.

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O relatório mostra ainda que quanto maior a faixa etária da paciente, maior o atraso para início do tratamento. Enquanto mulheres diagnosticadas com câncer de mama entre 20 e 29 anos levaram, em média, 110 dias para iniciarem os cuidados, pacientes entre 50 e 59 anos levaram 182 dias. Para a faixa dos 60 a 69 anos, o tempo médio foi de 201 dias.


O diagnóstico tardio e um tratamento atrasado podem acarretar no avanço da doença e em menores chances de cura.

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"Às vezes, uma paciente com diagnóstico precoce, que conseguiríamos fazer uma cirurgia preservando a mama, se o tumor aumentar de tamanho, a mulher pode ter que ser submetida a uma cirurgia mais radical, como a mastectomia [cirurgia de remoção completa da mama], gerando um prejuízo maior", diz a mastologista Juliana Francisco, membro da SBM (Sociedade Brasileira de Mastologia) e revisora do estudo.


O estudo aponta que casos mais graves -de acordo com o estágio da doença- não têm prioridade no tratamento. Os oncologistas analisam o estágio -ou estadiamento- do câncer para determinar a localização e a extensão do tumor no paciente no momento do diagnóstico.

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Para os casos de câncer de mama em estadiamento 1, a média entre a detecção e o início de tratamento foi 144 dias, seguida de 151 para pacientes em estadiamento 2, 174 para estadiamento 3, e 313 dias para estadiamento 4 (avançado).


"Isso caracteriza um grave problema no acesso ao tratamento por parte das usuárias do SUS, tendo em vista que nenhum dos estadiamentos alcançou a média de dias dentro do preconizado pela lei", diz o relatório.

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Nesta segunda-feira (8), a ministra da Saúde, Nísia Trindade, admitiu que há uma demora no início do tratamento para câncer no país e diz querer iniciar o tratamento com até 60 dias após o diagnóstico. A meta faz parte do Programa Mais Especialistas, lançado hoje, em evento com o presidente Lula (PT).


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ACESSO À MAMOGRAFIA

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A pesquisa ainda apontou que há uma desigualdade no acesso aos exames de mamografia. Existem atualmente programas do governo para a chamada mamografia de rastreio, que é feito em mulheres acima de uma determinada idade para detectar precocemente o tumor, e a diagnóstica, motivada por alguma alteração, sinal de lesão ou sintoma, como um caroço, ondulação ou alteração na cor da pele.


De acordo com o relatório, entre 2015 e 2022, 52,4% das mamografias para rastreio de câncer de mama foram feitas em mulheres brancas, enquanto 28,5% foram em mulheres pardas e apenas 5,8% em mulheres pretas. Mulheres amarelas representam 13,4% dos exames e indígenas, apenas 0,1%.


"Já tem alguns estudos que mostram que as mulheres negras acabam tendo mais dificuldade de acesso a exames, ao diagnóstico e ao tratamento, muitas vezes por dificuldade de deslocamento do seu município ou até um centro que faça o exame de rastreamento, ou por dificuldade de manter um hábito de vida saudável que reduza o risco do câncer de mama", afirma Francisco.


Os exames de rastreio são a forma de detectar a doença antes do início dos sintomas. No SUS, a mamografia só é indicada para mulheres de 50 a 69 anos, uma vez a cada dois anos. O rastreamento antes dessa idade é mais raro.


A indicação corrobora com dados apontados pelo relatório, que dizem que pacientes que se enquadram abaixo dessas idades são diagnosticadas, em maior quantidade, em estágios avançados do câncer de mama: enquanto as pessoas entre 50 e 69 anos tiveram estágio avançado em 35,3% dos casos entre 2015 e 2021, o mesmo aconteceu com 39,6% das mulheres entre 40 e 49 anos e com 53,9% das que tinham entre 20 e 29 anos.


Entre 2015 e 2022, mais de 18 milhões de mamografias de rastreio em mulheres de 50 a 69 anos foram feitos pelo SUS. A cobertura mamográfica, no entanto, caiu de 26,3% para 20,5%. O recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) é que haja 70% de cobertura no país.


A redução de exames de rastreamento pode estar conectada a um aumento de diagnósticos avançados. A cobertura atingiu a maior baixa no biênio 2019-2020 (18,4%), o que o relatório atribui ao impacto da pandemia da Covid.


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