O CFM (Conselho Federal de Medicina) negou a existência de estudos que associem a vacinação contra a Covid ao desenvolvimento da Aids, diferentemente do que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) divulgou em uma transmissão ao vivo na última quinta-feira (21). A entidade não citou, porém, o mandatário em sua manifestação.
Em nota divulgada nesta segunda-feira (25), o conselho afirma que tomou conhecimento da associação por meio de "matérias publicadas pela imprensa" e que "desconhece a existência de estudos científicos válidos que associem a imunização ao surgimento da síndrome de imunodeficiência humana adquirida [Aids]".
Em sua última live semanal, Bolsonaro leu uma suposta notícia alertando que as pessoas imunizadas contra a Covid estariam desenvolvendo a síndrome. Na noite de domingo (24), o Facebook e o Instagram derrubaram o vídeo.
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A oposição ao governo -bancada do PSOL e o deputado Túlio Gadêlha (PDT-PE)- protocolaram nesta segunda-feira (25) uma notícia-crime contra o presidente por ter feito essa associação.
Na nota, o CFM declarou que a população deve levar em consideração as recomendações das autoridades sanitárias sobre o tema. A entidade orienta os brasileiros a manterem a rotina de uso de máscaras, álcool 70% e distanciamento social.
"O Conselho Federal de Medicina (CFM) apoia a realização de ampla campanha de vacinação contra a Covid-19, o que tem se mostrado, até o momento, como meio eficaz de conter o avanço da epidemia e o agravamento do quadro clínico de infectados."
Em abril de 2020, o conselho publicou um parecer no qual citou o uso de hidroxicloroquina e cloroquina para o tratamento da Covid-19, mesmo sem evidências científicas da eficácia dos medicamentos contra a doença.
No documento, a entidade reconheceu a falta de estudos sobre o tema, mas recomendou a administração dos fármacos em pacientes com sintomas leves, pacientes com sintomas importantes, com ou sem recomendação de internação, e pacientes críticos na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) com uso de ventilação mecânica.
Seis meses depois, em janeiro de 2021, o presidente do conselho, Mauro Luiz de Britto Ribeiro, defendeu em artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo que "a ciência ainda não concluiu de maneira definitiva se existe algum benefício ou não com o uso desses fármacos".
O uso desses medicamentos é defendido por Bolsonaro desde o início da pandemia.
Médicos e cientistas afirmam que a associação do imunizante contra o coronavírus e a transmissão do HIV é falsa, inexistente e absurda.
A notícia falsa usada pelo presidente foi publicada em ao menos dois sites, Stylo Urbano e Coletividade Evolutiva. Sem qualquer prova ou evidência científica, os textos afirmam que as pessoas estão perdendo a capacidade do sistema imunológico ao longo das semanas após completarem o esquema vacinal.
As páginas afirmam se apoiar em dados do governo britânico, mas o relatório oficial do Departamento de Saúde Pública do Reino Unido citado pelos sites, não menciona a transmissão do HIV em nenhum momento.
A SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) também desmentiu a associação entre a vacina e a síndrome de imunodeficiência humana adquirida. O presidente também não foi mencionado em sua manifestação.
A instituição lembrou que as pessoas que vivem com HIV devem ser imunizadas contra a Covid e que a dose de reforço já está liberada para aqueles que receberam a segunda dose há mais de 28 dias.
O Comitê Extraordinário de Monitoramento da Covid da Associação Médica Brasileira também negou a existência de qualquer ligação entre a vacina contra o coronavírus e a Aids. Na manifestação do grupo, Bolsonaro não foi nominalmente mencionado, mas suas falas diminuindo a gravidade da doença, sim.
"Foi plantada a irresponsável e mentirosa notícia de que o uso das vacinas contra o vírus estaria levando à Aids. Algo despropositado, diametralmente oposto ao comprovado cientificamente e já desmentido por respeitáveis sociedades de especialidades médicas do país", afirmou, em nota.
A SPI (Sociedade Paulista de Infectologia) também salientou que as notícias veiculadas pelo presidente em sua live são falsas, uma vez que não há evidência científica que sustente suas afirmações.
"O próprio Ministério da Saúde do Brasil, em sintonia com as recomendações internacionais, orienta que pessoas vivendo com HIV (PVHIV) recebam o esquema vacinal básico contra covid-19, independente da contagem de células CD4+", declarou.