A Justiça do Paraná determinou o afastamento da diretoria do Hospital Metropolitano de Sarandi, na Região Metropolitana de Maringá, por má gestão dos recursos. Os problemas no hospital teriam começado no ano passado, quando a instituição beneficente estava sob o comando dos fundadores, mas se agravou após a venda para o atual grupo, em abril de 2024. A reportagem não conseguiu contato com os diretores afastados.
O promotor de Justiça Ivandeci José Cabral Junior explicou que o hospital estava em crise já há cerca de um ano, com a redução de serviços e fechamento de algumas alas, como pediatria e ginecologia. Por conta da situação, o hospital, que é filantrópico, mas tem suas operações realizadas pelo SUS (Sistema Único de Saúde), através de um contrato com a Sesa (Secretaria da Saúde), foi vendido para outro grupo. A situação do hospital teria piorado ainda mais com a venda, segundo o promotor, em abril deste ano.
“O hospital passou a não conseguir mais efetivar os pagamentos dos funcionários, tanto dos médicos quanto de outros colaboradores”, explica, complementando que havia uma ameaça de greve, que seria deflagrada já neste final de semana. Sem outra alternativa, o promotor aponta que a ação foi ajuizada para que os atendimentos não “entrassem em colapso”. Em média, 30% dos atendimentos na 15ª Regional de Saúde, de Maringá, são realizados no Hospital Metropolitano. “A ausência dele acabaria impactando severamente as transferências do Sistema Único de Saúde”, explica.
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Diante da situação, a decisão da juíza Ketbi Astir José foi a de afastar toda a diretoria do Hospital Metropolitano de Sarandi e colocar a Sesa como responsável momentânea pela administração da instituição. O promotor reforça que a interdição não tem prazo determinado para ser revogada. “Ela vai persistir enquanto for necessário para buscar a recuperação da entidade e a prestação do serviço de saúde à população”, afirma. No caso de descumprimento, foi definida a multa diária no valor de R$ 50 mil a cada um dos membros da diretoria.
Advogado que representa as famílias dos fundadores do Hospital Metropolitano, Éder Fabrilo Rosa explica que a promessa do grupo era de regularizar as contas e de aportar recursos para dar continuidade aos atendimentos. Após a venda ser formalizada em abril, o contrato foi cumprido apenas de maneira parcial. Além da incapacidade de gestão do grupo, o advogado aponta que foram encontrados indícios de má-fé por parte da administração, como uma nota de compra de carne no valor de R$ 500 mil para cerca de três meses. Segundo ele, o consumo de alimentos durante todo o ano de 2023 ficou na casa dos R$ 400 mil.
Rosa pontua que os fundadores, que são médicos, e suas famílias estão preocupados com a repercussão do caso, assim como com a qualidade do serviço médico prestado à sociedade. “Eles estão aflitos porque esse é o trabalho de uma vida toda, de gerações”, garante o advogado.
A Comissão de Saúde da Alep (Assembleia Legislativa do Paraná) realizou uma audiência pública na Câmara dos Vereadores de Sarandi na quinta-feira (31) para debater a situação do hospital. A reportagem tentou contato com a 15ª Regional de Saúde e com a Sesa para entender os pontos abordados, mas não obteve retorno até o fechamento do material. Apesar disso, funcionários disseram à FOLHA que as portas de entrada do hospital foram interditadas após a reunião e que acreditam que o restante dos pacientes que permanecem internados deveriam ser transferidos para outras unidades da região. Grande parte dos colaboradores também não estaria mais trabalhando já na quinta-feira.
A respeito do interventor, como exigido pela Justiça, a Sesa garantiu que o diretor-geral corporativo da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba assumiu o posto. A escolha, segundo a pasta, foi baseada na vasta experiência e na já demonstrada capacidade técnica do gestor. “A Sesa reforça que irá apoiar a medida de intervenção em todos os meios possíveis, a fim de garantir à população um serviço de saúde seguro e eficaz”, aponta.
A pasta ainda detalhou que intensificou o apoio à unidade nas últimas semanas, principalmente através da implementação de um plano de contingência para redirecionar o fluxo de atendimento dos pacientes. Ao menos 42 pacientes já teriam sido transferidos para a rede hospitalar da região. “É válido considerar que o Hospital Metropolitano de Sarandi é uma unidade de caráter filantrópico privada, não integrando o quadro de unidades geridas pela Sesa, embora seja contratualizada para disponibilizar atendimento SUS”, ressalta.
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