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No Brasil

Uso de canabidiol para tratar dependência de crack é melhor do que remédios convencionais, diz estudo

Cláudia Collucci - Folhapress
12 abr 2024 às 22:00

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- Pixabay
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Um estudo pioneiro no Brasil demonstrou que o tratamento de usuários de crack com canabidiol (CDB) tem melhores resultados na redução da dependência e de efeitos adversos em relação aos medicamentos convencionais usados nos Caps AD (Centros Psicossociais de Álcool e Drogas).

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Realizado pela UnB (Universidade de Brasília) e publicado na revista científica International Journal Mental Health and Addiction, o trabalho envolveu 73 usuários que foram alocados aleatoriamente (por sorteio) em um dos dois grupos (37 no grupo de controle e 36 no grupo CBD). Inicialmente, foram 90 selecionados, mas 17 acabaram excluídos porque não retornaram.

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O grupo controle foi tratado com os remédios convencionais usados na dependência do crack. São eles: fluoxetina (antidepressivo), ácido valproico (estabilizador de humor) e clonazepam (ansiolítico) e um óleo placebo para simular o CDB.


O grupo CBD recebeu um óleo de CBD (50 mg/ml de CBD), sem THC (tetra-hidrocanabinol, que é um dos principais componentes psicoativos da planta), e três comprimidos placebo, que simulavam os medicamentos tradicionais.

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Esse tipo de estudo é chamado de duplo-cego, ou seja, quem recebeu os medicamentos não sabia o que estava recebendo e que os profissionais que faziam as intervenções também não sabiam se estavam tratando pacientes do grupo controle ou do CBD.


Esse conjunto de cuidados é para evitar o chamado viés, por exemplo, o participante ou o pesquisador que está atendendo alguém do grupo de interesse, no caso o CBD, pode fazer intervenções melhores, mais dedicadas do que com os pacientes do grupo controle e, assim, favorecer os resultados de forma falsa.

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Os participantes compareceram uma vez por semana, durante dez semanas, para receber um kit de medicação, responder aos questionários sobre uso de crack e de outras drogas, passar por uma equipe psicossocial e pelo médico, além de fazer o teste toxicológico de urina, que foi analisado pelo Instituto de Criminalística da Polícia Civil do Distrito Federal.


Segundo Andrea Gallassi, professora associada da UnB e coordenadora do estudo, o objetivo foi realizar um ensaio clínico fora do ambiente hospitalar, para reproduzir a situação de vida real de muitos dependentes de crack, que vivem em condições precárias e uso de múltiplas drogas.

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"Embora a maioria do público usuário de crack seja mais vulnerável, vive nas ruas, nós também tivemos participantes da pesquisa com renda alta e também sofrendo com a dependência de crack", conta a pesquisadora.


Entre os participantes havia dois servidores públicos acima de 60 anos. "São pessoas que, devido à alta renda, não estão em situação marginalizada, mas causam os mesmos problemas. Usam muita droga, se colocam em risco, as famílias têm que buscar nos locais de fluxo etc."

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De acordo com Galassi, os resultados mostram que o CBD pode atenuar os sintomas primários relatados pelos participantes, como falta de apetite, dificuldade em reduzir o uso de crack e a sensação de saúde debilitada.


O grupo CBD também apresentou melhores resultados na redução do uso do crack e menos eventos adversos em comparação com o grupo controle.

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Esses efeitos colaterais dos psicotrópicos tradicionais, como constipação, náusea, tontura, diarreia, problemas de memória, baixa concentração e visão turva, podem ser ainda mais acentuados em pessoas com dependência de crack devido à dosagem excessiva e à combinação desses medicamentos.


"Eles são vistos como pacientes que têm problemas com uma droga pesada demais e, portanto, precisam ser supermedicados", explica a pesquisadora.


Segundo estudos, esses eventos adversos contribuem para a baixa adesão ao tratamento de dependentes de crack nos serviços de saúde. "Isso, associado aos resultados promissores do estudo, favorecem o amplo acesso ao CBD, inclusive como terapia adjuvante [associada a outros medicamentos]."


O estado de São Paulo deve começar a usar o extrato de canabidiol no SUS em maio, mas não há previsão de uso nos casos de dependência química. O medicamento será destinado a pacientes de três condições de saúde raras: síndrome de Dravet, síndrome de Lennox-Gasteau e complexo da esclerose tuberosa.


O estudo da UnB contou com o financiamento da FAPDF (Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal) e foi o primeiro a receber autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para importar canabidiol para fins de pesquisa científica.


"O esforço foi enorme. Muitas reuniões com a Anvisa, muitas explicações, documentos entregues para receber a autorização de importação e para a liberação da carga [por se tratar de substância proibida]. Foram dois anos de negociação."


A pandemia da Covid e as atividades presenciais acadêmicas suspensas por mais de um ano foram outro entrave. Em 2021, a pesquisa sofreu mais um revés, após o Ministério da Saúde não autorizar o recebimento de emenda parlamentar da deputada Érika Kokay (PT/DF) para continuar o financiamento do estudo. Fora alegadas questões técnicas para o veto.


"Essa não-autorização por parte do ministério foi uma clara e evidente censura à pesquisa, considerando que o uso de cannabis medicinal conflitava com a orientação ideológica do governo de Jair Bolsonaro", diz Galassi.


Esse impeditivo resultou em uma ação judicial contra o Ministério da Saúde, que segue em tramitação. "Mesmo com todos os desafios colocados, a pesquisa foi finalizada com o pleno apoio da UnB, com a dedicação incondicional da equipe, e com todo o êxito e rigor que um ensaio clínico requer", diz a pesquisadora.


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