Mais uma vez o Paraná fecha o primeiro semestre comemorando excelentes resultados na área de transplantes de órgãos. O número de doações concretizadas já é 28% maior do que no mesmo período do ano passado. Isso permitiu que o Estado também batesse o recorde no número de transplantes, garantindo uma nova vida a 283 paranaenses.
Um dos beneficiados com um transplante em 2016 foi o pequeno Rafael Ribeiro, de dois anos de idade. Diagnosticado com uma grave doença cardíaca, sua única alternativa era o transplante de coração. "Os médicos disseram que não havia perspectiva de cura. Nossa última esperança era que encontrassem um coração compatível, algo raro por se tratar de uma criança", conta o pai Israel Veríssimo.
Rafael ficou três meses no cadastro de receptores do Sistema Estadual de Transplantes do Paraná. "Foi uma espera muito angustiante. O tempo passava e o quadro clínico dele só piorava", lembra a mãe Rosineia Ribeiro. "Até que na madrugada de uma segunda-feira recebemos uma mensagem, haviam encontrado um órgão compatível. Foi a melhor notícia que poderíamos receber", complementa o pai.
O transplante de Rafael foi um sucesso. A cirurgia aconteceu no dia 11 de abril, no Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, referência no atendimento infantil pela rede pública de saúde. Três meses após o procedimento, o menino se recupera bem, recebeu alta do hospital e vive com os pais na Capital.
"Ele lutou muito para sobreviver e hoje é uma nova criança. Dá para ver no olhar, no sorriso que ele está feliz. Não pode ver uma bola que já quer logo brincar. Finalmente somos uma família completa", afirma a mãe, emocionada por ter o filho em casa.
Histórias como a do menino Rafael estão cada vez mais frequentes no Estado. A solidariedade dos paranaenses tem feito com que a fila de espera por um órgão venha ficando menor a cada ano. O cadastro, que já chegou a ter mais de 2.500 pessoas, hoje tem 1.952 pacientes à espera por um coração, fígado, rim ou pâncreas.
O curitibano Nilson José Dybas, de 43 anos, fazia parte desta lista em 2015. Com problemas no fígado, que depois também atingiram o rim, o representante comercial viveu três meses de idas e vindas ao hospital. "Meu fígado e meu rim funcionavam com apenas 20% da capacidade. Os médicos disseram que eu tinha pouco tempo de vida. Foi um momento muito difícil, que felizmente durou pouco tempo. Fiquei apenas 35 dias na fila", explicou.
Pela gravidade do caso e pelo seu tipo sanguíneo raro (AB+), Dybas foi priorizado na procura de órgãos. O transplante foi feito no dia 16 de setembro e correu tudo bem. "Minha recuperação surpreendeu até os médicos. Em pouco tempo voltei a trabalhar e já estou liberado inclusive para praticar atividades físicas", comemora o curitibano, que toma 12 medicamentos por dia para evitar que o organismo rejeite o órgão.
O representante comercial conta ainda que iniciou uma campanha para chamar a atenção de seus familiares, amigos e clientes sobre a importância da doação de órgãos. "Só quem passou por uma experiência dessa sabe o quanto este gesto é importante para salvar vidas. Nós, transplantados, seremos eternamente gratos às famílias que autorizaram a doação de seus entes queridos falecidos e permitiram que tivéssemos uma nova chance", afirmou.
Segundo a diretora do Sistema Estadual de Transplantes do Paraná, Arlene Badoch, para se tornar um doador de órgãos basta que a pessoa expresse o seu desejo à família. "Não precisa deixar nada por escrito. É a família que autoriza a doação após ser declarada a morte encefálica", diz.
Agilidade
Dados da Secretaria Estadual da Saúde apontam que neste primeiro semestre foram registradas 159 doações de órgãos, viabilizando um total de 302 transplantes. Além dos órgãos captados no Paraná, foram utilizados corações, rins, fígados e pâncreas de outros Estados graças ao uso da frota aérea do governo estadual.
Assim que assumiu o mandato, em 2011, o governador Beto Richa determinou que todas as aeronaves do governo estadual passassem a dar prioridade absoluta ao atendimento a pessoas em situação de urgência e emergência, a transporte de órgãos para transplantes e ao resgate de vítimas de acidentes naturais, automobilísticos e domésticos. De lá pra cá, 4.478 atendimentos foram realizados.
Baseando-se na experiência paranaense, o governo federal também adotou estratégia semelhante há pouco mais de um mês. Por determinação do presidente interino Michel Temer, a Força Aérea Brasileira (FAB) agora também dispõe de um avião permanente para o transporte de órgãos e tecidos para transplante em todo o território nacional.
Falta de informação
Neste primeiro semestre, a cada quatro notificações de potenciais doadores, uma não se concretizou por conta da negativa familiar. Em muitas vezes, a recusa foi motivada pela falta de informação sobre o desejo do paciente em se tornar doador após a confirmação da morte encefálica.
Para reverter este quadro, há a campanha "Fale Sobre Isso", que incentiva as pessoas a se declarem doadoras de órgãos às suas famílias. "Para isso, contamos com o apoio de diversas empresas e instituições parceiras para fomentar a discussão do tema na sociedade. Só através da informação vamos avançar ainda mais na área de transplantes", explica o secretário estadual da Saúde em exercício, Sezifredo Paz.
Segundo ele, a recente reorganização do Sistema Estadual de Transplantes fez com que o Estado se tornasse modelo no setor. "Hoje os serviços do Paraná trabalham em rede, o que facilita o andamento de todo o processo, desde a captação até o transplante. A capacitação das equipes dos hospitais, das regionais e até mesmo da Central, aqui em Curitiba, nos colocaram em um patamar de excelência na área de transplantes", declarou Sezifredo.