O Ministério da Saúde alertou ontem (1º) para a necessidade de melhora na identificação, notificação e diagnóstico da difteria. A doença, de transmissível aguda, é causada por bactéria que se aloja nas amídalas, faringe, laringe e nariz e pode ser prevenida com vacina disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). A pasta também reforçou a importância da imunização na infância e adolescência e dos reforços das doses ao longo de toda a vida.
De acordo com o ministério, o número de casos registra tendência de queda nos últimos anos, por causa das altas coberturas vacinais. Neste ano, porém, foram registrados 27 doentes, com 6 mortes, todas no Maranhão - Estado onde cerca de 32% das cidades registram menos de 95% de cobertura vacinal, patamar considerado ideal, segundo a pasta. No ano passado, apenas seis casos tinham sido registrados, sem nenhum óbito. Em 1990, o País chegou a ter 640 casos. Segundo nota técnica do ministério, "apesar da intensificação das ações de vacinação, a difteria permanece ocorrendo em diversos países do mundo (...) incluindo o Brasil".
A pasta destacou que neste ano a maioria dos casos tem sido causada pelo tipo intermedius da bactéria, que, segundo infectologistas ouvidos, é considerado o mais invasivo.
Ainda segundo informações do ministério, tem ocorrido mudança no perfil clínico-epidemiológico da doença, como quadros em que há ausência da formação de um tipo de membrana na garganta que caracteriza a difteria e registros de endocardite (infecção que atinge o coração), pneumonias e osteomielite (infecção óssea).
Além disso, a faixa etária de ocorrência dos casos tem se deslocado da infância para a idade adulta.
Vacina
A vacina contra a difteria na infância compõe o imunizante chamado DPT, que protege também contra coqueluche e tétano. Segundo calendário de vacinação da criança do SUS, ela deve ser aplicada em três doses, com dois reforços, a partir dos 2 meses de idade, com a última aplicação até os 6 anos. Na adolescência (a partir dos 11 anos) são necessárias outras três doses. E, depois, reforços a cada dez anos, por toda a vida, usando uma vacina que é conjugada com a do tétano e deve ser tomada na mesma frequência.
"O problema é que todo mundo esquece. Os médicos também. E isso ocorre no mundo inteiro", afirmou o infectologista Arthur Timmerman, do Hospital Heliópolis. "Em crianças, a placa que se forma na garganta em razão das toxinas produzidas pela bactéria pode levar ao sufocamento. No adulto é diferente. Pode haver até mesmo comprometimento ósseo e cardíaco", afirmou o especialista. "A vacina está disponível, é baratíssima, muito simples. Para mim é uma falta grave o registro de um caso de difteria."
"É preciso verificar a faixa etária dos casos, se houve vacinação dessas pessoas e se a vacina era boa e estava bem armazenada", disse a infectologista Marinella Della Negra, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
A reportagem contatou o secretário da Saúde do Maranhão, José Soares Leite, em sua casa no fim noite de ontem. Ele informou desconhecer os casos e disse que verificaria a situação.
Em nota, o ministério destacou que há vacina suficiente e disse ter informado as secretarias da saúde em agosto sobre o problema. A pasta não respondeu ontem sobre possível estratégia de reforço da vacinação no País.