Um dia depois de o país ultrapassar a marca de 400 mil mortes pelo coronavírus, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga fez um apelo para que outras nações compartilhem as suas doses extras da vacina contra a Covid-19 ao Brasil.
O pedido de Queiroga ocorreu nesta sexta-feira (30), na coletiva de imprensa da OMS (Organização Mundial de Saúde) que analisou as consequências da pandemia nas Américas.
A ajuda internacional seria fundamental, segundo Queiroga, para o país "avançar na sua ampla campanha de vacinação" e conter "a proliferação de novas linhagens e variantes do vírus".
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Queiroga, no entanto, não abordou em sua fala as 400 mil mortes registradas nesta quinta-feira (29) pelo Brasil –o segundo país, depois dos Estados Unidos, a bater esse número de óbitos na pandemia.
Coube ao diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, o registro das 400 mil vidas perdidas para a Covid-19. Ele enfatizou que a pandemia pode recrudescer os avanços obtidos pela saúde pública brasileira dos últimos 30 anos.
"O Brasil tem uma longa e orgulhosa história da saúde pública, com três décadas de investimento no fortalecimento da saúde primária e progresso em relação à cobertura universal de saúde. Mas a pandemia atingiu o sistema de saúde do Brasil em cheio, e arriscamos perder essas conquistas", disse o diretor da OMS.
Quarto ministro da Saúde do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), Queiroga tem um discurso mais modulado, em que reafirma seu apreço à ciência, mas ainda não promoveu grandes mudanças na gestão da pandemia.
Na OMS, o ministro disse que, desde que assumiu o cargo, vem buscando soluções para acelerar a vacinação da população e ampliar as orientações sobre as medidas profiláticas contra o coronavírus já confirmadas pela ciência.
"Eu me comprometi com a aceleração da vacinação e busquei orientar a população brasileira, de maneira clara e objetiva, sobre as medidas não farmacológicas cientificamente comprovadas: uso de máscara, lavagem das mãos e respeito ao distanciamento social", afirmou.
Até esta quinta-feira, o país havia aplicado a primeira dose contra a Covid-19 em 14,74% da população; outros 7,15% receberam a segunda dose, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa.
Queiroga afirmou ainda que o Ministério da Saúde deve, muito em breve, assinar um contrato com a Pfizer para adquirir mais de 100 milhões de doses de vacina. Na noite desta quinta, o primeiro lote do imunizante desembarcou no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP), com 1 milhão de doses, o que corresponde a 1% do total previsto.
O ministro esteve presente no aeroporto durante a entrega do primeiro lote, exaltou o esforço e o empenho do governo Bolsonaro em trazer as vacinas ao Brasil, mas não mencionou o fato de a atual gestão ter recusado as sucessivas ofertas da Pfizer ainda em 2020.
Além de dizer que o país possui doses suficientes para o segundo semestre, apesar de registros de falta de vacina em várias partes do país, o ministro ainda divulgou uma meta. "É possível garantir que até o fim de 2021 tenhamos a nossa população inteiramente vacinada", disse.
De acordo com o painel Monitora Covid-19, da Fiocruz, mantendo-se o atual ritmo de vacinação, serão necessários mais 1.694 dias para que toda a população maior de 18 anos do país receba as duas doses do imunizante. Ou seja, apenas em 2023 a população que precisa ser vacinada neste ano terá de fato recebido as duas doses.
Pesquisa Datafolha, de março, também mostrou que 76% dos brasileiros achavam que a vacinação brasileira contra a Covid-19 estava mais lenta do que deveria.
Na OMS, Queiroga também exaltou o trabalho da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Butantan que, segundo ele, vem produzindo "a totalidade das vacinas usadas hoje na imunização dos brasileiros contra a Covid-19".
Envasada no Butantan, a Coronavac teve a sua eficácia colocada em dúvida pelo presidente Bolsonaro por causa de sua origem chinesa (algo que o ministro Paulo Guedes ecoou nesta semana) e, por causa dela, travou uma guerra com o governador João Doria (PSDB), seu ex-aliado de palanque que adquiriu o produto.
Queiroga também aproveitou o encontro da OMS para falar sobre a quebra de patentes das vacinas contra a Covid-19. "Entendemos que a imunização deve ser considerada um bem global".
O diretor-geral da OMS enfatizou que os olhos do mundo estão hoje direcionados à Índia, país que enfrenta uma escalada de casos e óbitos de Covid-19 inédita na pandemia, mas que outras nações, a exemplo do Brasil, ainda estão vivendo uma transmissão preocupante.
O representante da Organização Mundial de Saúde lembrou que o Brasil sofreu uma crise aguda de casos, internações e óbitos principalmente entre a população mais jovem. "Os casos agora diminuíram por quatro semanas seguidas, hospitalizações e mortes também. São boas notícias, esperamos que continuem", afirmou.
Tedros Adhanom Ghebreyesus afirmou ainda que o Brasil fez um bom trabalho nas áreas de detecção precoce da doença, telemonitoramento de casos e ao priorizar a vacinação dos profissionais da saúde, dos povos indígenas e das pessoas mais velhas.
E deixou um alerta: "A pandemia nos ensinou que nenhum país pode baixar a guarda".