O governador João Doria (PSDB) deve anunciar nesta quarta-feira (9) o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em ruas e outros ambientes abertos no estado de São Paulo. Apesar de locais abertos bem ventilados serem muito mais seguros, com pequeno risco de contaminação por Covid-19, algumas situações específicas merecem um pouco de atenção. São elas, basicamente: espaços com aglomeração e contatos prolongados próximos, face a face.
A flexibilização de uso de máscaras em locais abertos, no momento, faz sentido, considerando que a situação pandêmica do Brasil, após um recrudescimento no início de 2022, vem apresentando melhoras, afirmam especialistas ouvidos pela reportagem.
Vitor Mori, físico pesquisador na Universidade de Vermont (EUA) e membro do Observatório Covid-19 BR, diz ser até surpreendente o Brasil ter demorado, em geral, para liberar a máscara em ambientes abertos, algo que foi feito já há algum tempo em outros países.
CARA A CARA
Um risco menor ao ar livre não significa risco zero.
Raquel Stucchi, professora da Unicamp e consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), relembra que, em ambientes abertos, sempre houve uma exigência menor quanto ao uso de máscara. É comum tanto na rua como em parques ver inúmeras pessoas sem a proteção facial.
Mori aponta que interações próximas cara a cara (com as caras sem máscara) por longos períodos oferecem um risco maior mesmo ao ar livre. Dessa forma, esse tipo de contato merece um pouco mais de atenção.
O pesquisador diz que a flexibilização para ambientes abertos deve vir acompanhada de comunicação que incentive as pessoas a procurar, de fato, locais abertos para fazer atividades como as de lazer.
"Me parece uma oportunidade excelente para que haja uma boa comunicação incentivando as pessoas a ficar ao ar livre", afirma o físico.
SHOWS, ESTÁDIOS E PRAIAS
Quanto mais próximo alguém estiver e mais direta for a interação, maior será o risco. Quanto mais gente em volta, mais gente próxima a você, maior o risco. Quanto mais gente gritando, cantando, também maior o risco. Logo, é de se imaginar que um festival de música, como o Lollapalooza Brasil que deve ocorrer no fim deste mês, em São Paulo, jogos de futebol e até mesmo praias possam ser pontos de atenção.
"Shows vão acontecer, as pessoas estão se encontrando, fazendo eventos, independentemente de a gente achar certo ou errado, sem julgamento de valor. Uma vez que essa demanda vai existir, que as pessoas vão procurar atividades, me parece muito mais razoável que a gente faça isso ao ar livre e promova o máximo de segurança possível dentro desse contexto", afirma Mori.
O pesquisador usa o Carnaval como um exemplo de um evento que foi cancelado ao ar livre, mas liberado para ocorrer em locais fechados, onde o risco de contaminação é muito maior.
Rosana Richtmann, infectologista do Instituto Emílio Ribas, lembra ainda que o Lollapalooza, por exemplo, atrairá pessoas de outros locais do país, que podem levar a uma maior circulação não só da Covid, mas de outras doenças. A especialista, porém, destaca mais a importância do uso da máscara em ambientes fechados que conduzam até o local do festival (que será ao ar livre, no Autódromo de Interlagos), como metrôs, trens e ônibus.
Isso quer dizer que você tenha que usar máscaras em eventos ao ar livre? A resposta a essa pergunta já é um pouco mais difícil.
Não há dúvidas de que estar de máscara é mais seguro do que estar sem. Mas a questão do uso, nesses casos, acaba também tendo relação com a percepção e com qual o grau de risco que a pessoa esteja disposta a correr (considerando que a utilização da proteção passará a ser uma decisão individual).
"Me parece uma medida razoável", diz Mori sobre o uso de máscaras em locais com aglomeração, canto, comemoração e muitas interações face a face. Ao mesmo tempo, ele ressalta que, em eventos ao ar livre, a situação é mais tranquila e o uso da proteção no rosto é uma posição quanto ao risco mais conservadora.
Stucchi resume dizendo que, para aglomerações, se não é possível manter um distanciamento, a máscara é uma ferramenta importante para a proteção.
"Sempre vai ter risco", diz Richtmann, que afirma, porém, que não vê muito mais sentido no uso de máscara em locais abertos, mesmo pensando em praias lotadas, por exemplo. Em shows e festivais de música, o ambiente aberto pode não ser a questão central, mas sim o comportamento das pessoas, com bebidas compartilhadas, muita proximidade. Mas ela ressalta a importância do uso da proteção em certos grupos, como não vacinados, pessoas que têm comorbidades ou problemas de imunidade.
"O bom é que a partir de agora ninguém vai estranhar ter alguém de máscara num ambiente", afirma Richtman. "Não tem nada de errado. Quem quiser usar máscara deixa usar."
Mesmo que a máscara deixe de ser cobrada em alguns eventos abertos, a especialista do Instituto Emílio Ribas destaca que o passaporte vacinal deve continuar a ser cobrado, exatamente para diminuir o risco das pessoas que estão ali presentes.