O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta disse nesta terça-feira (4), em depoimento à CPI da Covid, que não partiu do Ministério da Saúde a orientação para a produção de cloroquina pelo Exército para o combate ao novo coronavírus.
Segundo ele, durante sua gestão, havia quantidade suficiente do medicamento pela Fiocruz para aquilo que lhe convém, como o tratamento da malária.
Apesar disso, afirmou que fez consulta ao Conselho Federal de Medicina, que orientou que o medicamento era para o uso compassivo -quando não há outro recurso terapêutico para os pacientes graves em ambiente hospitalar.
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"A cloroquina é uma droga que tem margem de segurança estreita. Não é aquela coisa de que se bem não faz, mal também não faz. É um medicamento que tem uma série de reações adversas e cuidados. A automedicação com cloroquina e outros medicamentos poderia ser muito perigosa para as pessoas", disse.
'ASSESSORAMENTO PARALELO'
O ex-ministro disse ainda que nunca teve discussões ríspidas com Bolsonaro, mas que ouvia argumentações sobre o uso da hidroxicloroquina e também sobre a adoção do isolamento vertical -ambas rejeitadas pelo Ministério da Saúde naquele momento.
Mandetta afirmou que sempre explicava ao presidente quais seriam as medidas indicadas pelas autoridades de Saúde para o enfrentamento da pandemia.
"Não houve discussões ríspidas. Ele compreendia. O presidente aparentava entender, mas, passados dois, três dias, voltava para aquela situação em que duvidava", afirmou o ex-ministro, que lembra que o presidente em alguns momentos apresentava suas próprias alternativas.
"Me lembro do presidente sempre questionar a questão ligada a cloroquina, como a válvula de tratamento precoce, embora sem eficácia comprovada. Falava também do confinamento vertical", afirmou.
"Ele tinha um assessoramento paralelo", afirmou, sem definir quem o assessorava.
IMUNIDADE DE RABANHO
Mandetta afirmou ter a "impressão" de que o governo buscava a imunidade de rebanho como estratégia para vencer a pandemia da Covid-19.
A teoria da imunidade de rebanho prevê que a propagação do vírus para quando se atinge uma porcentagem de infectados da população, em torno de 70%. Alguns senadores da CPI trabalham com a hipótese de que o governo possa ter sido negligente para avançar o contágio e assim atingir essa imunidade.
"A impressão que eu tenho era que era alguma coisa nesse sentido, o principal convencimento, mas eu não posso afirmar, tem que perguntar a quem de direito", afirmou o ex-ministro.
"Mas era um entendimento assim: as pessoas vão contrair isso porque moram em favelas, porque estão aglomeradas, porque não tem esgoto, porque o brasileiro vai se contaminar e vai morrer só quem tem que morrer, só está morrendo idoso e embarcaram nessa teoria. A impressão que tenho é que pode ser, mas não posso afirmar."