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Londrina registra 133 novos casos de tuberculose; taxa de diagnósticos está abaixo da meta

06 mar 2018 às 11:00

Londrina registrou, em 2017, 133 casos de tuberculose, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Com isso, o município está abaixo da meta de diagnósticos que deveriam ser feitos todos os anos, tendo por base o número de habitantes. Na 17ª Regional de Londrina (que abrage municípios próximos) e no Paraná foram registrados, no mesmo ano, 233 e 2.072 casos, respectivamente.

Arlete Alves Nunes, enfermeira do Ambulatório de Tuberculose de Londrina, explica que o número de casos novos no município está abaixo da meta de diagnósticos feita para o mesmo ano. Segundo ela, por ser endêmica, é muito difícil de acabar com a doença, mas o que deve ser feito é o diagnóstico em quantidade correspondente à população, a fim de se viabilizar o controle. Pelo número de habitantes, a meta seria diagnosticar de 200 a 240 pessoas no ano, mas apenas 133 casos foram encontrados.


A enfermeira explica que, desde 1996, o ano em que começou a trabalhar no ambulatório, a meta não é batida. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a tuberculose existe há 70 mil anos e, como explica Arlete, não é possível dizimá-la, apenas controlá-la. É por isso que um número abaixo do esperado evidencia a lacuna nos diagnósticos, o que leva ao não tratamento.


O médico infectologista Fábio Crespo deixa claro que, apesar de não bater a meta de diagnósticos, Londrina trabalha para encontrar pessoas infectadas e tratá-las por meio da parceria com as Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Ele explica que todo e qualquer profissional de saúde pode pedir o exame para diagnóstico, mesmo que não seja médico, e isso auxilia muito no combate à doença. "Se você não trabalhar e fazer propaganda, as pessoas esquecem. É como lavagem de mãos no hospital: tem de estar sempre relembrando."


N.Com

Qualquer profissional de saúde pode pedir o exame para diagnóstico e o tratamento é feito nas UBSs.


O Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde afirma que, em 2016, a taxa de incidência da doença por 100 mil habitantes no Brasil foi de 32,4 casos. Apesar da redução em relação aos anos anteriores, a tuberculose ainda figura como um problema de saúde pública no país, já que a meta a ser batida é de menos 10 casos para cada 100 mil habitantes. Em Londrina, a taxa é de 24/100 mil habitantes, número que poderia ser maior se a meta de diagnósticos fosse batida.


Dados oficiais do Programa Nacional de Controle da Tuberculose mostram que, em 2015, o Brasil diagnosticou 68 mil novos casos e cerca de 4,5 mil mortes decorrentes da tuberculose. E de acordo com a nova classificação da OMS para 2016-2020, o Brasil ocupa a 20ª posição na lista dos 30 países com alta carga da doença. A tuberculose é, também, a primeira causa de morte dentre as doenças infecciosas que acometem pacientes com Aids.


O Bacilo de Koch


A tuberculose, causada pela Bacilo de Koch, é vista por muitos como uma doença do passado e com a qual não se deve preocupar. Entretanto, dados de janeiro deste ano do Médicos Sem Fronteiras (MSF) mostram que a tuberculose é uma das três doenças infecciosas que mais matam no mundo, superando o HIV/Aids e a malária juntos. Todo ano, cerca de 1,5 milhão de pessoas morrem e 9,6 milhões são submetidos ao sofrimento causado pela bactéria em países em desenvolvimento.


A doença afeta principalmente os pulmões (tuberculose pulmonar), mas pode atingir qualquer outra parte do corpo (tuberculose extrapulmonar). De acordo com o relatório anual da OMS, publicado desde 1997, a doença é transmitida diretamente, pessoa por pessoa, quando alguém infectado expele a bactéria no ar por meio da fala, tosse ou espirro, por exemplo.


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A tuberculose afeta, principalmente, os pulmões, mas pode atingir qualquer outra parte do corpo.


A OMS estima que, em todo o mundo, 1,7 bilhão de pessoas estejam infectadas com a bactéria, mas uma proporção pequena (de 5% a 15%) desenvolve a doença ao longo da vida, já que o Bacilo de Koch pode viver de forma inativa no corpo. A probabilidade de desenvolver tuberculose é muito maior entre pessoas com doenças que afetam a imunidade, como o HIV/Aids e a diabetes, ou que estão desnutridas e consomem álcool e cigarro. Essa taxa também aumenta na população carcerária e na população em situação de rua, que comumente utiliza drogas ilícitas, como o crack, que afeta diretamente o pulmão.


Sintomas e diagnóstico


Os sintomas mais comuns são:


- Dores locais no peito e ao respirar;
- Tosse por mais de três semanas, que pode ou não ser acompanhada de sangramento (hemoptise);
- Fadiga, febre vespertina, perda de apetite e suor noturno;
- Perda de peso severa;
- Catarro ou inchaço dos gânglios.


Em Londrina, a pessoa que tiver esses sintomas deve procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS), que encaminhará o paciente para o centro de referência onde será feita a avaliação médica e posteriormente uma radiografia do tórax, exame de escarro e teste tuberculínico. Em caso de tuberculose extrapulmonar, há de ser feita uma biópsia.


O ambulatório de pneumologia sanitária, em conjunto com o serviço social, também faz acompanhamento com a família do paciente para investigar se outros membros estão infectados.


Fábio Crespo lembra que o diagnóstico tardio pode acarretar em sequelas, como a aderência do pulmão à parede torácica e consequentemente dificuldades respiratórias.


Tratamento


A tuberculose sem complicações pode ser tratada, gratuitamente, em, no mínimo, seis meses, por meio de antibióticos. Entretanto, se o paciente for resistente aos medicamentos, considera-se que ele tenha desenvolvido a tuberculose MDR ou XDR, multirresistente e ultra-resistente, respectivamente. Nesse caso, o tratamento é possível, mas pode levar até dois anos, causa efeitos colaterais graves e apresenta uma baixa taxa de cura.


O médico pneumologista e tisiologista Denison Noronha Freire, que atua no ramo da medicina responsável pelo estudo das causas, prevenção e tratamento da tuberculose, explica que a principal causa de reincidência da doença é o abandono do tratamento, uma vez que o paciente, entre o 2º e o 3º mês de medicação, sente-se melhor e esquece ou deixa de tomar os medicamentos, negligenciando o fato de que, na primeira queda de imunidade, a bactéria pode voltar mais forte.


Em Londrina, o tratamento dos casos mais comuns de tuberculose é feito diretamente nas UBSs, em que o paciente deve comparecer de segunda a sexta-feira para tomar os remédios e, para os finais de semana, recebe os comprimidos para consumi-los em casa. Em 15 dias, caso não haja resistência ao medicamento, 95% dos bacilos estarão mortos e o paciente já não transmitirá a doença.


Marcos Santos/USP Imagens

Em 15 dias de tratamento, 95% dos bacilos estarão mortos e o paciente não transmite a doença.


O serviço social do setor de tuberculose também faz a busca de faltosos ao tratamento para dar continuidade até que a doença seja totalmente curada.


Prevenção


O primeiro modo de evitar o contágio é não manter contato por muito tempo com pacientes diagnosticados com tuberculose em ambientes lotados, fechados e com pouca ventilação. É importante, também, o uso de proteção respiratória, como máscaras, já que o contágio se dá por meio do perdigoto, gotículas de saliva contaminadas.

Para Freire, a prevenção também está ligada ao direcionamento dado por políticas públicas. O médico acredita que instruir a respeito do tratamento, melhorar as condições socioeconômicas da população e fazer acompanhamento mensal para ver se o paciente está melhorando e se tratando são as maneiras mais eficazes para diminuir os casos de tuberculose. "A gente não vê propaganda do governo sobre a tuberculose na televisão."


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