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Hepatite: 70% dos doadores de sangue estão infectados

27 out 2009 às 22:24

A avaliação de um método diagnóstico não invasivo para detecção primária de lesão do fígado em portadores do vírus da hepatite C (VHC) e apresentada como dissertação de mestrado na Unifesp traz duas notícias: uma boa e uma ruim. A notícia boa é que um simples exame de sangue pode ajudar a detectar, primariamente, se portadores da Hepatite C já apresentam algum comprometimento do fígado e em que grau se encontra, sem a necessidade de passar, imediatamente, por uma biópsia - procedimento cirúrgico no qual se colhe uma amostra de tecido do órgão para avaliar a evolução da doença.

De acordo com os resultados do estudo, o aumento dos níveis de ácido hialurônico (AH) no sangue de portadores está relacionado com lesão hepática. "A descoberta de métodos diagnósticos não invasivos é de extrema importância, pois, além de minimizar os riscos para o paciente, também diminui os custos para a saúde", explica a bióloga Itatiana Rodart, autora da pesquisa.


O AH é uma substância presente, em diferentes proporções, em todos os órgãos do nosso organismo e preenche os espaços entre as células. É responsável pelo volume da pele, forma dos olhos e lubrificação das articulações. A mensuração dos níveis desse elemento no sangue junto com demais informações também ajuda no diagnóstico de doenças como oftalmopatia associada à Doença de Graves, neoplasias, processos inflamatórios e doenças virais.


Descoberta tardia


Muitas pessoas sequer imaginam serem portadoras da Hepatite C e, quando descobrem, muitas vezes o fígado já apresenta comprometimento. É aí que entra a má notícia do estudo e que serve como alerta para a população.


A pesquisa avaliou amostras de sangue de 50.607 doadores da Grande São Paulo e verificou que das 169 (0,33%) com anti-VHC positivos, 99 (58.57%), foram detectadas como portadores da doença. Destes, cerca de 70% já estavam com alterações no fígado, apesar de não apresentarem sintomas clínicos da doença. "Por não apresentarem qualquer sinal clínico ou ultra-sonográfico de hepatite crônica, esses indivíduos consideram-se aptos a doar", afirma a pesquisadora.


Na faixa etária de 40 a 49 anos houve maior prevalência do vírus (32,3%), sendo menor entre 60 e 65 anos (3%). O sexo masculino foi o que apresentou maior número de casos (77,78%). "Essa faixa etária atinge a população que sofreu transfusão de sangue ou cirurgias antes de 1989, antes da descoberta do vírus, e os testes sorológicos de ELISA foram implantados em 1992", explica a bióloga.


Subtipo agressivo


O estudo também aponta que o subtipo de vírus da Hepatite C mais prevalente entre os portadores analisados é o tipo 1 (82,8%). De acordo com Itatiana, há seis tipos de vírus da Hepatite C pelo mundo e que demandam tratamentos diferentes. No Brasil, os tipos 1, 3 e 2 são, nessa ordem, os mais prevalentes, sendo que o tipo 1 é considerado o mais agressivo e requer tratamento mais prolongado. Já os tipos 2 e 3 respondem melhor ao tratamento e o tempo de medicação é reduzido pela metade (seis meses).


Para Itatiana, as informações que chegam às pessoas sobre a Hepatite C ainda são insuficientes e o compartilhamento de agulhas entre usuários de drogas ainda é o principal meio de transmissão atualmente, seguido pelo contágio em manicures e tatuagens. "Diferente da transmissão sexual do HIV e do vírus da Hepatite B, que já esta comprovada, a transmissão do VHC por essa via ainda é controverso", explica.


Doença silenciosa


A infecção pelo vírus da Hepatite C (VHC) já é considerada um problema de saúde pública em todo o mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) cerca de 170 milhões de pessoas em todo o mundo são portadoras de hepatite C crônica, com aproximadamente 4 milhões de novos casos de infecção descobertos por ano. O Ministério da Saúde estima que no Brasil cerca de 3 milhões de pessoas sejam portadoras do VHC.

Apesar da possibilidade de cura, a doença é uma das principais causas das complicações hepáticas e transplantes de fígado, uma vez que cerca de 70% a 85% dos casos de contaminação evoluem para doença crônica.


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