Enfrentando o pior momento da pandemia, os governadores do Paraná, no Rio Grande do Sul e Santa Catarina anunciaram a criação de um grupo de trabalho para discutir medidas contra a Covid-19 e de um boletim unificado para acompanhar o avanço da doença nos estados.
Após reunião por videoconferência na última terça-feira (23), os três chefes do Executivo também encaminharam um ofício ao Ministério da Saúde pedindo maior atenção à situação local, com a disponibilização de medicamentos necessários nas UTIs, custeio de mais leitos e distribuição das vacinas - já que a aplicação está paralisada em duas das três capitais, por falta de doses.
"Temos um perfil socioeconômico e climático semelhante e observamos um comportamento parecido da pandemia nos três estados. A reunião foi de troca de experiências e de estratégias. Tanto o Paraná como Santa Catarina têm percebido a mesma mudança de perfil nos pacientes e o crescimento acelerado no número de casos e de internações pela doença", escreveu o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), no Twitter.
Leia mais:
Princesas da Disney correm sérios riscos de saúde, afirma estudo
UTIs crescem no Brasil, mas milhões ainda vivem longe de leitos, diz estudo
Lula segue lúcido e caminha e se alimenta normalmente, diz boletim
Investigação sobre desvios em compra de vacina da Covid volta ao STF, e PGR analisa em segredo
A ocupação de leitos começou a aumentar rapidamente no estado gaúcho desde a semana passada. Na última terça (23), 87% das UTIs para adultos estavam com pacientes. O índice ultrapassou os 96% na área central do estado e chegou a 90% em Porto Alegre e região metropolitana.
Filas se formaram nas unidades de pronto-atendimento da capital nos últimos dias - em ao menos três delas, a superlotação ultrapassa os 300%. Apesar de atingir índices que exigiriam bandeira preta, a mais restritiva nas medidas contra a pandemia, Porto Alegre adotou a bandeira vermelha desde terça.
Quase 70% do estado, incluindo a capital, está em risco gravíssimo para a doença. Nesses locais, o governador mandou suspender as atividades não essenciais entre 20h e 5h. Mesmo assim, as aulas presenciais estão permitidas nos primeiros anos escolares.
No Paraná, o cenário começou a se agravar mais rapidamente depois que, na última semana semana, foi confirmada a circulação da variante amazonense do novo coronavírus. Entre segunda e terça, houve recorde de registro de mortes em um único boletim: 136, de um total de 11 mil.
A taxa média de ocupação de leitos está em 92% no estado. Restam apenas 105 UTIs para adultos em todo o Paraná. Nos últimos dez dias, houve um aumento de 600% no movimento das centrais de regulação de leitos.
Em Curitiba, nesta terça-feira, restavam apenas 37 vagas em UTIs -cerca de 10% do total. "A gente está à frente de uma nova onda, provavelmente a terceira onda. [...] Acudimos Manaus e Rondônia e parece que agora chegou a nossa vez. O pós-carnaval mostrou a sua cara", disse a secretária municipal de saúde, Márcia Huçulak.
A situação é ainda mais crítica no oeste do Paraná, que está com 97% das UTIs ocupadas. Em Foz do Iguaçu, cidade que faz fronteira com Paraguai e Argentina, os internamentos por Covid-19 dobraram desde o início do mês, levando à superlotação de algumas unidades.
Cerca de 60% dos atendimentos são de cidadãos paraguaios ou de brasileiros que moram no país vizinho, o que levou a Secretaria Municipal de Saúde a pedir ao governo federal a habilitação de leitos e a instalação de uma barreira sanitária na Ponte de Amizade, que liga os países.
Na última sexta (19), o município restringiu a circulação entre 23h e 5h, proibiu eventos com mais de dez pessoas e intensificou a fiscalização para combater eventos clandestinos.
O recrudescimento das vistorias também foi anunciado pelo governador Ratinho Jr. (PSD), que não exclui a possibilidade de adoção de medidas mais duras contra a pandemia em todo o estado. Apesar de manter o toque de recolher entre 0h e 5h desde o começo de dezembro, o governo tem deixado eventuais regras mais rígidas a cargo dos municípios.
"Estamos estudando as medidas necessárias e a ideia é evitar qualquer tipo de prejuízo econômico. Trabalhamos com esse equilíbrio desde o começo da pandemia e vamos manter isso. Mas temos que ter o cuidado para não deixar o sistema colapsar", afirmou o governador.
Já em Santa Catarina, onde a ocupação de leitos está em 95%, novas ações de enfrentamento à pandemia devem ser apresentadas pelo governo, como a restrição de horários de circulação de pessoas.
A gestão de Carlos Moisés (PSL) anunciou a ampliação de 110 novos leitos de UTI em diversas regiões catarinenses e abriu 165 leitos clínicos de retaguarda para Covid-19 na região Oeste, a que mais vem sofrendo com o impacto da pandemia no sistema de saúde.
O prefeito de Chapecó, maior município da região, esteve em Brasília reunido com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, na terça. João Rodrigues pediu a antecipação de 100 mil vacinas para a cidade, suficiente para aplicar uma dose em quase metade da população local. Do governo federal, recebeu a promessa de repasse de 100 mil testes para Covid-19.
Defensor do chamado "tratamento precoce" contra a Covid-19 e relutante quanto a medidas de prevenção à doença, Rodrigues anunciou na segunda-feira (22) um novo decreto estabelecendo toque de recolher no municípios das 22h às 5h e fechando o comércio, academias, lotéricas, parques e praças.
A medida, que vale por cinco dias, ocorre diante da lotação dos hospitais e da unidade de pronto-atendimento, mesmo com a duplicação de leitos de UTIs nos últimos dias.
"Não sou favorável ao lockdown, mas, diante do cenário, consultando integrantes do Comitê de Enfrentamento à Covid, resolvemos fechar algumas atividades. São só cinco dias, se diminuir o contágio a gente volta. Temos que fazer tudo o que for possível para dar uma freada no vírus. Essa é uma situação que não é só Chapecó que está vivendo", disse Rodrigues.
Mesmo com risco de colapso nos sistemas de saúde, a vacinação contra a Covid-19 segue parada em duas das três capitais do Sul. Apenas Porto Alegre ainda está aplicando o restante das primeiras doses que recebeu (cerca de 20% do total) na população acima de 83 anos. Ainda não há previsão de fornecimento de mais imunizantes para os estados.