Uma pesquisa apresentada na American Society of Clinical Oncology (ASCO 2009) - maior congresso mundial de oncologia clínica – destacou a importância da preservação da fertilidade como parte integrante da qualidade de vida dos pacientes com câncer. Quando o tema vem à tona, a vontade de ter filhos é uma das principais preocupações de homens e mulheres em idade reprodutiva. "Graças aos avanços nos campos do diagnóstico precoce e no tratamento do câncer, cada vez mais, há maiores chances de sobrevida, e o interesse e a preocupação em preservar a fertilidade vem aumentado tanto entre médicos e pacientes", afirma drª Janiceli Hablich Silvestre - Mastologista, Cirurgiã Oncológica do Centro de Oncologia do Paraná (COP).
Mesmo com tantos avanços, na prática, muitos oncologistas ainda vêem a preservação da fertilidade como um tabu, como mostra o estudo apresentado na ASCO. Poucos pacientes que recebem o diagnóstico de câncer sabem, mas o tratamento contra a doença pode prejudicar as chances de ter um filho no futuro. Estudos mostram que a perda da fertilidade pode afetar as mulheres em 40% a 80% e os homens em 35% a 75%.
Isso ocorre porque as alternativas de combate à doença, como a quimioterapia, a radioterapia e até a cirurgia, podem prejudicar a produção de espermatozóides e causar falência ovariana. Também há possibilidade de levar a alterações no útero. Em alguns casos, a mudança é transitória; em outras, permanente. Quando o tema fertilidade vem à tona, independente do sexo, os pacientes preferem filhos biológicos a adotar ou usar terceiros (doação de óvulos ou espermatozóides).
A pesquisa realizada pelo Moffitt e Karmanos Cancer Center - apresentada na ASCO 2009 - traçou o perfil da prática clínica em relação aos pacientes com câncer e a preservação da fertilidade. Um questionário, com 58 itens, foi distribuído para 1979 médicos que prestam cuidados a pacientes com câncer em todo os Estados Unidos. Deste total, apenas 33% responderam ao questionário. Os médicos que participaram do estudo relataram que a principal barreira para discussão da preservação da fertilidade é a gravidade do câncer que não permite atraso no início do tratamento. Muitos responderam que não discute o assunto quando o paciente tem um prognóstico pobre. Outros citaram que o custo financeiro envolvido no processo de preservação da fertilidade ainda é muito alto para muitos pacientes. Na cidade de Curitiba, a oncofertilidade - uma subespecialidade médica que cuida da fertilidade dos pacientes com câncer – já é uma realidade.
Clínicas e médicos da região abordam a importância de orientar os pacientes sobre os métodos para preservação da fertilidade e suas alternativas. A inclusão dos especialistas em reprodução humana nas equipes multidisciplinares ampliou o vocabulário dos oncologistas. Palavras como congelamento de óvulos, sêmen, embriões e tecido ovariano aos poucos deixam de ser mistério. Tratamentos e prevenção Muito usada para tratar pacientes com câncer, a quimioterapia pode agredir o sistema reprodutor de pessoas de ambos os sexos. Nos homens, as drogas utilizadas no tratamento podem levar à ausência total de espermatozóides, que pode ser transitória ou permanente.
Nas mulheres, as drogas da quimioterapia podem levar à falência ovariana prematura ou à menopausa precoce, que pode ocorrer entre mulheres mais jovens. A radioterapia também pode afetar a produção de espermatozóides e dos óvulos, além da possibilidade de causar danos ao útero, aumentando o risco de abortamento.
De acordo com o Dr. Alessandro Schuffner, Ginecologista da Conceber – Centro de Medicina Reprodutiva – os tratamentos contra o câncer podem induzir à menopausa precoce e a infertilidade em mulheres em idade reprodutiva. A criopreservação de óvulos é uma nova forma de preservar a fertilidade antes da paciente começar a quimioterapia, a radioterapia ou mesmo a cirurgia. "Em situações em que a mulher precisa iniciar o quanto antes o tratamento, a criopreservação dos óvulos é a melhor solução. O processo é feito com o uso de medicamentos que estimulam o desenvolvimento de folículos, que se transformam em óvulos, que serão criopreservado e transplantados na paciente quando ela estiver livre da doença", sublinha.
O tratamento de oncofertilidade, segundo ele, é feito de forma multidisciplinar, com a colaboração de médicos, psicólogos, enfermeiros, bioquímicos e embriologistas. Sobre o Programa Acesso - Criado em 2006 pela Vidalink, empresa líder do mercado de Gestão de Benefícios de Medicamentos, o Acesso conta com o apoio de 72 clínicas em 31 cidades brasileiras e do laboratório Merck Serono. Para fazer parte do Programa, o primeiro passo é agendar uma consulta nas clínicas participantes e retirar um formulário de inscrição. Nele, encontram-se todas as informações e orientações necessárias para o envio da documentação.
Após a avaliação da capacidade econômica do casal, a Vidalink tem até dez dias úteis para dar um retorno ao paciente sobre sua aprovação no programa. No caso da inclusão, o paciente é encaminhado para o Programa Acesso e para a clínica, que inicia o tratamento com desconto de até 50% nos medicamentos para infertilidade e a possibilidade de abatimento nas despesas de atendimento médico. Na região cidade de Curitiba, a Clínica Conceber é uma credenciada do Programa Acesso.