Ministério da Saúde e o Instituto Butantan lançaram nesta quarta-feira (21) em São Sebastião, Distrito Federal, a terceira fase dos testes em humanos da vacina contra dengue. Participaram do evento o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Adeilson Cavalcante, e o diretor substituto do Instituto Butantan, Marco De Franco. O Ministério da Saúde investiu R$ 100 milhões para a produção da vacina, que está na terceira e última fase de desenvolvimento pelo laboratório público. A imunização tem potencial para proteger a população contra os quatro vírus da dengue, com uma única dose.
O secretário, Adeilson Cavalcante, lembrou que esse momento é importante porque "a partir do final dessa fase, a vacina poderá ser produzida em larga escala pelo Butantan e disponibilizada em campanhas de imunização na rede pública de saúde. Isso demonstra o empenho do Ministério da Saúde em ter a vacina desenvolvida e produzida por um produtor público nacional. Isso é uma vantagem competitiva para o Brasil, pois garante a disponibilidade do produto, permitindo a autossuficiência produtiva, além de garantir preços mais acessíveis", destacou.
Ao todo, 1.200 moradores, com idades entre 2 e 59 anos, da região administrativa de São Sebastião, deverão participar dos testes. A imunização precisa, ainda, passar pela aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para que possa ser produzida em larga escala pelo laboratório e disponibilizada para campanhas de imunização no Sistema Único de saúde (SUS), em todo o país. Os ensaios clínicos serão conduzidos pelo Núcleo de Medicina Tropical da Universidade de Brasília (UnB), em parceria com o Hospital Universitário de Brasília e a Secretaria de Saúde do Distrito Federal.
Para o diretor substituto do Instituto Butantan, Marco De Franco, a vacina já demonstrou nas duas fases anteriores segurança e uma boa resposta dos voluntários. "Nessa terceira e última fase, queremos saber se ela realmente protege contra o vírus, por isso essa etapa é feita em centros de todo o Brasil. A ideia nessa fase é que esses voluntários recebam a vacina e fiquem expostos à situação de vida normal" explicou o diretor. "A partir de agora, os centros irão acompanhar os voluntários, se eles tiveram contato com o vírus e como se comportaram. A perspectiva é que até o final do ano que vem tenhamos os primeiros dados da eficácia da vacina", explicou Marco De Franco.
Atualmente, os testes já estão sendo realizados em diversas cidades: Manaus (AM), Boa Vista (RR), Porto Velho (RO), Fortaleza (CE), Aracaju (SE), Recife (PE), Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), Porto Alegre (RS), Brasília (DF), Belo Horizonte (MG), além de em três centros no Estado de São Paulo (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP; Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto e Santa Casa de Misericórdia de São Paulo). Os experimentos envolverão 17 mil voluntários em 13 cidades nas cinco regiões do Brasil. Os resultados da pesquisa dependem de como será a circulação do vírus, mas o Butantan estima ter a vacina contra a dengue disponível em 2018.
O Ministério da Saúde já se comprometeu, desde novembro do ano passado, com cerca de R$ 130 milhões para o desenvolvimento de vacinas e novas tecnologias nesta área. A maior parte desse recurso foi para a produção da vacina da dengue, pelo Butantan. Também estão sendo liberados R$ 11,6 milhões para o desenvolvimento de vacina contra o vírus Zika pela Fiocruz. Outros R$ 10 milhões estão sendo destinados para o Instituto Evandro Chagas (IEC), no Pará, que realiza pesquisa para vacina contra a Zika, em parceria com a Universidade Medical Branch do Texas, Estados Unidos.
VOLUNTÁRIOS – O Instituto Butantan, principal produtor de imunobiológicos do país, é vinculado ao Governo do Estado de São Paulo e já desenvolve estudos e pesquisas nas áreas de Biologia e Biomedicina, em parceria com instituições estrangeiras. Uma delas é o National Institutes of Health (NIH) – agência de saúde do governo norte-americano –, com o qual o Instituto está em estágio avançado de desenvolvimento da vacina contra a dengue.
Nesta última etapa da pesquisa, os estudos visam comprovar a eficácia da vacina. Do total de voluntários, 2/3 receberão a vacina e 1/3 receberá placebo, uma substância com as mesmas características da vacina, mas sem os vírus, ou seja, sem efeito. O objetivo é descobrir, mais à frente, a partir de exames coletados dos voluntários, se quem tomou a vacina ficou protegido e quem tomou o placebo contraiu a doença.
Os resultados da segunda fase da vacina já superaram as expectativas em relação à eficácia e segurança, se mostrando superior a outras vacinas já disponíveis, ou em desenvolvimento. Para a imunização, será necessária, apenas, uma dose da vacina, que pode ser aplicada em pessoas de todas as idades, inclusive em crianças.