Notícias

Diabetes pode provocar problemas na visão

13 dez 2010 às 16:15

Thomas W. Gardner e Robert A. Gabbay, oftalmologistas norte-americanos, publicaram no Arch Ophthalmol um interessante artigo sobre as comorbidades da diabetes e as sérias conseqüências da doença para a visão.

Em Diabetes and Obesity – A Challenge for Every Ophthalmologist – a dupla destaca que os Estados Unidos já lutaram diversas batalhas, por diversas causas: pobreza, drogas, terrorismo... Mas que nenhuma delas será tão difícil de vencer quando a da perda de visão provocada pela diabetes em seu País.


Nesta nova guerra, os autores defendem que os oftalmologistas são "guerreiros da linha de frente" na luta contra a perda da visão provocada pela diabetes. Eles podem ganhar esta guerra, usando novas táticas e armas do século 21.


Panorama da obesidade


Globalmente, mais de 1 bilhão de adultos apresentam sobrepeso e, pelo menos, 300 milhões são obesos, incluindo 34% dos adultos americanos com idade acima de 20 anos. O aumento da obesidade duplicou a prevalência de diabetes, na última década. Até um terço das crianças nascidas em 2000 desenvolverá o diabetes durante a vida.


Hoje, 24 milhões (8%) dos americanos têm diabetes e 57 milhões tem pré-diabetes. Até 2050, o número de americanos com retinopatia diabética triplicará de 5,5 para 16 milhões, e aqueles com retinopatia que ameaça a visão passarão de 1,2 para 3,4 milhões. O número de casos de catarata vai aumentar em 235% e o glaucoma entre os hispânicos idosos com diabetes deverá aumentar também.


O impacto econômico da diabetes nas doenças oculares é profundo. As despesas com medicamentos de pessoas com retinopatia diabética não proliferativa são 63% maiores do que aqueles sem retinopatia, e 400% maiores para aqueles com retinopatia proliferativa.


Pessoas com diabetes também têm um risco aumentado de oclusões vasculares retinianas, ceratite neurotrófica e paralisia de nervos cranianos. Portanto, a epidemia de obesidade criará um fardo financeiro insustentável para os que apresentam doenças oculares causadas pela diabetes.


As nações da Europa já conseguiram sensibilizar a população sobre os perigos da tríade obesidade-diabetes-retinopatia diabética, o mesmo não aconteceu nos Estados Unidos, onde a prestação de cuidados de saúde é mais fracionada e os incentivos à população sobre a prevenção da doença são menores. Assim, muitos pacientes com diabetes não se preocupam com o controle da doença e já chegam aos oftalmologistas precisando de fotocoagulação ou vitrectomia, tratamentos que não restauram a função visual normal.


A agência americana responsável pela aprovação de medicamentos e terapias, FDA - Food and Drug Administration - , não aprovou até hoje nenhum tratamento para retinopatia diabética. Os únicos tratamentos reconhecidos são a terapia insulínica intensiva e o controle da hipertensão.


A fotocoagulação só é eficaz quando os pacientes desenvolvem edema macular ou retinopatia proliferativa. Outras alternativas terapêuticas, tais como o emprego de esteróides intravítreo ou de inibidores de crescimento vascular endotelial, têm apresentado apenas benefícios transitórios.


Uma doença que afeta muito mais do que os olhos...


A retinopatia diabética foi entendida, durante muito tempo, como uma "doença microvascular" do olho, mas os estudos recentes ampliam este entendimento e têm demonstrado que o diabetes afeta toda a retina neurossensorial, incluindo as células ganglionares, as células de Müller, astrócitos, células da microglia e células endoteliais.


"Testes de sensibilidade ao contraste, de adaptação ao escuro, de campos visuais e retinografias revelam que a função visual é prejudicada antes do início do aparecimento dos microaneurismas, em muitos pacientes com diabetes", informa o oftalmologista Virgilio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.


Assim, a retinopatia diabética é uma neuropatia sensorial, envolvendo o parênquima da retina semelhante à neuropatia periférica. "Entender como o diabetes afeta a retina neural pode melhorar os meios para diagnosticar a retinopatia diabética, antes da perda da visão sintomática, o que pode reduzir os custos pessoais e econômicos em relação à doença", destaca o médico.


As doenças mais comuns tratadas por oftalmologistas, tais como catarata, glaucoma, degeneração macular, descolamento de retina e estrabismo são primariamente distúrbios oculares, diferentemente da retinopatia diabética, uma conseqüência do diabetes. O que presenciamos, nas clínicas oftalmológicas, é que invariavelmente, os pacientes diabéticos são tratados cirurgicamente, com a realização de facectomia, fotocoagulação e vitrectomia.

"Assim, o principal meio de modificar o curso das doenças diabéticas dos olhos se encontra nas mãos de médicos de outras especialidades, tais como endocrinologistas e clínicos gerais. A abordagem cirúrgica da doença em estágio avançado no olho não é uma estratégia de enfretamento da retinopatia diabética. Os esforços devem se concentrar na prevenção da doença e na intervenção precoce, casos em que o papel dos oftalmologistas deve evoluir", defende Virgilio Centurion (MW- Consultoria de Comunicação).


Continue lendo