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Depressão dificulta continuidade de tratamento contra HIV

29 out 2012 às 16:12

A depressão é o principal motivo que leva pacientes com HIV a abandonar o tratamento. Um estudo feito pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas com 201 soropositivos que interromperam a terapia mostrou que 53% falharam na adesão por estarem deprimidos. A falta de tempo para comparecer às consultas e o medo de perder o emprego também apareceram como um fator importante: 38% alegaram esses motivos para cessar o acompanhamento médico.

O levantamento envolveu pacientes que abandonaram as consultas por pelo menos seis meses sem justificativas. A partir das conclusões do estudo, o Emílio Ribas criou um grupo de adesão semanal. Batizado de "Tá difícil de engolir?" - referência à quantidade de pílulas que alguns dos pacientes devem tomar diariamente - o projeto funciona como uma terapia em grupo, na qual cada um relata suas próprias dificuldades em relação ao tratamento.


O grupo é acompanhado por uma equipe multidisciplinar composta por assistentes sociais e psicólogos. "O objetivo é que o paciente fale sobre sua situação para, dessa maneira, um estimular o outro. Na medida em que surge alguma dúvida, a gente interfere para explicar", diz o assistente social Claudemir Leite de Almeida.


Ele observa que é bastante comum que o paciente com doença crônica, como o HIV, em determinado momento, interrompa a terapia. O grupo de adesão, segundo ele, é apenas uma das estratégias para estimular o paciente, que também deve receber recomendações nas consultas de rotina e nos grupos de acolhimento.


Além da depressão e da falta de tempo para comparecer às consultas, outros motivos que contribuem de forma importante para a falta de adesão são os efeitos colaterais do tratamento, o estigma da doença e a falta de autoestima.


Nas palavras de um dos pacientes que compareceu ao grupo na quinta-feira, e preferiu não ser identificado, "tomar o remédio não é só um ato físico, mas principalmente um ato interno: para tomar o remédio, a pessoa tem que querer o melhor para si, tem que se gostar e estar disposto a lutar". A falta de amor próprio, alavancada pelo peso do estigma da doença, é o que o levou a interromper a medicação durante um período de sua vida.


O aspecto simbólico vinculado às pílulas também está associado à dificuldade de aderir ao tratamento. Almeida observa que o remédio é a parte concreta que lembra o paciente de que ele tem um problema de saúde. "O medicamentos têm essa carga psicológica. Fazem a pessoa entrar em contato com a doença todo dia."


Suscetibilidade


O médico Augusto Penalva, coordenador do Serviço de Neuropsiquiatria do Instituto Emílio Ribas, explica que os pacientes com HIV estão mais suscetíveis aos transtornos neuropsiquiátricos, que incluem depressão, ansiedade e problemas cognitivos. Essa suscetibilidade ocorre por duas razões: tanto pelos aspectos psicossociais associados à doença quanto pelos fatores orgânicos.


A própria doença viral ataca o sistema nervoso central, levando à ocorrência de algumas dessas doenças. São os chamados transtornos neurocognitivos associados ao HIV (Hand, na sigla em inglês).


A reação do organismo à interrupção do medicamento é muito variável, de acordo com Penalva. Ele observa que isso pode variar de acordo com a forma como se deu o tratamento inicial: soropositivos que começam a se tratar precocemente, quando interrompem a medicação, tendem a demorar mais tempo para sentir os efeitos negativos. Os que começaram a se tratar quando a doença já estava avançada tendem a reagir à interrupção com uma rápida queda de imunidade.

Para Penalva, o levantamento mostra que tratar a Aids é mais complexo do que apenas disponibilizar a medicação. "É preciso abordar o paciente de maneira mais profunda", diz. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.


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