A adolescência é uma fase da vida em que a pessoa passa por diversas mudanças, tanto físicas como mentais e comportamentais. É um período intenso onde também acontecem queixas das mais variadas: desinteresse pela vida, bullying nas escolas, incompreensão e injustiças do mundo, cobrança inadequada da família, baixa autoestima, visão distorcida da imagem corporal, abandono da família, conflitos com familiares e sofrimento perante o mundo.
A psicóloga e coordenadora terapêutica Amanda Carvalhais conta que estão recebendo adolescentes para tratamento de 13 a 16 anos de idade, a grande maioria meninas com hipótese diagnóstica de transtorno de personalidade e alguns meninos já com uso abusivo e até dependentes de álcool e drogas. "Mensalmente recebemos muitos adolescentes, o número tem se tornado assustador.
A percepção da nossa equipe é que a grande questão que envolve a internação desses jovens é a falta de limites dos pais. Os pais precisam trabalhar e, muitas vezes, não conseguem oferecer o principal aos filhos: atenção, carinho e companheirismo. Muitas vezes, os pais não sabem quem são os amigos dos seus filhos, o que seus filhos fazem quando estão fora de casa, ou mesmo, recompensam sua ausência com bens materiais, permitindo viagens e saídas noturnas sem acompanhar o retorno destes jovens para a casa."
Para a especialista, o principal desafio em cuidar e tratar de adolescentes é conquistar a confiança deles para que assim eles possam falar de suas queixas e motivos pelos quais estão se comportando de tal maneira. "A conquista é diária e muito complicada, pois ao mesmo tempo em que temos que confiar, precisamos impor limites e regras, gerando raiva, frustração, sentimento de injustiça e contrariedade no adolescente.
Eles são desafiadores e desconfiados, é um trabalho de formiguinha. Diariamente plantamos uma sementinha e, aos poucos, vamos mostrando as consequências boas do tratamento, as mudanças comportamentais e os ganhos que a internação está trazendo para a sua vida."
Amanda afirma que a imposição de normas faz com que o jovem se revolte e repita seus comportamentos que o levaram para a internação como a agressividade e a automutilação. Indagada sobre o tratamento para estes adolescentes, a psicóloga explica que "ele é baseado na terapia cognitivo comportamental, mostrando ao jovem que cada escolha tem uma consequência e que, infelizmente, as perdas, as regras, os limites e o sofrimento fazem parte da vida."