Um estudo recente da Universidade de Leeds sugere que o consumo de peixes oleosos, cereais, frutas e de pequenas doses de álcool está associado à diminuição do risco de desenvolver artrite reumatoide, doença autoimune caracterizada principalmente por dores nas articulações. Por outro lado, café e chá podem aumentar os riscos de ter a doença.
A artrite reumatoide é, entre as doenças autoimunes sistêmicas, a mais comum, e acomete cerca de 17,6 milhões de pessoas no mundo (dados de 2020), e meio milhão no Reino Unido, onde a pesquisa foi feita. A população mais suscetível à doença é composta por idosos, mulheres, fumantes, e pessoas expostas a infecções e à poluição do ar. A pesquisadora principal do estudo, Yangyuan Dong, afirma que a artrite reumatoide é uma doença multifatorial, que combina causas genéticas e ambientais.
O estudo se dedicou a entender a relação da alimentação com a condição. Para isso, foi feita uma revisão sistemática de outras bibliografias já produzidas sobre o tema. Foram analisados 30 estudos que envolviam cerca de 10 mil pessoas realizados entre 2000 e 2024. Entre os artigos, 22 focavam somente em mulheres, e oito em ambos os sexos; 12 foram conduzidos na Europa, 15 na América, e três na Ásia.
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Dong afirma que a triagem dos artigos para análise passou por um processo criterioso de avaliação de qualidade.
"Desde o começo nós usamos critérios bem altos. Para inclusão, nós consideramos qual o foco da pesquisa, por quantos anos eles fizeram o acompanhamento para observar resultados, como eles analisaram os componentes dos alimentos, e se usaram diferentes ferramentas. Nós também mapeamos a avaliação de evidências para ter certeza da credibilidade."
Alimentos
Como resultado da sistematização de dados, o estudo de Dong mapeou que o aumento na ingestão de frutas em 80 g foi associado a uma redução de 5% no risco de desenvolver artrite reumatoide. O mesmo ocorre com cereais: a cada aumento de 30g em seu consumo, as chances de obter a doença analisada caem em 3%. A inclusão de peixes oleosos na dieta também foi associada a um menor risco.
De acordo com o estudo, essas associações ocorrem pelas propriedades anti inflamatórias e potenciadoras do sistema imunológico. "Vários alimentos vegetais ricos em fibras, vitaminas e antioxidantes, podem reduzir a inflamação sistêmica. Outros componentes, como gorduras de cadeia curta, ácidos e nutrientes que melhoram o sistema imunológico, como vitamina D e ácido fólico, podem contribuir para a regulação da inflamação", diz o artigo.
Bebidas alcoólicas
Entre os estudos analisados por Dong, seis deles se dedicavam a entender a ação do álcool no desenvolvimento de artrite reumatoide. As evidências sugeriram que o consumo de baixas doses de álcool pode aumentar a proteção contra a doença autoimune. A quantidade é equivalente a meia garrafa de cerveja ou uma taça de vinho por semana.
Porém, quando o consumo de álcool ultrapassa essas doses - atingindo 7,5 unidades por semana (o equivalente a quatro garrafas de cerveja ou 3,5 taças de vinho) - a ação protetora desaparece. O consumo excessivo de álcool pode favorecer o desenvolvimento de artrite reumatoide.
Estudos recentes que avaliam o impacto do álcool na saúde geral mostram, porém, que não existe dose segura de consumo de bebidas alcoólicas.
Café e chás
Entre as bebidas não alcoólicas, o café e o chá tem relação com o aumento das chances de ter artrite reumatoide. A cada xícara de chá por dia, os riscos crescem em 4%. Porém, não foram encontradas evidências quanto a café descafeinado, cafeína e refrigerantes estarem relacionados à doença.
Apesar de dar pistas sobre a relação de alimentos com o desenvolvimento de artrite reumatoide, Yangyuan Dong e sua orientadora, Janet Cade, esclarecem que o estudo não se propõe a ditar uma nova dieta para as pessoas.
"Nós não esperamos que as pessoas mudem o que elas comem drasticamente, mas sim que sigam uma alimentação saudável em geral", diz Cade. Porém, elas afirmam que o estudo pode ajudar médicos e nutricionistas em seu trabalho de prescrever planos alimentares.
Além disso, a pesquisa não analisa o impacto dos alimentos e bebidas citados em pessoas que já possuem artrite reumatoide. Dong chama a atenção para a necessidade de novos estudos que complementem as lacunas de informação encontradas no mapeamento.