A pandemia de Covid-19 trouxe uma queda nos exames diagnósticos de câncer de mama. Em 2020, o número de mamografias de rastreamento realizadas pelo SUS em mulheres entre 50 e 69 anos caiu 42% em comparação ao ano anterior. Em São Paulo, o HCor já registra uma retomada de tais exames, que, segundo os médicos, têm papel fundamental para combater a doença.
"Câncer de mama não é mais sentença de morte", explica Fernanda Marina Marinho, mastologista da Casa de Saúde São José. "O ideal é que as pessoas tenham menos medo de procurar o rastreio, porque o diagnóstico precoce salva a vida e impacta menos a qualidade de vida da mulher."
A mamografia é uma radiografia das mamas feita por um equipamento de raio-X e, segundo Marinho, é o único exame capaz de descobrir o câncer de mama em sua fase mais inicial, quando ainda não apresenta sinais e sintomas.
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"A ideia é fazer um diagnóstico precoce, no qual lesões não palpáveis são visualizadas, tratadas e a curabilidade desses cânceres é imensa", diz o médico oncologista e diretor científico do Oncoguia, Rafael Kaliks. Por esse motivo, é indicada a realização da mamografia de rastreamento, feita em mulheres assintomáticas.
A Sociedade Brasileira de Mastologia e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia recomendam que o exame seja feito anualmente em mulheres a partir dos 40 anos. No contexto do SUS (Sistema Único de Saúde), a indicação do Ministério da Saúde é que a mamografia seja realizada a cada dois anos em mulheres com idade entre 50 e 90 anos.
Kaliks recomenda que o início do rastreamento seja feito aos 40 anos e que o exame seja repetido todo ano. "Na nossa população, existe uma incidência de câncer de mama em faixas etárias mais jovens do que outros países", defende.
Todavia, alguns fatores podem antecipar a idade de rastreamento. "Mulheres que têm parentes de primeiro grau que tiveram câncer de mama em idade jovem, antes da menopausa, têm recomendação de começar o rastreio dez anos antes da idade que o familiar teve câncer", relata a mastologista da Casa de Saúde São José.
Marinho exemplifica: se sua irmã teve câncer de mama aos 42 anos, a recomendação será para que você comece o rastreio aos 32. "Mas isso, obviamente, tem que ser orientado por um mastologista para verificar quais exames são adequados para essa mulher", complementa a médica.
A mamografia é a porta de entrada dos exames diagnósticos e a ideia é que ela antecipe o surgimento de sinais da doença. Junto ou posteriormente a ela, explicam os especialistas, podem ser solicitados exames de ultrassom, ressonância magnética e biópsia.
Dentre os sintomas do câncer de mama, estão nódulos (caroços) nos seios, axilas ou pescoço, alterações de cor ou retração na pele das mamas ou no bico do peito e saída de líquidos anormais dos mamilos.
O tratamento é definido de acordo com o subtipo do tumor, o tamanho e a existência ou não de metástase, diz o diretor do Oncoguia. Segundo Kaliks, ele é curativo na maioria das mulheres e envolve cirurgia, podendo incluir também outras modalidades como quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia e imunoterapia.
Vida saudável é fator de prevenção Além do rastreio, é essencial conscientizar as mulheres em relação à prevenção, defende Fernanda Marina Marinho, mastologista da Casa de Saúde São José. "O primeiro passo é o autocuidado", diz.
Segundo a médica, o autocuidado inclui uma alimentação balanceada, com diminuição de alimentos ultraprocessados, embutidos e carnes vermelhas, e a prática regular de atividade física. "É comprovado que o exercício tem um impacto importante na redução das chances de desenvolvimento do câncer de mama e na redução do risco de morte para quem já teve o diagnóstico da doença", explica.
Isso porque o câncer de mama é uma doença multifatorial, ou seja, não há uma única causa para a doença e sim fatores de risco que aumentam as chances de desenvolvê-la. Dentre eles, estão fatores relacionadas a hábitos do dia a dia, como sobrepeso, obesidade, sedentarismo e consumo de bebidas alcóolicas.
Outros fatores de risco não podem ser controlados pelas mulheres, como predisposições genéticas, ter tido a primeira menstruação precocemente ou a menopausa tardia. Por esse motivo, os médicos recomendam que as mulheres se empenhem em evitar os fatores de risco que são mutáveis e estão relacionados ao estilo de vida.
"Além do autocuidado com consultas regulares ao médico e exames de rastreio, precisamos da conscientização pela busca de uma vida mais saudável", complementa Marinho.
Saiba mais
O câncer de mama é uma proliferação, um crescimento desordenado de células do próprio tecido da mama. É considerada uma doença multifatorial, ou seja, na grande maioria dos casos não é possível atribuir uma única causa ao seu surgimento.
Principais fatores de risco
Ser mulher (câncer de mama em homens representa menos de 1% dos casos)
Idade avançada (mais de 50 anos)
Fatores genéticos
Histórico familiar
Menarca precoce (primeira menstruação antes dos 12 anos)
Menopausa tardia (após 55 anos)
Consumo de bebida alcóolica
Sobrepeso e obesidade
Sedentarismo
Não ter tido filhos ou ter a primeira gravidez após os 30 anos
Sinais e sintomas
Nódulo (caroço), fixo e geralmente indolor
Pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja
Alterações no bico do peito
Assimetria dos seios
Pequenos nódulos nas axilas ou no pescoço
Saída de secreção anormal pelos mamilos
O que é a mamografia?
Radiografia das mamas feita por um equipamento de raios X chamado mamógrafo. É o único exame capaz
de descobrir o câncer de mama em sua fase mais precoce
Mamografia de rastreamento
Exame realizado quando não há sinais ou sintomas suspeitos.
Recomendação do Ministério da Saúde: mulheres entre 50 e 69 anos devem fazer mamografia a cada dois anos.
Recomendação da Sociedade Brasileira de Mastologia: mulheres a partir dos 40 anos devem fazer mamografia todo ano.
Mulheres com histórico familiar são recomendadas a começar a fazer mamografia antes.
Consulte um médico para ser instruída sobre quando começar e a periodicidade dos exames
Mamografia diagnóstica
Exame realizado a fim de investigar lesões suspeitas. Pode ser feito em qualquer idade, desde que com solicitação médica.
Outros métodos diagnósticos
Ultrassonografia Ressonância magnética
Biópsia (é o que confirma o diagnóstico)
Tratamento
Depende do tipo do tumor e da fase em que a doença se encontra. Pode incluir:
Cirurgia; Radioterapia; Quimioterapia; Hormonioterapia; Imunoterapia; Terapia biológica (terapia alvo)
Prevenção
Buscar uma alimentação mais balanceada; Diminuir o consumo de alimentos ultraprocessados, embutidos
e de carne vermelha; Fazer exercício físico regularmente; Combater o sobrepeso; Evitar o consumo de álcool e o tabagismo.
Fontes: Fernanda Marina Marinho, mastologista da Casa de Saúde São José (Rede Santa Catarina); Marcelo Bello, médico mastologista e diretor do Hospital do Câncer III; Rafael Kaliks, médico oncologista e diretor científico do Oncoguia; Instituto Nacional do Câncer (Inca)