A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) afirmou nesta quinta-feira (11) que dois pacientes internados para investigação da doença da vaca louca estão, na verdade, com suspeita da forma esporádica da DCJ (doença de Creutzfeldt-Jakob), considerando aspectos clínicos e radiológicos. A forma esporádica não tem relação com o consumo de carne bovina.
Ainda não há, porém, confirmação diagnóstica. Os dois pacientes estão internados no Centro Hospitalar para a Pandemia de Covid-19 do INI (Instituto Nacional de Infectologia). Ambos são residentes da Baixada Fluminense -um é morador de Belford Roxo e, o outro, de Duque de Caxias.
Em nota, a Prefeitura de Duque de Caxias afirmou que o paciente é um homem de 55 anos que apresentou sintomas como demência e ataxia (perda ou irregularidade da coordenação muscular).
A DCJ é uma doença neurodegenerativa, de rápida evolução, que inevitavelmente leva à morte do paciente. A causa e transmissão estão ligadas a partículas proteináceas infectantes chamadas de príons, agentes infecciosos de tamanho menor que os dos vírus.
A DCJ tradicional esporádica corresponde a 85% de todos os casos da doença. Ela acomete geralmente pessoas entre 55 a 70 anos. Entre os sintomas, estão: desordem cerebral com perda de memória, tremores e falta de coordenação de movimentos musculares.
A doença também pode ser hereditária ou transmitida por meio do uso de instrumentos neurocirúrgicos, o que é extremamente raro.
Já a doença da vaca louca é uma variante da DCJ (vDCJ) que pode ser transmitida para humanos por meio do consumo da carne bovina contaminada com a EBB (Encefalite Espongiforme Bovina). Em animais, a doença causa agressividade e falta de coordenação.
A vDCJ acomete, predominantemente, pessoas jovens, abaixo dos 30 anos. Segundo o Ministério da Saúde, em 63% dos casos os pacientes apresentam sintomas "tipicamente psiquiátricos inespecíficos, comportamentais e sensoriais". Entre as manifestações, estão agitação, irritabilidade, psicose, enfraquecimento ou perda de algum dos sentidos e sensação de dormência ou formigamento.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento publicou nota afirmando que, desde que a vigilância da DCJ foi instituída no Brasil, nenhum caso da forma vDCJ foi confirmado no país.
Em setembro, o governo confirmou dois casos atípicos da vaca louca em frigoríficos de Nova Canaã do Norte (MT) e Belo Horizonte (MG), o que levou à suspensão das exportações de carne bovina para a China. O país é o principal destino da carne bovina brasileira, respondendo, junto a Hong Kong, por quase 60% do total exportado.
Os registros representaram o quarto e o quinto caso de EBB atípicos em mais de 23 anos de vigilância sanitária para a doença, de acordo com a Secretaria de Defesa Agropecuária. O Brasil nunca registrou a ocorrência de EBB clássica.
Os casos de vaca louca atípica são menos perigosos para o rebanho porque são espontâneos e esporádicos, uma vez que partem do organismo de um animal e não acontecem devido à ingestão de alimentação contaminada, mas por degeneração celular. Esse tipo costuma acometer o gado em idade já avançada. Já a vaca louca clássica ocorre devido ao consumo de alimentos contaminados, como proteína animal, e afeta a o rebanho mais jovem.
Os dois casos, um em cada frigorífico, foram detectados em vacas de idade já avançada, de acordo com a pasta, e de descarte, que não eram mais úteis para a reprodução de bezerros ou leite.