O cantor João Carreiro, 41, morreu na noite de quarta-feira ao passar por um procedimento para trocar uma válvula do coração. Em suas redes sociais, ele havia comunicado aos fãs e amigos que passaria pela cirurgia para "fechar um prolapso, um 'sopro' no coração."
De acordo com especialistas ouvidos pela Folha, na idade do sertanejo, a troca de válvula costuma ser uma prática relativamente segura. O cantor fez parte da dupla "João Carreiro e Capataz", que embalou sucessos como "Bruto, Rústico e Sistemático". Depois de 2014, o artista seguiu carreira solo e bombou hits como "O Bagulho é Louco, Mano", canção com 18 milhões de visualizações no YouTube.
Qual era o problema do cantor?
Leia mais:
Brasil atingiu a marca de 672 mil pacientes que se tratam com cannabis medicinal
Deborah Blando revela que tem fibromialgia há 36 anos
Estudo aponta alta letalidade de cânceres relacionados ao tabaco
Anvisa estabelece novas regras para manipulação de implantes hormonais
João Carreiro apresentava o que os médicos chamam de "prolapso da valva mitral."
"É
uma condição que varia desde algo simples, no qual não é preciso fazer
nada, até [um quadro] mais grave, que impõe a necessidade de uma troca
valvar", diz o médico Heron Rached, doutor em cardiologia pela USP
(Universidade de São Paulo).
Como é feita a cirurgia?
O
procedimento, quando indicado, substitui a válvula com problema por uma
prótese. Os modelos utilizados nesses casos podem ser biológicos, feitos
de pericárdio bovino, ou metálicos. Até o momento, não foi divulgado
qual tipo de prótese o cantor teria colocado.
Rached afirma que nesta
cirurgia é feita uma abertura no tórax do paciente e, depois, outra no
coração para retirada da válvula danificada e inserção da prótese.
"Em
geral, as cirurgias de troca valvar mitral são cirurgias tranquilas,
mas infelizmente, esse desfecho não foi favorável a levou a morte do
cantor", afirma Rached.
Quais os riscos?
A cardiologista Paola
Smanio, líder médica da cardiologia do Fleury Medicina e Saúde e
responsável pelo setor de medicina nuclear do Instituto Dante Pazzanese
de Cardiologia, diz que a literatura aponta um risco de até 3,5% em
cirurgias de troca de prótese. O grupo de maior risco, entretanto, é o
de pessoas com mais de 60 anos, com comorbidades associadas, que já
tiveram AVC (acidente vascular cerebral) prévio ou são fumantes.
"Indivíduos
que já tenham arritmia cardíaca, fibrilação atrial, insuficiência
cardíaca, ou seja, o coração não não funciona de forma adequada", afirma
a médica.
A probabilidade de danos aumenta se a cirurgia não é feita
isoladamente, ou seja, associada a outro procedimento simultâneo (a
troca de válvula e, por exemplo, uma desobstrução das artérias
coronária), o que torna as intervenções emergenciais mais arriscadas que
as planejadas.
"Complicações dependem do procedimento escolhido. Na
plastia, uma das que pode ocorrer é comprimir uma das coronárias,
provocando o infarto. A prótese biológica [por sua vez] tem uma
durabilidade menor, então o indivíduo tem que trocar ao longo da vida
novamente. A mecânica geralmente dura mais, mas o indivíduo tem que
tomar anticoagulante para o resto da vida, porque têm maior risco de
embolia, de trombose", avalia Smanio.
Os problemas
mais comuns
envolvem sangramento, tempo prolongado de circulação extracorpórea (que
consiste no uso de uma bomba para fazer o sangue circular
artificialmente pelo paciente durante a operação), presença de êmbolos
no coração ou arritmias no pós-operatório. Há ainda o risco de uma
infecção, inerente a toda intervenção cirúrgica. "Os riscos dependem
muito das condições em que o coração estava", pontua Rached.
A
indicação de cirurgia depende do estado de saúde do paciente e precisa
ser avaliada caso a caso. Em caso de procedimentos eletivos, feitos com
agendamento prévio, exames e preparo, os responsáveis aplicam um índice
chamado EuroScore, pelo qual é possível determinar o grau de risco da
cirurgia.
"Em caráter emergencial esse índice é calculado rapidamente e o risco cirúrgico é bem maior", diz Smanio.