A perda de peso na fase inicial de dieta é sempre mais animadora que os estágios que se seguem no processo de redução de medidas.
Atingir o chamado "platô de emagrecimento" - aquele momento em que a pessoa já emagreceu, mas o corpo estacionou em determinado peso -, entretanto, pode gerar frustração e levar ao reganho de peso se não houver cuidado com as características da nova etapa.
De acordo com especialistas ouvidos pela Folha, o déficit calórico (comer menos do que o corpo gasta de energia) é primordial para conseguir eliminar mais alguns quilos, mas o organismo se adapta para evitar que isso aconteça. Veja como superar o desafio.
POR QUE O RITMO DE EMAGRECIMENTO CAI?
Leia mais:
Violência aumenta risco de internação psiquiátrica entre jovens
Campanha digital de alerta contra a Aids tem jovens como foco
Boletim semanal da dengue confirma 253 novos casos da doença no Paraná
Hospital Zona Sul de Londrina vai ter primeiro programa de residência médica
Existem mecanismos fisiológicos que atuam para reduzir o consumo energético e a perda de peso. Segundo o endocrinologista Evandro Portes, eles podem ter sido muito importantes nos primórdios da humanidade, facilitando a sobrevivência dos nossos antepassados em períodos de alimentação escassa.
Diretor do Serviço de Endocrinologia e Metabologia do HSPE (Hospital do Servidor Público Estadual) de São Paulo, Portes conta que, mesmo com a melhoria do acesso a alimentos, essa reação do corpo ainda é fundamental.
"Pensamos que isto não seria mais necessário, no entanto, quando algo agride nossa saúde ou diminuímos muito a nossa ingestão calórica, voluntariamente ou não, vários hormônios que atuam ativando o metabolismo são bloqueados. A reposição deles, apesar de poder acelerar a perda de peso, coloca o paciente em risco", diz.
COMO NOSSO CORPO FUNCIONA QUANDO HÁ PERDA DE PESO?
O médico Antonio Carlos do Nascimento, doutor em Endocrinologia e Metabologia pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e coordenador médico do Núcleo de Obesidade da Secretaria de Saúde de Santo André, lembra que nosso sistema é "absolutamente ajustado para contemplar as necessidades de nosso maior peso obtido".
O corpo recorre então aos chamados mecanismos contrarreguladores orgânicos para evitar que a pessoa perca suas reservas, tais como aumento do hormônio da fome (grelina) e a diminuição dos hormônios da saciedade (especialmente a leptina).
Depois de perder peso, portanto, nós tendemos a compensar tendo mais fome e gastando menos energia durante as mesmas atividades.
"É verdade que o sedentarismo e equívocos dietéticos são pilares importantes do excesso de peso, contudo, fazer exercícios físicos e adotar dieta saudável não trata, mas sim, evita que engordemos", afirma Nascimento.
DRIBLANDO O PLATÔ DO EMAGRECIMENTO
"Perdas ponderais discretas, entre 5% e 10% do peso inicial, podem ser sustentadas por rigorosa determinação pessoal, mas decréscimos mais acentuados raramente permanecem", explica Nascimento.
Portes diz que, no emagrecimento, o corpo precisa de sinalizações de que a perda não é por doença. "A alimentação e a prática regular de atividade física adequadas contribuem para que o corpo se sinta saudável e esses mecanismos não sejam ativados, pois dificultam a perda de peso", afirma.
Segundo Portes, é normal emagrecer mais no começo da dieta porque, geralmente, o consumo de calorias está muito acima do necessário para manter o corpo e basta reduzir a quantidade. O que vem a seguir consiste em persistir nos bons hábitos, aumentando a intensidade dos exercícios gradualmente, dentro da capacidade de cada indivíduo.
Christian Zamprogna Jammal, especialista em Treinamento Esportivo pela UFMG (Universidade Federal de Belo Horizonte) e coordenador técnico da cademia Estúdio Fly, lembra que as transformações do corpo exigem que haja sempre rebalanceamento da ingestão de carboidratos e proteínas conforme a fase alcançada. A atividade física também deve ser proporcional ao gasto calórico necessário. "Com isso, podemos aumentar os estímulos para que o emagrecimento volte a acontecer", diz Jammal.
Portes recomenda escolher uma rotina sustentável para atingir novas perdas, ainda que em menor velocidade que antes. "Devemos sempre lembrar que a obesidade é uma doença e, se for necessário, podemos usar medicamentos seguros, em doses apropriadas, contribuindo para que o paciente atinja seu objetivo de forma saudável", diz.
Escolher bem os alimentos é outra ferramenta para evitar o platô e o reganho. "Muito cuidado com o consumo de álcool. Por ser líquido, muitos menosprezam o seu teor calórico. Cada grama de álcool tem o dobro de calorias de um grama de carboidrato ou de proteína. Só perde para os lipídeos", afirma Portes.
Márcio Lui, personal trainer de celebridades como Sabrina Sato e Sasha Meneguel, diz que cada indivíduo tem sua particularidade a considerar. Ele recomenda que a pessoa tenha no mínimo três atividades diferentes para conseguir benefícios em várias frentes e também para evitar repetição de treinos que possam desestimular a continuidade ou limitar resultados. "Se você faz musculação, tente incluir funcional, corrida, natação ou até mesmo dança", sugere.
FOCO NAS NECESSIDADES INDIVIDUAIS
O cuidado com a alimentação das pessoas idosas deve ser maior para que não haja mais prejuízos do que benefícios. "Deve ser estimulada uma dieta hipocalórica, porém com o consumo bem equilibrado. Um indivíduo que ficou obeso e inativo 30 anos da sua vida, não deve ter expectativa de virar um atleta e chegar ao peso ideal em seis meses", reforça Portes.
Em qualquer situação, os exercícios físicos e o controle dietético seguem sendo impreterivelmente necessários para manutenção da massa corporal, mas para novas estratégias de emagrecimento, deve-se considerar a forma de emagrecimento inicial.
Se o peso estacionário foi alcançado por medidas comportamentais, com adoção de dieta saudável e prática de exercícios, a disciplina é fundamental para manter ou avançar.
No caso de cirurgia bariátrica, o platô ocorre, em média, após dois anos da realização do procedimento e, caso haja necessidade de mais perda de peso, talvez seja preciso auxílio farmacológico prescrito e acompanhado de perto pelo médico.