A incidência de diabetes em todo o mundo aumentou cerca de 16% desde 2019. Hoje, 537 milhões de adultos entre 20 e 79 anos apresentam a doença, ou 1 em cada 10, ante 463 milhões há dois anos.
A situação global é considerada alarmante, podendo fazer com que, até 2030, o número de diabéticos chegue a 643 milhões de adultos, ou 1 em cada 8. Já a estimativa para 2045 é de 784 milhões.
A doença ceifou ainda 6,7 milhões de vidas em 2021, ou 1 a cada 5 segundos -isso sem contar as mortes decorrentes de complicações de outras enfermidades que tiveram efeito agravado pelo diabetes, como a própria Covid-19.
Leia mais:
DIU hormonal pode estar associado a maior risco de câncer de mama em mulheres
Estresse crônico leva a desbalanço da flora intestinal e progressão de câncer colorretal
Primeira morte por dengue no período epidemiológico do PR é confirmada no Norte Pioneiro
Pesquisadores estudam uso de composto na própolis para tratamento de câncer de mama
Os dados são da 10ª Edição do Atlas Diabetes 2021, produzido pela Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês). O relatório completo será publicado no próximo dia 6 de dezembro -resultados preliminares foram divulgados na última sexta (5).
No levantamento anterior, o Brasil tinha 16,8 milhões de adultos vivendo com diabetes, deixando o país na quinta posição no ranking mundial, atrás da China (116,4 milhões), Índia (77 milhões), Estados Unidos (31 milhões) e Paquistão (19,4 milhões).
Como a maioria das doenças crônicas não transmissíveis (NCDs, na sigla em inglês), o diabetes apresenta desigualdade na sua distribuição: cerca de 81% dos portadores estão em países de baixa e média renda. E a maior incidência em países em desenvolvimento traz um outro agravante: o custo que essa e outras doenças crônicas impõem sobre os sistemas de saúde.
Segundo a estimativa da IDF, o custo global com saúde causado pelo diabetes é de US$ 966 bilhões (ou cerca de R$ 5,36 trilhões).
Para Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, é preciso reconhecer que estamos há algumas décadas vivendo uma pandemia de "diabesidade": a combinação de diabetes com obesidade.
"A pandemia da Covid deveria ser um alerta para que a gente levasse muito mais a sério essa outra pandemia de NCDs, uma vez que as principais causas de mortalidade em adultos não idosos foram justamente diabetes, obesidade e hipertensão", diz.
Segundo o médico, além das quase 7 milhões de mortes por diabetes em todo o mundo, é preciso somar uma parcela considerável das mortes de Covid como consequência do diabetes. "Provavelmente 40%, 50% dos óbitos foram em pacientes portadores dessa NCD, o que só reforça como essas doenças devem ser levadas a sério", afirma.
Para ele, o salto de novos casos muito provavelmente resulte também de um aumento de diagnósticos. As estratégias que já foram demonstradas que funcionam para controlar e ampliar o conhecimento de NCDs, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), são a prevenção e o tratamento.
"A prevenção para as NCDs deve vir principalmente de campanhas de conscientização sobre, em primeiro lugar, o que é a doença, porque é importante reconhecê-la e, em segundo lugar, de conversar com um médico para saber qual o tratamento mais adequado para cada paciente", diz Cohen.
Ao se falar em prevenção de diabetes, contudo, o foco deve ser o tipo 2 da doença, que corresponde hoje à parcela entre 95% e 97% dos casos no mundo, explica o médico.
O diabetes tipo 1, cuja origem é genética, não está associado diretamente às outras doenças da chamada síndrome metabólica, como obesidade e colesterol elevado, e consiste em uma produção insuficiente de insulina -daí a necessidade de fazer uso frequente do medicamento.
Já o tipo 2 está frequentemente associado à má alimentação, colesterol, hipertensão, sobrepeso e sedentarismo. Assim como a hipertensão e obesidade, pesquisas recentes já apontam para uma relação direta entre a pobreza e desigualdade no acesso à alimentação saudável com a maior incidência dessas doenças em todo o mundo.
Além disso, as complicações do diabetes, que pode causar danos à retina, aos nervos periféricos, falência renal e até amputações (o chamado pé diabético) elevam a demanda hospitalar e sobrecarregam o sistema de saúde.
Dados detalhados sobre o Brasil devem ser divulgados em 6 de dezembro no relatório do IDF.
Segundo a versão preliminar da pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), do Ministério da Saúde, de setembro deste ano, 8,2% da população do país com mais de 18 anos afirma ter diabetes -cerca de 17 milhões. A incidência é maior entre as mulheres (9%) e cresce conforme a idade (25% dos idosos com 65 anos ou mais responderam ter diabetes).
Conscientização Ricardo Cohen, que também é pesquisador, publicou recentemente um artigo na revista especializada "The Lancet" no qual indica como perder cerca de 15% do peso pode ajudar na remissão de diabetes tipo 2.
"Mas não é simplesmente perder peso", diz o médico. "É importante tirar o estigma de que, assim como na obesidade, o culpado de ter diabetes é o paciente. As campanhas de conscientização nesse caso são fundamentais porque sabemos que existem muitas pessoas com diagnóstico para diabetes que não levam a sério a doença, não se cuidam, porque sabem que a causa é, geralmente, genética e, portanto, acreditam não ter o que fazer."
Uma outra pesquisa coordenada pelo médico e publicada em junho de 2020 no periódico "Jama" (Journal of the American Medical Association) mostra como as cirurgias metabólicas têm eficácia em reduzir até 82% das doenças renais em portadores de diabetes tipo 2.
"Os custos com diálise no SUS hoje são altíssimos, e muitos desses pacientes estão lá por terem diabetes. É nessa frente que devem atuar campanhas de conscientização para agir no estágio inicial da doença. Se você tem diabetes, procure o seu posto de saúde ou um médico, comece o tratamento cedo, não deixe para quando tiver complicações. É muito mais fácil conter um incêndio em um prédio de dez andares que ainda está no primeiro andar do que quando ele já se alastrou para o nono", afirma.