O número de pessoas que tiveram AVC (acidente vascular cerebral) no mundo aumentou em 70% entre 1990 e 2021, aponta estudo publicado nesta quarta-feira (18) na revista científica The Lancet Neurology.
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Também cresceu a quantidade de pessoas que morreram de AVC (44%) e a piora na saúde relacionada ao derrame (32%). Segundo os pesquisadores, a contribuição das altas temperaturas ambientais para a piora na saúde e para as mortes precoces por AVC aumentou em 72% desde 1990.
Os resultados mostram que a condição foi a terceira maior causa de mortes em todo o mundo, atrás da doença arterial coronariana e da Covid. Em 2021, foram 7,3 milhões de óbitos pela doença.
O estudo é o primeiro a revelar a alta contribuição da poluição do ar por material particulado na hemorragia cerebral fatal (hemorragia subaracnoidea)–comparável ao tabagismo, contribuindo com 14% das mortes e incapacidades causadas por esse subtipo de AVC hemorrágico. Além da poluição do ar e das altas temperaturas, fatores de risco metabólicos impulsionam os aumentos globais.
Apesar da pressão alta ainda ser um dos maiores fatores de risco para todos os tipos de AVC combinados (56,8%), a poluição ambiental por partículas fica em segundo lugar (16,6%), seguido de tabagismo (13,8%) e colesterol alto (13%). O ônus aumenta ainda devido ao crescimento populacional e ao aumento de idosos no mundo.
As descobertas desta análise do estudo Global Burden of Disease (GBD) serão apresentadas no Congresso Mundial de AVC, em Abu Dhabi, em outubro. O GBD é o estudo científico global que quantifica a perda de saúde causada por doenças, lesões e fatores de risco. A partir da análise, os pesquisadores estimaram algumas variáveis.
Dentre elas, estão a incidência, prevalência, mortes, os anos saudáveis de vida perdidos devido à doença (DALY, da sigla em inglês para disability-adjusted life-year) para o AVC em geral, AVC isquêmico, hemorragia intracerebral e hemorragia subaracnoidea (subtipos de AVC hemorrágico), para 204 países e territórios de 1990 a 2021.
Além disso, eles calcularam o ônus do AVC atribuível a 23 fatores e seis grandes grupos de risco (poluição do ar, tabagismo, comportamentais, dietéticos, ambientais e metabólicos) nos níveis global e regional utilizando a metodologia padrão do GBD.
Segundo a publicação, o AVC é altamente prevenível: 84% dos casos em 2021 foram atribuídos a fatores modificáveis, como excesso de peso corporal, pressão alta, tabagismo, sedentarismo e poluição–o que indica um desafio de saúde pública.
Estima-se que em todo o mundo, a quantidade geral de incapacidade, doença e morte precoce para o AVC aumentou 32% entre 1990 e 2021, passando de cerca de 121,4 milhões de anos de vida saudável perdidos em 1990 para 160,5 milhões de anos em 2021.
Houve aumentos substanciais nos DALYs atribuíveis ainda ao IMC (índice de massa corporal elevado), alta temperatura ambiente, alta glicose, dieta rica em bebidas açucaradas, baixa atividade física, pressão arterial alta, exposição ao chumbo e dieta pobre em ácidos graxos poli-insaturados ômega-6.
Os autores apontam que medidas eficazes para melhorar a vigilância do AVC e prevenção com ênfase no controle da pressão arterial, melhora no estilo de vida e fatores ambientais precisam ser implementadas com urgência em todos os países para reduzir o ônus do AVC.
"Os números sugerem fortemente que as estratégias de prevenção de AVC atualmente utilizadas não são suficientemente eficazes. Novas estratégias de prevenção populacional e individual devem ser implementadas com urgência em todo o mundo", diz o autor principal Valery L Feigin da Auckland University of Technology, da Nova Zelândia.
Os resultados revelam ainda diferenças marcantes em países de baixa e média renda: Em 2021, 83,3% dos AVCs incidentes, 76,7% dos AVCs prevalentes e 87,2% dos AVCs fatais, e 89,4% das DALYs relacionadas ao AVC ocorreram nesses países.
No geral, o maior ônus de AVC (medida por taxas de incidência padronizadas por idade, prevalência, morte e DALYs) foi observada na Ásia Oriental, Ásia Central e regiões da África subsaariana e a menor nas regiões de alta renda da América do Norte, Australásia e América Latina, com a maioria da carga de AVC nas regiões de Índice de Desenvolvimento Socioeconômico médio, médio-alto e médio-baixo.
Chamou atenção ainda o fato de que metade de toda a incapacidade e vidas perdidas por AVC globalmente em 2021 foram resultado de AVC hemorrágicos– a forma mais letal, principalmente devido à pressão alta– apesar de serem cerca de metade tão comuns quanto os AVC isquêmicos. Os mais afetados foram pessoas com 70 anos ou menos e aqueles que vivem em países de baixa renda.
O estudo se complementa a achados anteriores, que apontaram que as mortes por AVC devem aumentar 47%. Estima-se que, em 2050, esse número matará 9,7 milhões.