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Uma História de Natal

Wellington Moreira
10 jan 2013 às 09:12

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Francisco era o tipo de sujeito que não se empolgava com a proximidade do Natal nem tampouco conseguia entender porque as pessoas ficam tão sensíveis durante esta época do ano. Contudo, não dá para dizer que repudiasse aquilo que cerca a celebração do nascimento do menino Jesus. Ele se mantinha indiferente.

Quando olhamos a sua vida dá pra entender o porquê. Morando sozinho num grande apartamento, separado e sem filhos, com os pais já falecidos e os irmãos residindo em cidades distantes, vivia recluso a maior parte do tempo e seus poucos colegas eram pessoas oriundas do trabalho.

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E este Natal tinha tudo para ser igual aos outros. Já em férias, a sua programação para o dia 24 era acordar tarde, pedir alguma coisa pelo disque entrega no horário do almoço, escolher cinco ou seis filmes na locadora para passar os dias seguintes ligado na TV e comprar alguns enlatados e guloseimas. Afinal, ele acreditava: "Quanto menos eu sair de casa nestes dias, melhor. Esta coisa de ficar dando ‘Feliz Natal’ a todos não é a minha praia!"

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Mas desta vez a história foi diferente. Retornando ao condomínio na tarde daquele mesmo dia, foi abordado por um morador que sempre o cumprimentava rapidamente no elevador. E após uma breve troca de gentilezas, ouviu a pergunta: "O que você vai fazer na noite de hoje? Vai se reunir com a família?" Sem saber direito o que responder, Francisco foi direto: "Acho que vou ficar em casa mesmo e não combinei nada de especial."

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Como o morador conhecia seu peculiar isolamento, fez a proposta: "Já que você não tem algo programado, por que não vem passar a noite de Natal conosco aqui em casa? Vai ser simples, mas creio que irá gostar!". Francisco até tentou esboçar uma negativa, mas surpreso com o convite acabou respondendo que sim.


Entretanto, foi só abrir a porta da sua residência e vários pensamentos começaram a atormentá-lo. "O que vou fazer hoje à noite na casa deles? Nem conheço estas pessoas! Mal as cumprimento no elevador". E sem saber direto o que fazer decidiu: "Eu passo por lá e fico alguns minutinhos. Faço o meu social, não me indisponho com ninguém e depois volto pra casa".

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Às 21h00, conforme o combinado, João apareceu no apartamento 403. Tocando a campainha, foi recebido por um garotinho de dez anos todo sorridente. "Oi tio, tudo bem? Que bom que você veio!" Logo depois cumprimentou uma a uma todas as dez pessoas presentes e passados trinta minutos já se sentia confortável a ponto de falar um pouco sobre sua vida, o que era incomum àquele homem.


Participou de um animado amigo-secreto de última hora, mostrou às três crianças o único truque de mágica que conhecia e também ajudou a pôr o jantar à mesa. Depois acompanhou silenciosamente a oração conduzida pela família que o recebia e pela primeira vez em muitos anos conseguiu se emocionar ao ver o presépio que enfeitava a sala-de-estar.

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Horas depois, ao se despedir de todos, ele mesmo já se via como alguém mais humano e acolhedor. Capaz de surpreender o porteiro ao saudá-lo às 2h30 da manhã com um alegre "Feliz Natal, Seu Jonas!" e de ligar para os familiares no dia seguinte pela manhã para saber como estavam.


O que será que aconteceu com o Francisco na Noite de Natal? Ele redescobriu o valor da convivência e a alegria de compartilhar. E aprendeu como um ser humano pode mudar a vida de seu semelhante ao interessar-se de modo genuíno e sem esperar nada em troca.


Obteve a graça de saber a tempo que entrega à vida muito menos do que ela lhe dá, mas isto vai mudar logo. Como disse há pouco: "Finalmente acordei".


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