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Como nasce um hábito

Wellington Moreira
07 mai 2013 às 09:34

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Estudos realizados pelo cirurgião plástico americano Maxwell Maltz durante a década de 1960 revelaram que o cérebro de pessoas amputadas leva 21 dias para assimilar que seu corpo não possui mais o membro extirpado. É por isto que durante algum tempo elas continuam a cumprir alguns gestos corriqueiros, como estender a mão para tocar um objeto, mesmo não contando mais com esta parte do corpo.

Foi a partir daí que surgiu a chamada teoria ou princípio dos 21 dias na qual estudiosos defendem que se repetirmos um comportamento durante três semanas, ininterruptamente, ele acabará se tornando um hábito. Logo, a ideia básica é: quando precisar aderir a uma nova conduta, reproduza-a durante 21 dias a fim de que o seu cérebro desaprenda o antigo modus operandi e assimile o novo, concretizando o processo de mudança.

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Mais recentemente, a psicóloga britânica Phillippa Lally conduziu um experimento na Universidade College, de Londres, na qual solicitou a 96 alunos que abraçassem um novo hábito diário – como comer uma fruta após o almoço ou praticar 15 minutos de exercícios físicos – e o repetissem durante doze semanas. Os resultados publicados na European Journal of Social Psychology revelam que a linha de automaticidade alcançou uma constante após 66 dias. Ou seja, após esse período as atividades que antes eram estranhas passaram a ser naturais para os voluntários.

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Tais estudos provam o senso comum de que muitas pessoas não conseguem mudar hábitos simplesmente porque lhes falta tenacidade, desistindo antes que os resultados apareçam. É o caso de quem começa a frequentar uma academia e, diante dos precários resultados das primeiras semanas, acaba desistindo sem perceber que a mudança em seu corpo já estava em curso.

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Portanto, a palavra-chave é consistência. Se você quer testemunhar transformações rápidas e fundamentadas apenas em euforia prepare-se para o fracasso, afinal a empolgação é um combustível de baixa octanagem e consumo rápido. As grandes mudanças que operamos na vida ocorrem sem alarde e são construídas por meio da melhoria contínua dia após dia.


Lembre-se das crianças de dez anos. Quando alguma delas começa a estudar um instrumento como o violão, mal consegue apoiá-lo em seus braços, no entanto seis meses depois já se sente confortável para tocar as primeiras canções e em dois anos algumas evoluem a olhos vistos. Enquanto isto, o adulto que iniciou as aulas ao lado dela desistiu após três meses e conserva o sentimento de "não nasci para isto", se estiver na média da população.

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Quanto mais jovens somos mais nos abrimos às mudanças e quanto mais experientes nos tornamos mais nos prendemos à lei da inércia e às rotinas. É por isto que respeito quem decide operar transformações sensíveis em suas vidas mesmo quando tudo está caminhando bem. Ele sabe que até para permanecer no mesmo lugar, é necessário se pôr em movimento e desafiar as verdades que carrega dentro de si.


Da mesma forma que os animais são orientados pelos seus instintos, somos dirigidos pelos nossos hábitos. Isto explica a dificuldade para realizar até mesmo pequenas transformações, como utilizar o relógio no outro pulso. O problema é que algumas práticas que carregamos podem ser extremamente danosas à carreira, à vida conjugal e aos relacionamentos com os outros e conosco mesmos.


Como vimos, a resistência à mudança de hábito advém das crenças pessoais e êxitos ou fracassos passados, mas é possível facilitar as coisas com a repetição diária da conduta desejada e ao correlacioná-la a uma meta clara e significante. Algum tempo atrás um amigo largou o cigarro após tragá-lo durante três décadas e, segundo ele, uma frase do seu médico foi decisiva: "Ou você para de fumar agora ou morrerá em dois anos". Creio não haveria argumento mais sensível para quem tem filhos pequenos.


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