João era funcionário de uma média empresa e vivia insatisfeito com o seu salário. Por isto, certo dia ele procurou a profissional responsável pela área de Recursos Humanos para reclamar da remuneração e seus argumentos pareciam sólidos. Paralelamente a isto, o gestor do depósito de mercadorias da companhia, um dos principais departamentos do negócio em questão, estava se desligando.
Ciente das intenções de João, o diretor administrativo propôs a ele que encarasse o desafio de gerenciar o depósito, pois mesmo sendo um cargo
bem diferente daquele que ocupava até então, a maturidade profissional que já demonstrava no dia a dia o habilitava a enfrentar e vencer qualquer obstáculo que surgisse neste novo cargo. Com os olhos brilhando, uma boa promoção garantida e o salário reajustado em 60% o colaborador aceitou na hora.
Logo na sequência, o diretor chamou o único subordinado de João até sua sala e o promoveu para o cargo anteriormente ocupado pelo seu antigo chefe e todos pareciam muito felizes. Contudo, duas horas após o término dessa reunião, João se dirigiu ao RH e disse: "Após pensar melhor a respeito, eu não quero ir para o depósito".
Imagine a surpresa da profissional responsável pelo RH e do seu diretor com este retorno inesperado. Como alguém com tamanha convicção pôde mudar de ideia tão bruscamente? Perguntado sobre o que aconteceu durante aquelas duas horas, João afirmou de modo sereno: "Nada. Só pensei melhor".
Mas no meio de toda esta confusão ainda havia outro problema: o antigo cargo do João já fora prometido ao seu subordinado e o diretor não pretendia desfazer esta promoção temendo a insegurança que tal recuo criaria nos demais colaboradores que futuramente recebessem convites de natureza semelhante. Então o próprio diretor se reuniu com João no dia seguinte a fim de sensibilizá-lo a respeito, mas este manteve seu último posicionamento, parecendo realmente decidido. Final da história: o diretor teve que demitir quem pretendia promover.
Você deve estar se perguntando o que a empresa deixou de fazer? Especificamente neste caso João teria todo o apoio da direção durante os meses seguintes para que o seu trabalho desse certo e receberia carta branca para substituir pessoas e reorganizar os processos de trabalho caso julgasse estas medidas como necessárias. Então, o que o fez desistir? Tudo leva a crer que o motivo esteja diretamente ligado ao receio de assumir as responsabilidades que teria dali em diante.
É comum que as pessoas estejam dispostas a ganhar mais, mas várias delas se sentem desconfortáveis quando descobrem que para isto terão de sustentar encargos muito maiores e a certeza de que o bom e o mau trabalho - principalmente este - repercutirão de uma forma diferente daquela com a qual estavam acostumadas até então. "Vou ficar quieto aqui no meu canto para não correr o risco de me queimar lá na frente", algumas dizem e parece ser aquilo que aconteceu com o João.
Por outro lado, é importante destacar que mesmo os profissionais altamente motivados com uma promoção de cargo precisam conter a empolgação quando não estão capacitados tecnicamente para os novos desafios que se apresentam. E, acima de tudo, devem negociar o suporte que a empresa lhes dará enquanto estiverem se adaptando à nova posição a fim de pouparem seus currículos de erros tolos.
Quando a pessoa dá um salto em sua carreira os bônus vêm, mas sem sombra de dúvidas os ônus tendem a ser superiores no curto prazo e o profissional ainda precisa aprender a lidar com a insegurança de não saber se os resultados almejados virão. A única certeza é que ao ser promovido não há mais volta para o cargo anterior, pelo menos na empresa aonde o profissional atua. O João que nos diga.
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