Em 1990 um estudo sobre o alto grau de desnutrição de crianças vietnamitas realizado em diferentes lugarejos apontava que em algumas poucas famílias de cada comunidade todos os filhos eram extremamente sadios, mesmo vivendo numa realidade igual àquela de seus semelhantes.
Percebendo isto, o professor Marian Zeitlin, responsável pelas pesquisas, sugeriu uma abordagem totalmente inovadora à sua equipe. Em vez de analisar os problemas que estavam causando desnutrição na imensa maioria das crianças e depois indicar soluções convencionais para resolvê-los, todos deveriam observar de perto a realidade destas famílias nas quais as crianças cresciam sadias a fim de aprender o que elas faziam e dava muito certo. Ou seja, precisariam descobrir os porquês das exceções bem-sucedidas.
Para se ter uma ideia, numa determinada vila identificaram que as mães que orientavam os filhos a lavarem as mãos antes das refeições e evitavam que estes dormissem no chão frio possuíam um desenvolvimento muito superior às demais. Parece óbvio, mas não eram estas as soluções que vinham à cabeça dos especialistas até então e tampouco resolveria o quadro caótico de outras comunidades; contudo, fazia uma diferença enorme naquele lugar.
Este fenômeno foi chamado de Desvio Positivo, que se resume no princípio de não concentrar os esforços naquilo que acontece de errado em determinada situação e sim analisar o comportamento bom e exemplar que difere da maioria. Portanto, parte do pressuposto de que a solução está dentro do próprio grupo, afinal ninguém é mais especialista do que ele mesmo para resolver seus problemas.
O mais interessante desta abordagem é que as respostas encontradas são provas sociais e não saídas hipotéticas trazidas de fora da realidade em questão. Promove-se a mudança via reprodução e adaptação daquilo que já vem dando certo.
O casal Monique e Jerry Sternin, autores do livro "O Poder do Desvio Positivo" (Ed. Bookman), é um dos grandes expoentes mundiais do método. Eles o aplicaram em comunidades de 41 países nos últimos anos e a desnutrição infantil reduziu de 30 a 50% em cada uma delas. Utilizado também em hospitais norte-americanos, ajudou a diminuir de 30 a 60% as transmissões de bactérias que causavam diversas infecções. E estes são apenas alguns dos casos de sucesso.
Todavia, os Sternin tiveram que lidar com algumas resistências iniciais até entenderem que não bastava indicarem às pessoas o que precisava ser feito, era imprescindível engajarem-nas profundamente para que adotassem as recomendações. O próprio Jerry diz: "Percebemos que os fracassos ocorriam quando agíamos baseados na premissa de que uma vez que as pessoas ‘soubessem’ alguma coisa esse conhecimento as levaria a fazer algo".
Dentro do mundo corporativo o conceito também é aplicável. Se você quer orientar a sua carreira por este paradigma, por exemplo, comece a observar atentamente quais são os seus pontos fortes e invista cada vez mais energia para que eles propiciem resultados expressivos visíveis. Quem fica exageradamente focado em melhorar os pontos fracos acaba não sendo ótimo em nada, ainda que tenhamos de concordar que não é possível negligenciá-los.
Ao mesmo tempo, imagine uma equipe com dez vendedores. Destes, apenas dois conseguem números significativos constantemente, enquanto que os outros oito oscilam e produzem bem menos. Se você é gestor deste time, observe e identifique as boas práticas e comportamentos apresentados pelos dois desviantes positivos e depois encontre uma forma de treinar e engajar os demais vendedores a empregarem aquilo que funciona de verdade.
O Desvio Positivo nos convida a analisar as dificuldades utilizando novos óculos, no entanto para isto precisamos ter o genuíno interesse de descobrir exceções ao pensamento e à prática convencionais.
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