Carlos Slim, o homem mais rico do mundo, e Larry Page, presidente-executivo do Google, defenderam praticamente a mesma coisa recentemente: as pessoas deveriam trabalhar menos dias da semana para serem mais felizes e produtivas. Mas especialistas dizem que a estratégia pode não funcionar para todos os setores, além de não deixar todo mundo contente.
Cargos de confiança são porta para entrar no governo sem concurso Gregorio Duvivier e executivos definem o 'glossário' corporativo Para o bilionário mexicano, o melhor seria que as pessoas trabalhassem apenas três dias por semana, às vezes por até 11 horas diárias, com carreiras mais longas, até os 70 anos de idade.
No Brasil, algumas empresas estão tentando colocar em prática variações desse modelo. Na Itaro.com, um e-commerce de pneus, os profissionais das áreas de logística, marketing, vendas e finanças podem tirar um dia da semana para cuidar de assuntos pessoais.
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No caso da empresa, a justificativa não é exatamente o bem-estar ou a produtividade dos
funcionários, mas sim algo econômico: conseguir bons funcionários sem pagar salários muito altos.
"Somos uma start-up [empresa iniciante] e precisamos atrair talentos, mas não temos como pagar salários iguais aos de grandes empresas", afirma o diretor-executivo Aubert Issachar.
A Ecommet, uma empresa de tecnologia com 31 funcionários, é mais ousada. A equipe comercial da companhia trabalha com metas mensais. Quando elas são atingidas, os profissionais podem tirar folgas até o próximo mês.
"É uma questão motivacional. Antes, eles batiam a meta no fim do mês, ou não batiam. Agora, o alvo é alcançado no dia 22 e alguns preferem continuar trabalhando para ganhar mais comissões", diz o sócio da empresa, Frederico Flores, 27.
A Mondelez, multinacional dona de marcas como Lacta e Trident, dispensa os 1.500 profissionais da área administrativa de São Paulo mais cedo, às 13h, duas sextas-feiras por mês. As horas restantes devem ser compensadas.
A prática foi implementada em 2011 como forma de reduzir o banco de horas dos funcionários, que cresce no fim do ano, por causa do ritmo de trabalho.
"Não é obrigatório, mas a empresa tenta incentivar que as pessoas saiam mais cedo, fechando
áreas de alimentação", conta Nivia Belopede, gerente da companhia.
Para Elaine Saad, vice-presidente da ABRH (associação de recursos humanos), esse tipo de benefício não funciona para todo mundo. "Nem sempre o tempo é uma questão valiosa para todos", diz.
Marco Tulio Zanini, professor da Fundação Getulio Vargas, faz coro. "Não dá para afirmar que esse tipo de benefício aumenta a produtividade dos profissionais. É preciso que haja uma discussão entre funcionário e empregador para adequação das necessidades de cada um."
Segundo Saad, é importante que esse tipo de política seja muito clara. "Se a pessoa pode sair na sexta-feira e não sai, é preciso dizer que ela não pode tirar essas horas em outro dia. Isso pode gerar implicações trabalhistas se não for bem explicado."
A redução de dias ou de horas em que se trabalha pode ser mais difícil em uma era em que, com a tecnologia, pode-se trabalhar de qualquer lugar e a qualquer hora.
"Se você falar para um jovem que ele não pode abrir o e-mail porque não está no horário de trabalho, ele vai rir de você", afirma Sólon Cunha, sócio do escritório de advocacia Machado Meyer.
Ele diz que algumas empresas já tomam iniciativas espontâneas quanto a isso, desligando o acesso do empregado à base tecnológica da companhia a partir de determinada hora. "Tirar a ferramenta do empregado para ele não usá-la me parece meio rústico. As pessoas têm que se impor limites", opina.
No caso de Page, do Google, a proposta é reduzir as horas trabalhadas na semana e também trocar funcionários de período integral por profissionais de meio período, o que poderia gerar mais empregos.
Esse tipo de medida é polêmica no Brasil. Tramita na Câmara há quase uma década a PEC 231, proposta de emenda constitucional que diminui a carga horária semanal de 44 para 40 horas e aumenta o valor da hora extra para 75% sobre o preço da hora normal. A medida, defendida por sindicatos, tem resistência de empresários.
Para Romeu Bueno de Camargo, assessor jurídico da Fecomercio-SP, a redução da jornada pode ter impacto negativo sobre os principais setores do mercado de trabalho, a indústria e o comércio, inibindo contratações.
Isso porque, nesses ramos, obrigatoriamente alguém precisa estar trabalhando em certos períodos para atender clientes ou estar na linha de produção.
Um estudo da instituição indica que, se não houver aumento de produtividade, a redução na jornada e o aumento da hora extra podem gerar aumento de 17,5% na folha de pagamento das empresas. Mas ele afirma que as políticas de redução de jornada podem ser positivas em alguns mercados.
"Há setores que conseguem substituir a mão de obra por automação [bancos, montadoras deautomóveis e grandes grupos econômicos], trabalhando com contingente menor e mais qualificado de empregados, o que facilita a negociação sobre jornadas diferenciadas", diz.
Fonte: Folha de São Paulo