Semanas atrás assistia a um desses reality shows sobre culinária que passam nos mais diferentes tipos de canal, quando um dos jurados aconselhou certo participante: "Não tente ser chef de cozinha antes de se tornar um bom cozinheiro".
Ele estava dizendo algo do tipo: "Aprenda a fazer o feijão-com-arroz direitinho, certifique-se de que você realmente domina o básico e só depois arrisque-se a construir um estilo propriamente seu". Ou ainda: "Execute o simples com perfeição, daí eu te dou liberdade para inventar".
O problema é que feijão-com-arroz não tem nada de glamouroso para quem acredita que sucesso no trabalho é construído a base de títulos pomposos em idioma estrangeiro e emitidos por instituições de origem duvidosa. Para essas pessoas o importante é amealhar o quanto puderem de Master Professional em alguma coisa.
Contudo, se você quer construir uma carreira sólida de verdade, tenha em mente que só existem três opções: tornar-se um generalista respeitado, especializar-se de verdade ou então transformar-se em autoridade na área em que decidiu atuar.
Generalista é a pessoa que conhece um pouco de cada coisa e consegue navegar pelas mais diferentes disciplinas. Aquele tipo de gente que, numa roda entre amigos, discute medicina, engenharia ou administração sem falar grandes besteiras, causa admiração por sua visão de mundo alargada e costuma ser consultado pelos colegas de empresa quando surge algum impasse. Aliás, é aí que comprovamos o valor das pessoas generalistas: são elas que geralmente compreendem os problemas de maior magnitude e têm capacidade de articular os
esforços do grupo para resolver tais questões.
Como existe uma interdependência cada vez maior entre as diferentes áreas, os profissionais com formação multidisciplinar gozarão de grande prestígio a partir de agora, como é o caso de quem combina educação em química e robótica, por exemplo. Enquanto isto, quem escolhe ser generalista apenas dentro do seu campo de atuação profissional, continuará sendo visto como medíocre e pouco confiável.
Especialista é quem sabe muito acerca de um determinado campo do conhecimento e domina boa parte daquilo que se relaciona a ele. Na sociedade atual, é praticamente impossível se opor à importância da especialização, no entanto antes de optar por este caminho analise qual é a projeção de crescimento da área escolhida nos próximos anos. Ela ainda aparenta ter fôlego ou já apresenta traços de decadência? É comum encontrarmos pessoas que dedicam sua formação naquilo que não lhes oferece um futuro promissor e nem se dão conta disso.
E é claro, analise a concorrência. Tem muita gente se especializando naquilo que você também pretende fazer? A atratividade de qualquer segmento de atuação é inversamente proporcional à oferta daquele tipo de serviço no mercado.
A última opção é tornar-se uma grande autoridade em seu campo de especialização. Para isso, antes de mais nada, avalie qual é a sua motivação: está em busca de status, prestígio ou é movido pelo espírito de serviço? Qualquer pessoa que atingiu o topo na profissão teve que fazer uma série de renúncias em vários campos da vida durante longos anos e não são poucos aqueles que depois se arrependem de terem dedicado seu precioso tempo para alcançar algo que somente agora percebem ser "perfumaria barata".
Outro fator que reforça a importância da real motivação de quem busca ser autoridade no assunto é uma triste constatação: a maior parte das pessoas que atinge o ápice só recebe o reconhecimento público depois da morte. Pior: alguns, ainda vivem os últimos dias da vida incompreendidos pela maioria, já que estão à frente do seu tempo.
As três opções de carreira podem ser muito atrativas se você sabe exatamente o que quer da vida e toma alguns poucos cuidados centrais. Só vale a pena ser generalista se conserva interesses em vários campos do conhecimento, ser especialista se aquilo que você sabe é relevante e escasso para quem pode contratá-lo e uma autoridade no assunto se estiver disposto a dedicar sua vida à profissão que escolheu.