Alguns problemas organizacionais, mesmo podendo ser resolvidos rapidamente, às vezes acabam empurrados com a barriga durante vários meses sem um motivo aparente. É o caso daquele projeto que a direção dizia considerar importantíssimo, mas jamais saiu do papel. E daí vem a pergunta: Por que isso ocorre nas empresas?
A questão é que muitas decisões corporativas e a implementação delas são afetadas pela agenda oculta existente. Isto é, as coisas não acontecem porque pessoas-chave no processo têm motivações diferentes daquelas que expressam publicamente. No linguajar do dia a dia, guardam "segundas intenções".
Recordo-me que, vinte anos atrás, participei de uma reunião em que meu chefe e três outros gestores foram até um restaurante com o objetivo de discutir como lidariam dali em diante com um profissional de baixa performance que comprometia o trabalho de várias áreas, mas dificilmente seria demitido por causa da ligação estreita que mantinha com o principal diretor da unidade. Ou seja, alguém que tinha "costas quentes".
No meio da conversa, um dos gerentes propôs: "Vamos convidá-lo para dirigir o projeto X". Na mesma hora, um outro disse: "Você está maluco? Ele não vai dar conta do recado de jeito nenhum! Além disso, o que queremos é que seja demitido e não que receba uma promoção". Quem deu a ideia, argumentou: "O projeto é relevante e ele não tem competência para dar conta do recado. Se queremos vê-lo demitido, então precisamos criar uma situação na qual a permanência dele se torne insustentável. Na posição atual, a sua incompetência jamais ficará evidente".
É isso mesmo! A pessoa foi promovida para ser demitida seis meses depois quando o projeto naufragou e ninguém mais tinha coragem de mantê-lo por ali. Nem mesmo o diretor que, a essa altura, já começava a ser questionado por outras decisões infelizes. Como nesta história, muitas vezes, a agenda oculta é o que dita aquilo que acontece no dia a dia de uma companhia.
Organizações pouco transparentes e adeptas do binômio comando-controle geralmente são terreno fértil para esse tipo de prática porque o ambiente de trabalho nesses lugares é permeado pela desconfiança e, com o intuito de sobreviver, muita gente recorre a golpes baixos. Inclusive, criar factoides propagados pela "rádio-corredor".
Empresas pouco transparentes perdem muito porque as pessoas sentem a necessidade de se questionar a toda hora: O que está por trás daquela decisão do meu gestor? O que o meu colega quis dizer quando fez aquela pergunta hoje de manhã? Por que eles não me chamaram para o treinamento de ontem à noite? Há um desgaste tentando entender o jogo de xadrez no qual estão inseridas. Mesmo quando ninguém está jogando, elas ainda continuam achando que sim. Raciocinam: "Aí tem".
Comece a se perguntar a partir de hoje: "Por que as pessoas resistem àquelas duas ou três ideias que mudarão a empresa para melhor se forem implantadas a partir de hoje mesmo?" Certamente você chegará a um veredicto: as coisas não saem do papel porque alguém com poder legítimo, autoridade formal ou influência pessoal simplesmente não quer. Até percebe que a iniciativa pode ser boa para a empresa, mas lhe traz algum tipo de prejuízo.
Diferentemente, nas companhias em que as pessoas são convidadas a serem transparentes – mesmo nos momentos difíceis –, os vínculos são construídos com base na confiança e quaisquer movimentos contrários a este valor são alvo de questionamento. Dissimulação, manipulação e outras artimanhas não tem vez.
Se você trabalha numa empresa com esse perfil, apenas não esqueça de que, possivelmente, assim mesmo terá de lidar com clientes, fornecedores e parceiros que adoram se relacionar com intenções ocultas. Quanto mais você se tornar hábil em decifrá-las, mais chances terá de alcançar aquilo que deseja. Pense nisso!