As primeiras semanas do governo Donald Trump nos EUA realmente cumpriram as expectativas criadas desde a sua eleição. Mas o que todo mundo se pergunta é: o homem que está à frente do cargo mais poderoso do mundo é realmente audacioso ou apenas um aventureiro que, ao longo dos próximos anos, vai provocar estragos em seu país e arrumar briga com quase todo mundo fora dele?
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Pessoas audaciosas geralmente são reconhecidas pela ousadia de estabelecer e alcançar grandes objetivos. Elas empreendem em terrenos nos quais muitos não pisariam, se atrevem a fazer aquilo que assombra quase todo mundo e parecem ter uma noção ampliada do sistema no qual estão inseridas. Provocam aquela sensação: "Como ele teve coragem de fazer isso?"
Quando você escuta alguém falando que vai fazer algo que foge ao senso comum ou pode ser considerado extraordinário, ainda não sabe se essa pessoa é audaciosa ou simplesmente uma aventureira. A névoa só vai sendo superada a partir do momento que passa a observar como ela planeja realizar aquilo que diz.
Poderíamos citar inúmeros exemplos de pessoas que se aventuraram, mas o caso do padre Adelir de Carli talvez seja o mais expressivo. Conhecido nacionalmente como o Padre dos Balões, você deve recordar que em abril de 2008 ele decolou de Paranaguá numa tarde nublada suspenso por mil balões de hélio coloridos com a intenção de aterrissar em Dourados (MS), mas tudo deu errado e seus restos mortais foram encontrados em mar aberto na região de Maricá (RJ) dois meses depois. Uma loucura quando olhamos em perspectiva para tudo o que acabou acontecendo, mas que na época muita gente acreditava ser um plano audacioso. O que faltou? Antes de mais nada, bom senso.
Algo muito diferente do que acontece com empreitadas de pessoas como o navegador Amyr Klink. Quando ele ainda era um simples desconhecido e fez sua primeira viagem num pequeno barco a remo em 1984 – percorrendo o caminho entre Luderitz (Namíbia) e Salvador em exatos cem dias e solitariamente –, quase todo mundo achava que se tratasse de um aventureiro. Contudo, preparado, ele conhecia as correntes marítimas e os ventos que predominavam no Atlântico Sul, optou por um caminho mais longo – mas que o traria para o Brasil em vez de fazê-lo retornar à África – e ainda conseguiu a proeza de acondicionar no barco água e alimentos suficientes para a travessia.
Esses conceitos também se aplicam à realidade organizacional, já que encontramos empresas das duas espécies. Aquelas que têm um plano grandioso, mas não sabem o que precisa ser feito para chegar lá, são companhias que preferem brincar com a sorte e se aventuram no mercado. Por outro lado, quem possui uma visão de futuro desafiadora e tem competência suficiente para liderar seu mercado certamente pode ser chamada de audaciosa.
Da mesma forma, se o assunto é gestão da carreira, lá estão os audaciosos e os aventureiros. Esses últimos, por exemplo, somam cursos e habilidades desconexas em seu portfólio, mudam de empresa em intervalos curtos de tempo e sempre estão animados com novidades que logo abandonarão. Já os audaciosos são aqueles que adquirem o tipo de background que a maioria não tem, fazem trabalhos que outros não são competentes para realizar ou simplesmente se mantêm na vanguarda do novo que está para chegar.
Mas lembre-se de que a audácia nem sempre é bem-sucedida. Numa ou noutra vez, vai acontecer de você fazer tudo direitinho e no fim da história não chegar aonde queria. Isso faz parte da vida. O que precisa ter em mente é que atuar de modo atropelado (seduzido pelo espírito aventureiro) é tão ruim quanto não fazer nada (optar pela letargia).
Além disso, em alguns momentos da sua vida, você terá de tomar decisões difíceis numa realidade de incertezas e ficará tentado a se questionar "Agora estou sendo audacioso ou aventureiro?" e não encontrará uma resposta certeira naquela hora. Você terá de esperar os resultados, pois são eles que dizem quem você é ou foi. E o mesmo vale para o Trump.