Londrina

Então, é Natal... Entenda como diferentes religiões celebram a data

23 dez 2023 às 08:00

Quando se fala em Natal, logo surge a imagem de uma mesa farta, presentes, decorações brilhantes, família reunida, e claro, o Papai Noel. A festa tem muitos significados e tradições ao redor do mundo e não é mais exclusivamente associada a uma data religiosa.


A adoção do Natal como uma comemoração ao nascimento de Jesus Cristo pela Igreja Católica é incerta e a celebração ligada à data nem sempre teve esse significado. Antes disso, o dia 25 de dezembro marcava a celebração do solstício de inverno e o ressurgimento do sol no Hemisfério Norte. Por conta disso, era o dia de homenagear o deus pagão do sol, Mitras.


Assim, a associação da data com o nascimento de Jesus, segundo a Enciclopédia Britannica, acontece pela primeira vez em Roma, quando a Igreja Católica buscou uma maneira de ocultar essa festa pagã.


A partir disso, ficou decidido que se seria celebrado o nascimento de Jesus Cristo como uma forma de representar o renascimento da luz – o que não difere muito da ideia original da festa, mas muda a forma de celebração.


Apesar dessa associação com o cristianismo, outras religiões comemoram a data à sua própria maneira, com significados e ritos diferentes. No Brasil, embora a religião católica represente 50% da população, segundo pesquisa do Datafolha de 2020, temos também outras religiões das mais diferentes origens, como o judaísmo, a umbanda, o candomblé, o budismo e os messiânicos.


Shabat e Chanukah


Para o judaísmo, o Natal é uma festa cristã e, portanto, não tem nenhuma ligação com a religião. O rabino Charton Baggio explica que a união da família especialmente para o dia do Natal é algo que a comunidade judaica já pratica todos os sábados, celebrando o Shabat.


“Nossa comunidade vê o Natal como uma celebração em que une a família, trocam-se presentes e vive-se um momento de paz e confraternização. Nós, judeus, vivemos isso todas as semanas celebrando o Shabat (sábado), em que Deus nos ordena descansar e nos separarmos dos seis dias de trabalho. É nosso momento de estarmos com a família, de confraternizarmos e de buscarmos a paz em nós e entre nós - a shalom.”


Ele explica ainda que há a possibilidade de a festa de Chanukah acontecer ao mesmo tempo que o Natal cristão, já que ela muda de data todos os anos, e que assim, há a celebração em comemoração a isso. Mas, caso essas duas celebrações não caiam no dia 25, não há nenhuma comemoração.


“Na Chanukah (lê-se ranuká), que, inclusive, é citada no Novo Testamento como a festa das luzes, celebramos por oito dias, com o acendimento de velas, a vitória contra a tirania e o mau, e a lembrança de que Deus sempre está nos cuidando, não importam as adversidades.”


Jesus Cristo e Pai Oxalá



A umbanda é uma religião plural e que possui muitas variações regionais, assim, vamos focar na prática feita pela casa de umbanda Cantinho do Pai João, de Londrina, onde, segundo o Pai Rafael, o Natal é uma data de celebração do nascimento de Cristo e também da fé no Pai Oxalá. 


Pai Rafael explica ainda que a umbanda engloba elementos de crenças afromeríndias, do catolicismo e do espiritismo. “Assim, no Natal, cada família tem seu rito particular, muito parecido com o de qualquer cristão. A diferença é que, para o rito praticado em nossa casa, Cristo e o orixá Oxalá são imagens que se encontram, e não que divergem, nos ensinando que é possível se fortalecer em contato com duas tradições diferentes”, explica.


A partir desta visão, no Natal, os umbandistas da Casa do Pai João celebram a fusão do nascimento de Cristo e a fé em Pai Oxalá. “Entendemos que existam casas de umbanda no Brasil que não praticam este sincretismo e respeitamos, salientando que cada manifestação da umbanda merece respeito em suas particularidades”, afirma.


Candomblé



Líder religiosa do candomblé, Camila Tassia de Lima, a Mãe Camila de Oxoguian, explica que o Natal, para os seguidores de sua casa, não é visto só como a celebração do aniversário de Jesus, mas, sim, como o dia de celebrar todos os mestres que vieram deixar uma mensagem de Deus na terra.


“No candomblé que eu pratico, não temos um rito específico para celebrar o Natal. Temos a ceia normal da véspera do feriado. O candomblé é católico, também. Acreditamos em Jesus, mas, não só nele, então, para nós, dentro do plano espiritual, o dia 25 de dezembro não é só o nascimento de Cristo, mas, também, de o dia de Oxalá, de Buda, etc. Na verdade, é o dia de celebrar a mensagem de Deus na Terra e todos os seus filhos, de celebrar o aniversário de todos os mestres que já passaram por aqui”, ensina.


Prática do dia a dia do budismo



Para os budistas, o dia 25 de dezembro representa a data em que os cristãos celebram o nascimento de Jesus, portanto, não há nenhuma comemoração. Os seguidores comemoram as datas importantes com festivais ou cerimoniais que incentivem a prática dos ensinamentos de Buda Shakamuni no dia a dia.


“Não celebramos nenhuma data importante de nenhuma outra religião, apenas as datas importantes para o Budismo e, em todas elas, realizamos festivais ou cerimonias que incentivem o fortalecimento da prática dos ensinamentos do Buda Shakamuni” explica o monge Jyunsho Yoshikawa que atua no Templo Hompoji.


Aniversário do 'nosso messias'


Os messiânicos respeitam e reconhecem o Natal pela importância que tem para os cristãos, mas, não existe nenhuma ligação com esta religião, explica o ministro Marcos Humberto Paulon. “Nós não comemoramos o Natal de Jesus Cristo. Não seguimos a bíblia como nossa orientação espiritual”, ensina.


Para eles, a comemoração que existe em dezembro é feita no dia 23, quando se celebra o aniversário de Meishu-Sama, nome religioso de Mokiti Okada. “Ele é o nosso fundador. Meishu-Sama nasceu em 23 de dezembro de 1882, faria 141 anos de nascimento e todo 23 de dezembro nós realizamos um culto especial em agradecimento ao fundador da religião”, explica.


Assim, com todas as particularidades e diferentes crenças, as família do Brasil se preparam para o Natal, seja para reunir a família e celebrar, seja para participar de cultos especiais, ou até mesmo para não celebrar e encarar o dia como se fosse qualquer outro. O importante é entender que não importam as diferenças, é preciso haver respeito com todas as religiões e crenças.


(*Sob supervisão de Luís Fernando Wiltemburg)


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