Cerca de 43 milhões de brasileiros frequentam diariamente a padaria. O cheiro de pão fresco - produto recorde nas vendas de qualquer estabelecimento -, pode vir da padaria da esquina, daquela tradicional frequentada desde a infância ou até mesmo da casa de fachada moderna. O Brasil conta com 52 mil padarias que movimentam em média, R$ 38 bilhões por ano, segunda dados da Associação Brasileira da Indústria da Panificação (Abip). O número de estabalecimentos retrata o volume de histórias recheadas de receitas exclusivas e conceitos de comercialização que primam pelos anseios do público-alvo. Entre quilos e mais quilos de farinha, Curitiba não fica para trás e apresenta sabores para todos os paladares e cantinhos para diversos momentos.
Exemplo de ''eu comia este pão na casa da vovó'' é a Padaria América. A marca é de 1913 e hoje é comandada pelos bisnetos do fundador, o padeiro Eduardo Engelhardt, que também herdou os dotes culinários do pai dele, o imigrante alemão Friedrich Philipp Engelhardt. Localizada próxima ao Centro Histórico da cidade, a pequena loja guarda 95 anos de lembranças e ainda produz a broa de centeio (R$ 4,70) - carro chefe das vendas, cerca de 400 ao dia -, com a receita original trazida da Alemanha.
O padeiro agora é Eduardo Henrique Engelhardt, bisneto do fundador e aprendiz do avô, o padeiro Evaldo Ernesto Engelhardt, conhecido como seu Bruda, que passou a adiante o ofício do pai. ''Foi ele que me ensinou tudo e minha maior lembrança é vê-lo trabalhando na massa, me dizendo que sem esforço não chegamos em lugar algum'', conta ao mostrar uma misturadora italiana de 100 anos. Eduardo trabalha 12 horas por dia para manter o clima nostálgico que conquistou uma vasta clientela de vários cantos da cidade. A tradição está impressa nos 150 itens da casa, produzidos todos os dias com meia tonelada de farinha de trigo.
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Na mesma linha tradicional, a Confeitaria das Famílias entrou para a história dos bolos brasileiros com uma receita um tanto curiosa: a torta Marta Rocha, feita pelo fundador da casa, o imigrante espanhol Jesus Alvarez Terzado. A iguaria é muito conhecida no Sul do País e foi criada em homenagem à miss Brasil de mesmo nome, quando ela perdeu o título de miss Universo em 1954. a invenção foi para consolar a esposa, Dona Dair, que não acreditava na derrota.
A torta é feita com massa de pão-de-ló branco, pão-de-ló escuro de chocolate, crocante de nozes e nata. Custa R$ 23,00 o quilo, o mesmo preço das demais tortas. Muito famosa pelos doces, também faz sucesso em mais de 200 itens no balcão. Os quitutes e salgados custam R$ 2,80 a unidade ou a fatia. As bombas de creme com cobertura de chocolate são as campeãs de vendas. A casa serve mais de 300 unidades por dia.
O engenheiro aposentado Sérgio Delcorso frequenta o local há 33 anos, desde que mudou de Araçatuba (SP) para Curitiba. O local aconchegante e o produto de qualidade são os pontos que mais atraem o cliente. ''Venho aqui várias vezes por ano e apesar de ser no centro da cidade, a atmosfera é de calma e realmente familiar'', observa.
‘Viver só da venda do pão é inviável’
Em um bairro mais residencial, o Família Farinha faz o gênero padaria-mercearia-lanchonete-café. A diversificação de artigos é uma resposta às exigências dos consumidores, assim como uma medida de combate à concorrência. O padeiro Adelino Farinha está no ramo desde 1975 e acredita que viver só da venda do pão é inviável. ‘Curitiba é uma das cidades que mais tem padarias por consumidor. Agregar valor ao seu serviço é fundamental para ser diferente e se destacar’, observa o empresário de sobrenome, no mímino, curioso para quem é do ramo. O ofício, ele aprendeu ainda menino com os pais, imigrantes portugueses, no interior de São Paulo.
A vocação é o pão artesanal, sem aditivos ou conservantes, com ou sem recheios e disponíveis em diversos valores. Por dia, 400 quilos de farinha são utilizados na linha de produção de mais de 300 itens. Para acompanhar as delícias, o cliente encontra um vasto leque de frios, comidinhas e bebidas importadas, além de revistas e livros. A decoração é inspirada no antigo empório dos pais.
O negócio com esta concepção começou em 1992 depois de observar a tendência em cidades como São Paulo e Belo Horizonte. Mas Farinha adverte: não basta modernizar o espaço e o maquinário sem manter a qualidade dos produtos. ‘Manter uma padaria funcionando não é para amandores ou aventureiros. Nos anos 90, muita gente quebrou porque acreditava que era um negócio simples. Fidelizar cliente, com a atual concorrência, requer fornecer um produto de tipo bom, bonito e compatível com o mercado consumidor onde se está’, diz.