O Tribunal de Justiça (TJ) do Paraná determinou que o tenista Thiago Wild, número 2 do Brasil e 114 do mundo, e a família dele permaneçam em quarentena sob pena de R$ 30 mil em caso de novo descumprimento. O atleta está com covid-19 e saiu do isolamento enquanto aguardava o exame na casa da família, em Marechal Cândido Rondon, a 581 quilômetros de Curitiba.
Segundo a Polícia Civil, após Wild publicar um vídeo em 24 de março informando a infecção pelo novo coronavírus, moradores do município procuraram os policiais para relatar que o atleta teria se relacionado com demais pessoas na cidade durante corridas na rua, em uma quadra de tênis e no cartório. O tenista confirma que esteve nos locais, mas nega contatos pessoais.
O Ministério Público (MP) do Paraná foi acionado e entrou na Justiça pedindo que medidas cautelares fossem adotadas para que o atleta não quebrasse novamente a quarentena, agora diagnosticado com covid-19.
O juiz substituto Wesley Porfírio Borel, entendeu que "ao invés de se isolar, como amplamente divulgado pelas autoridades de saúde, preferiu tomar outra decisão: viajar, agora, para a casa de sua família, em Marechal Cândido Rondon". O magistrado ainda considerou que Wild sabia dos riscos de passar o vírus para demais pessoas, pois teria assinado um termo de responsabilidade de isolamento ao receber a suspeita de covid-19.
"Certamente não foi a conduta adequada, ainda mais para um rapaz jovem e esportista, acostumado a tomar todos os cuidados com a saúde, notadamente, por ser um atleta profissional", comentou o juiz, em decisão emitida na noite de sexta-feira (27).
A decisão de quarentena obrigatória sob pena de R$ 30 mil ainda atinge os demais familiares de Wild no interior do Paraná: Angelica Daus, Claudio Ricardo Wild, Dieter Leonhard Seyboth, Gisela Christine Seyboth Wild, Luana Seyboth Wild e Vera Lucia Seyboth. Na liminar, não há informações sobre o grau de parentesco de cada um com o atleta.
Procurada pela reportagem na manhã desta segunda-feira (30), a assessoria de imprensa de Wild informou que o atleta, os parentes citados e o advogado que defende a família não irão comentar a decisão da Justiça.
Para o juiz Wesley Borel, a determinação abrange os demais parentes do tenista em razão de que "em um primeiro momento, Thiago e sua família indicaram não respeitar os limites impostos pelas autoridades de saúde e não se preocuparam com a saúde não só dos próprios parentes próximos, alguns em situação de risco, mas com a própria população da cidade, que tem envidado esforços para a contenção da doença".
Marechal Cândido Rondon registra um paciente com covid-19, confirmado ontem pelo governo do Paraná. Ao todo, o estado tem 152 casos. O registro do município não é o de Thiago Wild, pois só entra na contagem se o infectado for residente do lugar, segundo o governo paranaense. Este não é o caso do atleta, que mora no Rio de Janeiro.
INVESTIGAÇÃO
O delegado Rodrigo Baptista Santos, que investiga Thiago Wild, informou que a decisão judicial não muda o curso do inquérito. O atleta deverá ser ouvido depois de encerrar a quarentena, período a ser determinado por órgãos locais de saúde.
Além de depoimentos, a investigação ainda deverá requisitar imagens de câmeras de segurança que eventualmente possam ter gravado o tenista. O inquérito tem o prazo de 30 dias.
Número 2 do esporte no Brasil e 114 no mundo, Thiago Wild venceu recentemente o ATP de Santiago, no Chile, se tornando o mais jovem brasileiro a conquistar um torneio da categoria aos 20 anos.
Após conquistar o ATP de Santiago, em 1º de março, Thiago viajou para Austrália, onde disputou a Copa Davis, representando o Brasil. No retorno, passou por São Paulo e Rio de Janeiro antes de seguir para o Paraná.
A Polícia Civil informou que o tenista é investigado com base no artigo 268 do Código Penal, que o crime de infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa. A pena é de detenção de um mês a um ano, e multa. Thiago Wild não tem antecedentes criminais.
DEFESA DO TENISTA
Ao ser questionado sobre a investigação, em contato com a reportagem em 27 de março, o atleta enviou nota em que alega ser "alvo de mentiras".
"Gerou proporções muito maiores de pessoas desocupadas, que sequer tinham qualquer conhecimento da realidade, que divulgaram inúmeros áudios no WhatsApp e em redes sociais", explicou.
Ele alegou que vem adotando as precauções dadas pelas autoridades públicas no cuidado com a saúde. "Pretendi demonstrar que, o meu dia a dia, é como de qualquer outra pessoa em uma situação em quarentena, tomando os devidos cuidados e não expondo ninguém ao risco, diferentemente do que entenderam", apontou, citando um vídeo que foi divulgado nas redes sociais.