Maior medalhista da história dos Jogos Olímpicos, o ex-nadador americano Michael Phelps relatou as dificuldades que tem enfrentado para se manter mentalmente saudável em meio à pandemia do novo coronavírus. Ele sofre de depressão.
"A pandemia foi uma das épocas mais assustadoras que já passei. Tem sido um desafio que eu nunca esperava. Toda a incerteza. Sendo enjaulado em uma casa. E as perguntas. Tantas perguntas. Quando é que isso vai terminar? Como será a vida quando isso acabar? Estou fazendo tudo o que posso para estar seguro? Minha família está segura? Isso me deixa louco. Estou acostumado a viajar, competir, conhecer pessoas. Isso é apenas loucura. Minhas emoções estão por todo o lugar. Eu estou sempre no limite. Eu estou sempre na defensiva", disse em entrevista à ESPN.
"Antes das Olimpíadas do Rio de Janeiro de 2016, eu compartilhei meus problemas de saúde mental publicamente pela primeira vez. Não foi fácil admitir que eu não era perfeito. Mas isso tirou um peso enorme das minhas costas. Isso tornou a vida mais fácil. Agora, estou me abrindo novamente. Quero que as pessoas saibam que não estão sozinhas. Muitos de nós estão lutando contra nossos demônios da saúde mental agora mais do que nunca", acrescentou Phelps, dono de 28 medalhas olímpicas, sendo 23 de ouro, três de prata e duas de bronze.
O ex-atleta revelou sofrer de depressão em 2015, três anos após as Olimpíadas em Londres, quando anunciou sua aposentadoria. Em um primeiro momento longe das piscinas, Phelps teve problemas com álcool e chegou a ser internado em uma clínica de reabilitação. Ele decidiu então voltar a nadar e se despediu de fato nos Jogos do Rio, onde conquistou seis medalhas, cinco de ouro.
O ex-nadador afirmou acreditar que a mídia criou uma narrativa ignorante, nas palavras dele, no que diz respeito à sua saúde e a doenças mentais, como se houvesse uma cura e em algum momento ele pudesse simplesmente se ver livre da depressão:
"Eu queria que isso fosse verdade. Eu gostaria que fosse assim tão fácil. Mas, honestamente,-e eu quero dizer isso da maneira mais agradável possível- isso é apenas ignorante. Alguém que não entende o que as pessoas com ansiedade, depressão ou transtorno de estresse pós-traumático lidam não têm ideia".
"A questão é -e as pessoas que vivem com problemas de saúde mental sabem disso- nunca desaparece. Você tem bons e maus dias. Mas nunca há uma linha de chegada. [...] Mas aqui está a realidade: eu nunca serei 'curado'. Isso nunca vai desaparecer. É algo que eu tive que aceitar, aprender a lidar com isso e torná-lo uma prioridade na minha vida. E sim, isso é muito mais fácil falar do que fazer."
Phelps disse que às vezes se sente absolutamente inútil e não gostaria de ser ele mesmo. "Às vezes há apenas essa sensação avassaladora de que eu não aguento mais", disse. Apesar disso, se mostrou disposto a auxiliar quem vive situação semelhante.
"Eu quero ajudar os outros. E eu quero me responsabilizar. Há uma tonelada de pessoas lutando contra a mesma coisa. Não importa o que você passou, de onde você veio ou o que você quer ser. Nada pode te impedir. Você só precisa aprender os truques que funcionam para você e depois ficar com eles, acreditar neles, para evitar entrar em um ciclo negativo", disse o recordista olímpico.