Leticia Bufoni e Pedro Barros, dois dos skatistas brasileiros mais vitoriosos e reconhecidos mundialmente, desejam que a participação nos Jogos de Tóquio não seja a única experiência olímpica de suas carreiras.
Quatro meses após competirem no Japão, eles dizem estar dispostos a encarar o ciclo até Paris-2024, quando esperam viver um momento bem diferente do presenciado na estreia do esporte nas Olimpíadas.
No caso de Pedro, 26, não pelo resultado, pois ele terminou com a medalha de prata na modalidade park. Já Leticia, 28, teve menos motivos para sair satisfeita da pista, de fora da final do street.
Ambos ainda esperam vivenciar uma edição dos Jogos sem as restrições impostas pela pandemia, com presença de público nas arenas e ao lado de pessoas próximas.
"Penso muito em Paris. Acho que vai ser a experiência verdadeira de Olimpíadas se tudo melhorar até lá, para a gente poder ter público, levar nossa família e os amigos. Tomara que dê certo. Quero voltar a competir bem no ano que vem", afirmou Leticia à reportagem em Florianópolis, onde esteve no último fim de semana para acompanhar o Red Bull Skate Generation.
Ela não chegou a participar como competidora do evento, organizado por um de seus patrocinadores e que reuniu atletas mais especializados em park na pista de Pedro Barros.
Após Tóquio, Leticia ganhou um torneio em Paris e disputou duas etapas da Street League Skateboarding nos Estados Unidos, mas não foi ao pódio. Depois abriu mão de disputar o Super Crown, final do circuito mundial realizada em novembro, na Flórida, e o STU Open, principal torneio brasileiro e que ocorreu no início deste mês, no Rio de Janeiro.
Fora das pistas, recentemente lançou uma linha própria de tênis da Nike e um modelo de shape em parceria com a britânica Sky Brown, 13, chamado Monarch Project.
"Eu resolvi dar um 'break' de competição nos últimos dois meses, uma folga para o corpo, porque tivemos um ano intenso. Quis curtir um pouco, vir em eventos como esse e apreciar, porque quando estou competindo não consigo relaxar em nenhum momento", disse.
A skatista passará o Natal e o Ano-Novo no Brasil antes de retornar aos EUA, em janeiro. Ainda sem um calendário definido para o próximo ano, ela pretende voltar a disputar torneios perto de abril.
Mesmo ausente das competições, Leticia afirma estar sempre "em cima do skate" para não perder o ritmo. Também tem dedicado mais tempo a outras paixões, como surfe e carros, especialmente ao drift (técnica de direção baseada em deslizar o veículo nas curvas). No fim de semana do Super Crown, ela esteve no Brasil para o GP da F1 em São Paulo.
"Fazer esses esportes também me ajuda muito no skate, e estou conseguindo conciliar. Já estava bem cansada, então resolvi dar uma folga nas competições. Quando surgiu a oportunidade da F1 foi perfeito, porque era um fim de semana em que eu realmente queria descansar. Tive momentos incríveis na F1 e não me arrependo de ter trocado", explicou.
Ela e Pedro sabem que a concorrência no esporte tende a aumentar após a estreia olímpica. Os torneios do segundo semestre colocaram em evidência outros talentos que também pretendem ir a Paris e devem elevar o nível da disputa nos próximos anos, num ciclo mais curto que o habitual por causa do adiamento de Tóquio-2020.
Depois de conquistar a medalha de prata, o catarinense comparou o objeto almejado por tantos atletas a um "souvenir" e declarou que a experiência que levaria para sua vida era muito maior do que um item material. No retorno ao país, ele deu a medalha de presente para a mãe.
Apesar do discurso que na ocasião causou impressão de desapego pelo resultado, ele admite ter sentido certa pressão por um bom desempenho no Japão. "Era a primeira Olimpíada do skate e eu tenho uma trajetória única no park. Queria fazer parte desse momento. Agora tudo é mais leve, já conheço um pouco o caminho da roça, sei o que me espera se eu quiser realmente me dedicar", afirmou.
Pai de Pedro e um dos seus grandes incentivadores no esporte, André Barros avalia que, com a pressão deixada para trás, o filho poderá buscar um resultado ainda melhor, mas sem a sensação de que há necessidade de voltar com uma medalha.
"Mesmo com o nível aumentando, se ele treinar por dois anos pode ter chance de ganhar medalha. Não que seja o objetivo, mas ele se vê lá dentro. Acho que vai com vontade de buscar esse ourinho, ficou com gostinho na boca", disse.
Pedro Barros confirma o desejo e se vê no auge como atleta aos 26 anos, disposto a buscar novas façanhas. "No final, quem compete quer o lugar mais alto do pódio. Queria ganhar esse ouro. A prata foi maravilhosa, a mensagem que a gente passou foi maravilhosa. Vou deixar nas mãos do universo e de uma forma leve, mas sei que ainda tenho muito skate para mostrar."
O repórter viajou a convite da Red Bull.