Os clubes da Série A1, a elite do futebol de São Paulo, estão decididos a prosseguir com a disputa do Campeonato Paulista, apesar da proibição do governo do estado e do Ministério Público. No entanto, ainda não acharam um local.
Em reunião na tarde desta terça (16), presidentes das 16 equipes do torneio, o mandatário da FPF (Federação Paulista de Futebol) Reinaldo Carneiro Bastos, diretores da entidade e sindicalistas divulgaram documento em que afirmam procurar outros estados para realizarem os jogos.
Também deixaram em aberto a possibilidade de "judicializar o caso", "a partir da falta de argumentos científicos e médicos que sustentem a paralisação das referidas rodadas neste momento".
Leia mais:
Filipe Luis diz que foi comunicado do afastamento de Gabigol no Flamengo
Flamengo e Atlético empatam em reencontro com pênalti perdido e Gabigol torcedor
Londrina EC conhece calendário 2025 com definição do Paranaense e Série C
Antes presa fácil, rival gerou pipoca em Neymar com ajuda de 'brasileiros'
"Os clubes estão preparados para qualquer sacrifício, qualquer contingência mais forte de logística que possa ser provocada em relação a essa rodada do final de semana", afirma Sidney Riquetto, presidente do Santo Andre.
Por determinação do governo do estado, o futebol em São Paulo foi paralisado a partir de segunda (15) até o final de março, pelo menos. O pedido foi feito pelo procurador-geral de Justiça, Mauro Sarrubbo, por causa do aumento do número de mortes pela pandemia da Covid-19.
A FPF tentou fazer o governador João Doria (PSDB) mudar de ideia, mas ele se recusou a ir contra o pedido do Ministério Público, a não ser que o procurador recuasse. O que não aconteceu.
"Nós banalizamos a vida, como se fosse normal morrer cerca de 2 mil pessoas por dia", escreveu o procurador-geral no Twitter. Ele teve uma reunião virtual com dirigentes da Federação na segunda à noite, mas se manteve irredutível e disse considerar o assunto encerrado.
Para os clubes e a FPF, há a dificuldade de achar outro local para jogar. O Rio de Janeiro foi sondado no início mais como ferramenta de pressão contra Doria. O governador Claudio Castro (PSC) primeiro afirmou que o seu estado estava de "braços abertos", mas depois recuou.
O confronto entre Palmeiras e São Bento, levado para Belo Horizonte e que seria realizado nesta quarta (17), foi suspenso porque o governo de Minas Gerais anunciou novas restrições por causa do recrudescimento da pandemia, com a proibição de eventos públicos e privados. O Campeonato Mineiro será suspenso a partir de segunda-feira (22).
Até terça, a FPF estava confiante na realização do Estadual na capital mineira e contava com o apoio do prefeito da cidade, Alexandre Kalil (PSD). Ex-presidente do Atlético-MG, ele conversava com Reinaldo Carneiro Bastos desde o começo da semana passada, quando surgiu a possibilidade de o governador João Doria (PSDB) acatar a recomendação do Ministério Público para suspender atividades esportivas e religiosas.
A FPF considera entrar com ação judicial, inclusive, porque a transferência de jogos para outros estados, além de esbarrar nas restrições das autoridades locais, não agradam dirigentes de Palmeiras, São Paulo e Santos. Os três times dividirão suas semanas entre o estadual e a Copa Libertadores.
A reportagem apurou que o departamento de futebol do Palmeiras ficou incomodado com a possibilidade de ter que viajar para Belo Horizonte nesta terça. O jogo atrasado pela terceira rodada deveria ocorrer, na tabela original, em Sorocaba (a cem quilômetros da capital paulista).
A CBF confirmou que o confronto entre Marília e Criciúma, também nesta quarta, pela Copa do Brasil, que seria em Varginha, foi transferido para Cariacica, no Espírito Santo. Este estado passou a ser visto como opção viável. Mas ao mesmo tempo em que acontecia a reunião do futebol paulista, o governador capixaba, Renato Casagrande (PSB), anunciava medidas mais rígidas de quarentena e a proibição de jogos de futebol a partir de sexta-feira (19).
Diante do impasse, os cartolas paulistas começaram a considerar sediar as partidas em Mato Grosso, mas há a questão de quem vai custear as viagens e hospedagens.
Questionado, o governo mato-grossense, por meio de sua assessoria, afirmou não haver restrição para que as partidas aconteçam desde que sem público e dentro do horário permitido, entre 5h e 19h.
O governo do Paraná diz não ter nenhum decreto que proíba a realização de partidas de futebol até o momento. Mas integrantes da administração pública entendem ser difícil aprovar a transferência dos jogos, já que o estado vive seu pior momento na pandemia. Algumas cidades, inclusive a capital Curitiba, já proibiram as partidas por meio de decisões municipais.
A paralisação do Campeonato Paulista também remete aos problemas financeiros do ano passado - quando a competição foi encerrada em março e só voltou em julho. Na ocasião, a Globo, que detém o direito de transmissão do Paulista, deixou para repassar a última parcela do contrato apenas com a retomada do torneio.
A insistência da Federação e dos clubes é por considerarem que o protocolo sanitário utilizado no futebol é seguro. O documento foi redigido sob as bênçãos do governo paulista e assinado pelo Ministério Público.
"[O protocolo] garante um controle ainda maior na organização da competição em São Paulo. Assim como os demais segmentos econômicos que permanecem em atividade com restrições, o futebol deve seguir as mesmas condições, com funcionamento sem público e com este protocolo inédito entre todos os setores da sociedade", diz a nota divulgada pelos dirigentes.
Na próxima rodada, a quinta do estadual, está previsto o clássico entre Palmeiras e São Paulo.
Procurado pela reportagem, Mauro Sarrubbo disse que não ia se pronunciar sobre a possibilidade de ação judicial divulgada pela FPF.