A derrota de virada diante da Colômbia, nesta quinta-feira (16), por 2 a 1, em partida pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, não apenas expôs as fragilidades da equipe que está sendo modelada por Fernando Diniz como fará a seleção brasileira registrar o seu pior percentual de derrotas em um mesmo ano desde 1963.
São quatro derrotas em oito duelos em 2023. A última vez que o Brasil perdeu 50% das partidas no mesmo ano foi em 1948. Na próxima terça-feira (21), no Maracanã, o próximo adversário será a Argentina, líder das Eliminatórias e atual campeã mundial.
Leia mais:
Vini Jr erra pênalti, e Brasil cede empate para Venezuela
Vinicius Jr vira 'máquina de gerar gols' do Real e lidera ranking europeu
Dudu segue pessimista mesmo com clamor da torcida por vaga no Palmeiras
Filipe Luis diz que foi comunicado do afastamento de Gabigol no Flamengo
Mesmo em caso de triunfo sobre os rivais, a equipe canarinho ainda fechará este ciclo com um percentual de derrotas de 44,44%, pior marca da equipe desde 1963, quando os brasileiros perderam oito dos 18 jogos que fizeram naquele ano.
A diferença agora é que os brasileiros não estão de ressaca como estavam há seis décadas, quando ainda era possível comemorar a recente conquista da Copa do Mundo de 1962.
A última vez que a taça veio para cá foi em 2002. Depois disso, os fracassos se acumularam. No Qatar, em 2022, a equipe caiu nas quartas de final, eliminada pela Croácia, e terminou em sétimo no quadro final. Foi o quarto pior desempenho em Mundiais, superando somente 1934, 1966 e 1990, quando terminou em 14º, 11º e 9º lugar, respectivamente.
Então técnico da seleção na última Copa, Tite avisou com antecedência que não ficaria no cargo seja qual fosse o resultado. O vexame não despertou nenhum coro por sua permanência. Com um treinador interino, o Brasil iniciou o ano com derrotas para Marrocos (2 a 1) e Senegal (4 a 2) e só venceu Guiné (4 a 1).
Em julho, Fernando Diniz, técnico do Fluminense, foi anunciado para dirigir a seleção também de forma interina, sem se desligar do clube, durante um ano, enquanto a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) aguarda a chegada do italiano Carlo Ancelotti, do Real Madrid, com quem a entidade diz ter um acordo.
A despeito das expectativas da formação de uma equipe organizada na defesa e agressiva no ataque, sob o comando de Diniz o Brasil decepcionou. A empolgação após a goleada sobre a Bolívia, por 5 a 1, quando o treinador estreou, durou apenas até o compromisso seguinte, quando sofreu para derrotar o Peru, 1 a 0.
Na sequência, a crise se agravou. Primeiro foi o empate com a Venezuela em casa, 1 a 1, depois a derrota para o Uruguai, e agora a queda diante da Colômbia.
A seleção brasileira nunca tinha perdido para os colombianos em jogos pelas Eliminatórias. Também não havia registrado duas derrotas consecutivas no classificatório. São marcas que reduziram drasticamente a empolgação com o trabalho de Diniz, atual campeão da Libertadores com o Fluminense.
"A equipe perdeu dois jogos e isso é muito ruim, mas eu acho que o tanto que o time mexeu, as mudanças que teve da Copa do Mundo para cá, com pouco de tempo para treinar, que tem que levar em consideração isso", argumentou o treinador.
Ele também pediu para que os aspectos positivos do jogo contra a Colômbia fossem destacados. Porém, a seleção brasileira teve um breve lampejo em Barranquilla, sobretudo nos primeiros minutos, quando fez o primeiro gol com Gabriel Martinelli, aos 4 minutos.
Depois, só deu o time da casa, que soube recuperar o domínio do meio de campo e explorar as fragilidades das laterais do Brasil.
Autor dos dois gols da virada, Luís Díaz deixou o gramado com impressionantes dez finalizações, quase a metade dos chutes dos colombianos. Ele explorou, principalmente, as jogadas pelas costas dos laterais Royal e Lodi, que muitas vezes ficavam no mano a mano com ele, já que Martinelli até tentava, mas pouco conseguia dobrar a marcação na esquerda, enquanto Raphinha nem isso conseguia fazer.
O Brasil de Diniz teve mais posse de bola (60% contra 40%), não por acaso trocou mais passes (531 contra 342), mas foi muito menos efetivo no ataque, com apenas 12 finalizações contra 23 da Colômbia.
Para piorar, Vinicius Junior ainda deixou a partida mais cedo, logo aos 27 minutos, lesionado. O astro do Real Madrid não terá condições de jogo para enfrentar a Argentina na próxima terça-feira.
No segundo tempo, as mudanças promovidas por Diniz pioraram o desempenho do time. Rodrygo, que herdou a 10 na ausência de Neymar e o papel de criador no meio de campo, foi substituído aos 22 minutos da etapa final pelo atacante Paulinho, do Atlético-MG. Após a troca, as jogadas de perigo contra o gol colombiano cessaram. Segundo Diniz, a troca se deveu ao cansaço do jogador do Real Madrid.
"Vamos fazer tudo para corrigir aquilo que deu de errado, principalmente na marcação, e entregar um jogo ainda melhor no sentido ofensivo", prometeu o treinador brasileiro sobre o confronto com a Argentina.
A tarefa não será fácil. Ainda que também tenham sido derrotados nesta rodada, 2 a 0 para o Uruguai, os argentinos fizeram um jogo mais equilibrado diante de seus torcedores, que não sabiam o que era perder desde a surpreendente derrota para a Arábia Saudita na primeira rodada da Copa do Mundo no Qatar.
Os atuais campeões mundiais também fazem uma campanha mais consistente nas Eliminatórias, com 12 pontos somados após quatro vitórias e uma derrota. Enquanto isso, o Brasil caiu nesta rodada da segunda para a quinta posição, com sete pontos: duas vitórias, um empate e duas derrotas.
Mesmo o Equador, que está em sexto e, neste momento, é dono da última vaga para a próxima Copa, fez mais pontos do que os brasileiros, com duas vitórias e dois empates. Só não aparece com oito pontos na tabela de classificação porque o país foi punido com a perda de três pontos por ter escalado um jogador irregular na campanha de classificação para o Qatar.
Em uma disputa com dez seleções na qual seis vão se classificar para o próximo Mundial, é muito difícil e até improvável que o Brasil não consiga, pela primeira vez em sua história, conquistar uma vaga. Mas não é nenhum exagerado acender o sinal de alerta na seleção brasileira.