Uma semana antes das revelações sobre seu suposto envolvimento no mercado negro de venda de ingressos da Copa do Mundo de 2014, Jérôme Valcke tentou convencer a Fifa a pagar uma compensação milionária a ele mesmo para que deixasse o cargo de secretário-geral da entidade antes do final de seu mandato.
Na última quinta-feira, o Estadão e outros poucos jornais mundiais revelaram documentos que apontam para o fato de que Valcke esteve envolvido na venda de bilhetes para o Mundial, em acordos que permitiam um ágio de até 300% no preço de tabela. Apesar de se declarar inocente, Valcke foi afastado de seu cargo e uma investigação foi aberta.
Joseph Blatter, presidente da Fifa, foi quem tomou a decisão e confessou a pessoas próximas a ele que não acredita que o francês violou acordos e regras da entidade. Mas, diante do clima de suspeita e de pressão, optou por afastar seu braço direito. Quem assume em seu lugar é Markus Kattner, um dos diretores da entidade.
Valcke, porém, vinha dando sinais claros que pretendia deixar a organização. Há uma semana, ele fez uma proposta para que a Fifa o pagasse uma compensação milionária para que ele deixasse o cargo antes do final do mandato, em fevereiro.
Oficialmente, porém, ele teria mais três anos de contrato e queria que fosse reembolsado por esse período. Mas fontes indicam que a negociação não avançou. Em 2007, outro secretário-geral, Urs Linsi, recebeu mais de US$ 4 milhões para deixar o cargo e abrir espaço para Valcke.
Em sua defesa, o advogado de Valcke, Barry Berke, garantiu que seu cliente não tem qualquer tipo de envolvimento com as denúncias apresentadas pelo empresário Benny Alon que, desde 1990, opera na venda de ingressos da Copa.
Valcke aponta que foi a Fifa quem colocou um fim aos contratos com Alon no mesmo período em que soube que ele estava vendendo entradas acima do preço de tabela. A Fifa não explicou, porém, o motivo pelo qual os contratos foram mantidos por meses e com e-mails que revelam que Valcke sabia do ágio.
Para Berke, as denúncias de Alon são "fabricadas e absurdas". "Valcke nunca recebeu e nem concordou em receber qualquer dinheiro ou qualquer outro valor de Alon", disse. "Como foi noticiado, a Fifa fechou um acordo com a empresa de Alon, a JB Sports Marketing", explicou. "Esse acordo e os negócios da Fifa com Alon foram aprovadas pela Fifa e seu conselho legal".
COMANDO - Enquanto o francês é afastado, a Fifa vive uma crise de falta de comando. Nesta sexta-feira, a entidade comemorou em Moscou os 1000 dias para a Copa de 2018. Mas o evento apenas contou com um diretor de escalão médio da entidade. Nem Blatter e nem Valcke, já sob investigação, apareceram.
A Fifa insistiu que Blatter não tinha a intenção de estar presente no evento, em plena Praça Vermelha. Já Valcke, que viajava em um avião privado, deu meia volta na quinta-feira, e retornou para a Suíça.
Em um e-mail enviado a todos os funcionários, porém, Blatter tentou tranquilizar aqueles que continuam a operar o dia a dia da entidade. "A Fifa está confiante em sua habilidade para recuperar da difícil situação atual e restaurar sua reputação pelo bem do jogo", escreveu.