Nada foi como era depois que Homer Simpson foi perseguido pelo próprio carro dentro da sua casa e toda a família se espremeu em um sofá marrom cujo espaço é claramente insuficiente para ele, Marge (a esposa), Bart, Lisa e Maggie (os três filhos), diante da televisão de tubo. O ano era 1989. Dia 17 de dezembro, assim como esta quarta-feira, 25 anos depois.
A família, criada para uma série de curtas exibidos no programa de televisão norte-americano The Tracey Ullman Show, debutou nas telinhas em 19 de abril de 1987. O sucesso foi tão grande que Os Simpsons ganhou o próprio show, dois anos depois, no episódio "Simpsons Roasting on an Open Fire", também conhecido por "The Simpsons Christmas Special". Naqueles pouco mais de 22 minutos (23, dependendo da versão), muito do que seria visto em um quarto de século está lá - e Bart, pestinha como sempre, inclusive faz uma tatuagem e a família gasta todo o dinheiro reservado ao Natal para apagá-la. Não vamos estragar a surpresa para quem, 25 anos depois, ainda não assistiu ao primeiro episódio, mas fica aqui o leve spoiler: a família ganha um novo integrante como um presente de Natal.
Ao longo dos 25 anos, Os Simpsons recebeu mais de uma centena de prêmios (132, segundo dados do site IMDb), mas não foram eles os responsáveis por colocar a animação entre uma das principais figuras da cultura pop contemporânea. A "família média norte-americana", de uma pequena cidade como qualquer outra no interior dos Estados Unidos, ganhou os corações de todos com as situações bizarramente humanas pelas quais cada integrante passa em cada episódio. Há muito de humanidade até em Homer, o adorável atrapalhado.
A centena de prêmios, de fato, ajuda, mas a família amarela só tem o tamanho e popularidade de hoje graças às participações especiais de músicos, atores, políticos e outras personalidades. Uma listinha breve virá a seguir para se entender do que estamos falando: os agentes Danna Scully e Fox Mulder, de Arquivo X, Stanley Kubrick, Bill Clinton, Tony Blair, J. K. Rowling, Blink 182, Elvis Costello, Tom Petty, Keith Richards, Mick Jagger, Lenny Kravitz, Ringo Starr, Bette Midler, James Brown, Red Hot Chili Peppers, Paul McCartney e a esposa Linda, Sting, U2, White Stripes, The Who, Lucy Lawless (a Xena da série de TV), Alec Baldwin, Elton John, Green Day, Brooke Shields, Coldplay, Dustin Hoffman, Kiefer Sutherland, George Harrison, Mel Gibson, Michael Jackson, Lady Gaga, Mark Hamill, Britney Spears, Aerosmith, Ramones, Metallica, Queen, Leonard Nimoy, Stan Lee, R.E.M., Smashing Pumpkins, Stephen Hawking, Tom Hanks e Stephen King. Muitos nomes ficaram fora da lista, como a destacável participação de Johnny Cash, que deu voz a um coiote que se torna guia espiritual de Homer quando ele entra em um estado de alucinação.
Os Simpsons tiram sarro de tudo, inclusive deles mesmos. Toda Springfield é uma grande sátira da cultura norte-americana, jogada no rosto de todo a população do país que assiste ao seriado. A sátira, é claro, não fica contida por lá e espalhou-se pelo mundo. As famosas viagens de Homer e companhia são um prato cheio para a abordagem "simpsonizada" de todas as culturas do mundo e isso significa apelar para preconceitos, caçoar das tradições e, claro, tirar o máximo de sarro possível por minuto - com inteligência, é claro. Os episódios no Brasil, como era de se esperar, pegaram pesado e colocaram macacos trombadinhas nas ruas do Rio de Janeiro e outras peculiares escolhas dos roteiristas para caracterizarem a cultura brasileira, inclusive o apreço do brasileiro por futebol. Mas piada é piada, não é mesmo?
O fato é que é muito fácil se identificar com as desventuras dos integrantes. Que garoto não passou por um momento de Bart Simpson? Ou quem não se viu em alguma situação vivida pela sempre inteligente Lisa? E, para a nossa sorte, mesmo 25 anos depois, Homer ainda não aprendeu: o carro continua a persegui-lo dentro de casa e a família não comprou um sofá com espaço suficiente para todos.