Dominic Purcell é um sujeito prático. E de poucas palavras. "Faço um trabalho por vez e não olho para trás", diz um dos protagonistas da série Prison Break, centrada em dois irmãos, Lincoln Burrows e Michael Scofield (Wentworth Miller), e uma prisão. A série foi ao ar entre 2005 e 2009 - no Brasil, era exibida pelo canal por assinatura Fox e, depois, pela TV Globo. Com o fim do seriado, Purcell seguiu em frente. Fez 22 filmes e mais cinco séries. Na última, a super-heróica DC’s Legends of Tomorrow, reencontrou Miller. O reencontro ouriçou os fãs que não tinham idade para acompanhar a trama da fuga na prisão enquanto ela ainda ia ao ar e a descobriram por meio da Netflix, serviço de TV por streaming - ali, estão disponíveis as quatro temporadas.
São eles, os novos fãs, que Prison Break ganhou com o tempo, oito anos, que Purcell responsabiliza pela existência da quinta temporada, cuja data de estreia, simultaneamente no Brasil e nos Estados Unidos, é nesta terça-feira, 4, às 23h. "A série se tornou um sucesso quando estava no ar e, depois, com o passar dos anos. A demanda criada pela Netflix chamava por um retorno", justifica o ator de 47 anos. "Isso e o meu encontro com Wentworth. Nós estávamos prontos para voltar e explorar Prison Break de novo."
Prison Break é, assim como tantas outras, datada de antes da atual e tão falada nova era de ouro da televisão. Mais uma a entrar no jogo das continuações, reboots e remakes e tentar disputar espaço com os lançamentos atuais. Nessa mesma onda, surfam séries como 24: Legacy, que visita o formato da série 24 Horas, mas com outro protagonista, Twin Peaks, novamente sob o comando de David Lynch e Mark Frost, The Good Fight, um spin-off de The Good Wife, The Blacklist: Redemption, derivada de The Blacklist, Arquivo X, entre tantas outras.
Faz sentido, afinal. A TV sob demanda mudou as regras do jogo, definitivamente. Da forma como o público consome as séries à forma como a história, agora, é contada. Episódios mais longos ganham espaço na nova TV e, dessa forma, é esperada uma trama que seja mais contínua e não procedural - estilo de contar histórias com um caso a ser desvendado por semana ou um inimigo a ser batido.
Arquivo X, da própria Fox, voltou depois de 15 anos. O mundo encontrado pelos agentes especiais Dana Scully (Gillian Anderson) e Fox Mulder (David Duchovny) era outro. As novas teorias da conspiração giravam em torno de uma ameaça tecnológica. E era inevitável o sentimento de nostalgia ao ver os dois atores, que por nove anos dividiram a cena em casos sombrios, partilhassem uma nova aventura.
O grande perigo corrido por Arquivo X, talvez a série de maior sucesso a ganhar uma sobrevida, é deixar o cheiro de naftalina para trás. É preciso acrescentar algo à história encerrada anos antes.
Algo que a mesma Netflix ainda parece precisar aprender. Por ter nas mãos dados de audiência precisos dos programas televisivos, ela sabe exatamente qual é o público-alvo de cada produção, sejam elas próprias ou dos outros, além dos hábitos dos telespectadores. Por isso, o serviço de streaming é responsável por alguns dos reboots e remakes que chegaram recentemente. Três É Demais (ou Full House, no título original), no ar de 1984 a 1995, nunca foi um sucesso de crítica, mas se tornou queridinha do público e, além de tudo, responsável por lançar Mary-Kate e Ashley Olsen, gêmeas que construíram um pequeno império de fofura nos Estados Unidos depois do fim da série. A Netflix reergueu a série, com nova dinâmica, em 2016, com duas novas temporadas. De novo, a crítica não aprovou, mas o público, sim.
A mesma empresa de streaming está por trás do retorno da aclamada, porém sem audiência, Arrested Development, uma comédia cujo elenco hoje seria estelar, com Jason Bateman, Will Arnett, Michael Cera e Jeffrey Tambor. A quarta temporada, produzida sete anos após o cancelamento do programa, teve dificuldade para reunir o elenco todo em um mesmo espaço. O resultado, em 2013, mostrava episódios focados em diferentes personagens. Nada se compara, contudo, ao retorno de Gilmore Girls, adorada história que seguia mãe, Lorelai Gilmore, e filha, Rory. Ano passado, saiu um revival com quatro episódios na Netflix. A história, definitivamente, seguiu em frente - mas não agradou tanto aos fãs mais ardorosos.
Como Purcell garante, é isso o que o novo ano de Prison Break vai evitar. Otimista e, ainda assim, sem dizer muito. "Não vejo razão para a série não ser um sucesso", acrescenta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.