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"O Assalto ao Trem Pagador" está de volta

07 set 2001 às 18:34

Poucos filmes na história do cinema brasileiro conseguiram ao mesmo tempo refletir e agradar o grande público. ‘São Paulo S.A.’, de Luis Sérgio Person; ‘O Pagador de Promessas’, de Anselmo Duarte; e ‘Boca de Ouro’, de Nelson Pereira dos Santos são três bom exemplos de um cinema que permite o encanto e o pensamento. Outro exemplo dessa lista selecta é uma produção modesta de 1962, o quinto filme do carioca Roberto Farias - ‘O Assalto ao Trem Pagador’.

Após conquistar um público no cinema de mais de um milhão de espectadores só no Rio de Janeiro, o filme chega às videolocadoras pela distribuidora Funarte, em versão ampliada e restaurada pela BR Distribuidora. A Realbrás, distribuidora extinta, já tinha lançado o filme em vídeo, mas em uma cópia com 89 minutos. Agora chega a versão definitiva, com fotogramas ‘limpos’ e cenas que estendem a duração a 108 minutos.


O roteiro, escrito pelo jovem diretor Farias (tinha 30 anos na época), é baseado em fatos reais, ocorridos em 1960. Mostra a trajetória do bandido Tião Medonho (Eliezer Gomes), que junto a cinco comparsas, formam a quadrilha que assaltou o trem pagador da Central do Brasil. Eles dividem o dinheiro e fazem um pacto: ninguém pode gastar mais de 10% do que foi roubado, apenas para manter as aparências.


Como o leitor deve estar imaginando, seria muito difícil para um grupo de homens pobres permanecer na miséria se a solução está ali, ao seu lado. Em meio a desejos materiais e à tão natural cobiça humana, eles começam gradativamente a adquirir bens, o que causa a desconfiança entre vizinhos e familiares.


Tião Medonho, o personagem principal, é uma das figuras eternas do cinema brasileiro. Eliezer Gomes, em seu primeiro trabalho no cinema, criou à perfeição o papel do homem generoso, doce, benevolente, paciente com os amigos, mas que se revolta impiedosamente em poucos segundos, adquirindo face extremamente brutal, intolerante e vingativa. Possui uma ambivalência extraordinária essa personagem, o que enriquece ainda mais a trama, tão bem composta ao real, com traços do dia-a-dia carioca.


O elenco, além de Gomes, traz atores formidáveis, incluindo Grande Otelo (como um ébrio encantador), Reginaldo Faria (irmão do cineasta), Jorge Dória, Ruth de Souza, Átila Iório, Helena Ignês e Mário Lago. A fotografia de Amleto DaissS segue os padrões clássicos implementados por mestres como Gregg Tolland e James Wong Howe, dialogando em extrema coerência com a música original de Remo Usai.


No mesmo ano em que ‘O Pagador de Promessas’ era agraciado com a Palma de Ouro, ‘O Assalto...’ integrava a Seleção Oficial do Festival de Veneza, sendo premiado como melhor filme nos festivais da Bahia e Dakar (Senegal); com a Caravela de Prata no Festival de Lisboa; com o prêmio Governador do Estado de SP para melhor diretor e melhor roteiro; e o prêmio Saci para melhor roteiro.


A Funarte aproveitou o aniversário de 50 anos de carreira de Farias para homenagear o autor de filmes tão distintos, como as comédias ‘Rico Ri à Toa’ (1957), ‘No Mundo da Lua’ (58), ‘Um Candango na Bela Cap’ (61), ‘Toda Donzela Tem um pai que é uma Fera’ (66), ‘Os Trapalhões no Auto da Compadecida’ (86); os temas maduros como ‘Cidade Ameaçada’ (60), ‘Selva Trágica’ (63), ‘Pra Frente, Brasil’ (82); e os filmes de aventura, incluindo ‘Roberto Carlos em Ritmo de Aventura’ (68), ‘Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa’ (70), ‘Roberto Carlos a 300 Km por Hora’ (71) e o documentário ‘O Fabuloso Fittipaldi’ (75).

Outro bom argumento para se (re)ver o filme é a solução que ele oferece para um dos problemas crônicos do cinema brasileiro - como fazer um bom filme sem perder o público. ‘O Assalto...’ oferece ação, conflitos psicológicos e reviravoltas, tudo muito bem expresso em diálogos claros e precisos, tornando o filme atual nessa virada de século. O vídeo pode ser adquirido por R$ 25,00 nas livrarias da Funarte ou pelo site www.decine.gov.br. Mais informações no (21) 2580-3386.


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