Em 2025
Comparações são inevitáveis quando se depara com um (novo) trabalho de um artista. Analisar o conjunto de sua obra em função da mais recente é quase uma obrigação. No caso de "Cena Beatnik" (Acit, 2001), último disco do cantor e compositor gaúcho Nei Lisboa, a comparação deixa a desejar. Nem tanto por saudades das velhas baladas entonadas há mais de uma década pelo músico. Os anos oitenta se foram, sabemos todos, ainda que ostentando saudades. Mas o que deixa "Cena Beatnik" com um certo ar enfadonho é a tentativa de manter a característica dos discos anteriores, sem aliar nada de novo à sonoridade, e ainda incluir um certo ar panfletário nas composições.
Essa tonalidade, no entanto, não tira o mérito do disco. "Cena Beatnik" é o primeiro em quase dez anos em que Lisboa grava composições inéditas. Ele mostrou o repertório do CD, composto por doze faixas, no último sábado, em Curitiba. O show, no Canal da Música, ficou ofuscado tanto pelas letras fraquinhas com direito a coro da banda (estilo ei, ei, ei e companhia), como pelo som tecnicamente ruim oferecido pelo espaço.
Quem foi ao show para ver o autor do ótimo "Pra viajar no cosmos não precisa gasolina" (Independente, 1983) se decepcionou. De canja dos velhos tempos, apenas umas duas ou três, com destaque para "Telhados de Paris", de "Hein" (Emi Odeon 1988) acompanhada à exaustão e saudosismo pelo público que quase lotou o Canal da Música. Mas convenhamos, o show era para mostrar o que Lisboa apresenta de novo. E isso ele fez. Até o bis, quando o público já implorava uma canjinha dos velhos tempos, foi a música tema que leva o mesmo nome do disco. Um letra dessas que grudam na cabeça, mas que não tem muito a dizer ("..ei ei, alma doidivana/ Doce devaneio/ Velho desatino/ Cena beatnik...")
Mas Lisboa é categórico e classifica o disco como uma "crítica do social". Em entrevista à Folha2, antes de se apresentar em Curitiba, ele contou que as letras buscam refletir sobre as questões sócio-geo-políticas que permeiam a sociedade nessa virada de século. "Meu texto está mais cru. É uma síntese do que eu tento fazer nesse tempo de carreira", revela. Para o compositor, se os discos anteriores ressaltavam uma experimentação tanto musical como de linguagem, em "Cena Beatnik" o trabalho está mais conciso.
As letras oscilam entre as boas, mas nem sempre originais sacadas ("Vale é o tanto quanto lavras/ A utilidade das palavras/O resto todo é protesto, como pretexto para um profile/ Um todo que não faz parte/ Onde a hipocrisia é uma arte/ E a honestidade is a bitch") mas sempre são Lisboa. Aquela voz gostosa de se ouvir em qualquer canto, até quando canta coro de qualidade duvidosa.
No show, ele toca com velhos parceiros, como Paulinho Spekóvia, no violão e guitarra, o baterista Mano Gomes e Zé Natálio no baixo. Uma confusão no material de divulgação fez com que muita gente acreditasse que o tecladista Luiz Mauro Filho era filho também no parentesco com Lisboa. "Mas de filho tenho só o meu cachorro", brinca o compositor.
Para gravar "Cena Beatnik" pela Acit ele deixou o trabalho com a informática no bureau que tinha montado em Porto Alegre para se dedicar apenas ao disco. Opina que é impossível conciliar os dois trabalhos: ‘A composição exige muito e tem um tempo próprio de criação’. Ele pretende realizar shows de lançamentos do disco ainda em território gaúcho, além de Santa Catarina e São Paulo. Depois disso, deve se dedicar ao próximo CD, com lançamento previsto para o ano que vem.
Lisboa adianta que vai começar a compor no verão e o novo disco será gravado também pela Acit, que com "Cena Beatnik" consolida o selo Antídoto. A gravadora retoma o trabalho de Lisboa depois de dezessete anos. Em 1984 havia lançado "Noves Fora". Depois disso, ele assinou contrato com a Emi Odeon, por onde gravou "Carecas da Jamaica" (1987) e "Hein". "Amém"(1983) saiu pela Som Livre e "Hi-Fi" (1998), pela Paradox. Resta esperar que o próximo trabalho, além de "criticar o social" traga também uma sonoridade mais apurada, própria da carreira de um dos bons nomes que vieram do Sul.
Essa tonalidade, no entanto, não tira o mérito do disco. "Cena Beatnik" é o primeiro em quase dez anos em que Lisboa grava composições inéditas. Ele mostrou o repertório do CD, composto por doze faixas, no último sábado, em Curitiba. O show, no Canal da Música, ficou ofuscado tanto pelas letras fraquinhas com direito a coro da banda (estilo ei, ei, ei e companhia), como pelo som tecnicamente ruim oferecido pelo espaço.
Quem foi ao show para ver o autor do ótimo "Pra viajar no cosmos não precisa gasolina" (Independente, 1983) se decepcionou. De canja dos velhos tempos, apenas umas duas ou três, com destaque para "Telhados de Paris", de "Hein" (Emi Odeon 1988) acompanhada à exaustão e saudosismo pelo público que quase lotou o Canal da Música. Mas convenhamos, o show era para mostrar o que Lisboa apresenta de novo. E isso ele fez. Até o bis, quando o público já implorava uma canjinha dos velhos tempos, foi a música tema que leva o mesmo nome do disco. Um letra dessas que grudam na cabeça, mas que não tem muito a dizer ("..ei ei, alma doidivana/ Doce devaneio/ Velho desatino/ Cena beatnik...")
Mas Lisboa é categórico e classifica o disco como uma "crítica do social". Em entrevista à Folha2, antes de se apresentar em Curitiba, ele contou que as letras buscam refletir sobre as questões sócio-geo-políticas que permeiam a sociedade nessa virada de século. "Meu texto está mais cru. É uma síntese do que eu tento fazer nesse tempo de carreira", revela. Para o compositor, se os discos anteriores ressaltavam uma experimentação tanto musical como de linguagem, em "Cena Beatnik" o trabalho está mais conciso.
As letras oscilam entre as boas, mas nem sempre originais sacadas ("Vale é o tanto quanto lavras/ A utilidade das palavras/O resto todo é protesto, como pretexto para um profile/ Um todo que não faz parte/ Onde a hipocrisia é uma arte/ E a honestidade is a bitch") mas sempre são Lisboa. Aquela voz gostosa de se ouvir em qualquer canto, até quando canta coro de qualidade duvidosa.
No show, ele toca com velhos parceiros, como Paulinho Spekóvia, no violão e guitarra, o baterista Mano Gomes e Zé Natálio no baixo. Uma confusão no material de divulgação fez com que muita gente acreditasse que o tecladista Luiz Mauro Filho era filho também no parentesco com Lisboa. "Mas de filho tenho só o meu cachorro", brinca o compositor.
Para gravar "Cena Beatnik" pela Acit ele deixou o trabalho com a informática no bureau que tinha montado em Porto Alegre para se dedicar apenas ao disco. Opina que é impossível conciliar os dois trabalhos: ‘A composição exige muito e tem um tempo próprio de criação’. Ele pretende realizar shows de lançamentos do disco ainda em território gaúcho, além de Santa Catarina e São Paulo. Depois disso, deve se dedicar ao próximo CD, com lançamento previsto para o ano que vem.
Lisboa adianta que vai começar a compor no verão e o novo disco será gravado também pela Acit, que com "Cena Beatnik" consolida o selo Antídoto. A gravadora retoma o trabalho de Lisboa depois de dezessete anos. Em 1984 havia lançado "Noves Fora". Depois disso, ele assinou contrato com a Emi Odeon, por onde gravou "Carecas da Jamaica" (1987) e "Hein". "Amém"(1983) saiu pela Som Livre e "Hi-Fi" (1998), pela Paradox. Resta esperar que o próximo trabalho, além de "criticar o social" traga também uma sonoridade mais apurada, própria da carreira de um dos bons nomes que vieram do Sul.